A hipertensão arterial tem elevada prevalência na população, acometendo um terço dos adultos. Nos Estados Unidos, seu seguimento é a principal razão para consultas médicas, excluindo gestantes. No entanto, a despeito do impacto negativo da doença em desfechos cardiovasculares – principal fator de risco para infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral isquêmico –, apenas 50% dos hipertensos atingem a meta terapêutica.
Entre as razões, está a dificuldade de aderência ao tratamento de uma doença crônica, quase sempre silenciosa. Nesse sentido, além da prescrição médica, é fundamental investir em estratégias para envolver pacientes no próprio cuidado.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia estimula o acompanhamento da pressão arterial no domicílio com aparelhos semiautomáticos, disseminados nos últimos anos, a fim de aumentar o engajamento. Uma metanálise demonstrou benefício dessa estratégia, entretanto eclodiram novos anseios em paralelo na população: o que fazer quando os valores estiverem elevados? Há risco no curto prazo?
A pressão arterial é um sinal vital. Apresenta variação circadiana, com queda fisiológica durante o sono, e varia de acordo com estímulos diversos, por exemplo, aumentando aos esforços físicos e estresse emocional. Mecanismos de autorregulação do fluxo sanguíneo para órgãos nobres garantem tolerância de altos níveis tensionais sem risco para a saúde no curto prazo. Nos hipertensos, esses limites são ainda maiores.
Veja também: ‘Os valores recomendados para controle da pressão arterial estão adequados?’
Medidas da pressão na vigência de sintomas devem ser interpretadas com cautela. Há uma grave inversão de causa e efeito entre leigos e até profissionais de saúde, que leva a uma obsessão estética pelo “doze por oito” e desvia a atenção do fator causal. Na quase totalidade desses casos, a elevação dos níveis tensionais é secundária ao quadro clínico.
Transtornos de ansiedade, com prevalência similar a hipertensão, frequentemente motivam esta aferição e cursam com picos hipertensivos. Por outro lado, são raras as condições médicas que justificam sua elevação abrupta associada a outras alterações clínicas, como o feocromocitoma.
Cair na prescrição S.O.S. pode ser um erro assistencial. Fomenta a automedicação abusiva e gera mais ansiedade. Urge esclarecer a população sobre a variabilidade da pressão arterial, valores adequados e sinais de alerta.
Referências:
- 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2016)
- Evidence-based guideline for the management of high blood pressure in adults: JNC 8 (2014)
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.