A fraqueza adquirida na UTI (ICU-acquired weakness – ICUAW) é uma complicação comum em pacientes críticos, especialmente após longas internações, resultando em perda muscular, prejuízo funcional e impacto na qualidade de vida e retorno ao trabalho. Fatores como imobilidade, inflamação e baixos níveis de hormônios anabólicos, como a testosterona, contribuem para esse quadro. A testosterona e seus derivados vêm sendo estudados por seus efeitos positivos na recuperação funcional, e a nandrolona— um anabolizante sintético com maior seletividade para efeitos miotrópicos e menor risco de efeitos androgênicos — mostra potencial terapêutico promissor, com maior relação anabólica:androgênica (13:1), inclusive com utilização em cenários como AIDS, DPOC e caquexia. Efeitos adversos relatados ocorrem majoritariamente com uso recreativo em doses supra-fisiológicas, e quando usada sob supervisão, os efeitos colaterais são raros e geralmente manejáveis.
Estudos recentes investigam o uso de análogos de testosterona, como a nandrolona e a oxandrolona, para melhorar a recuperação muscular em sobreviventes de UTI. O GAINS 2.0 é um ensaio clínico randomizado que está avaliando o efeito da nandrolona em pacientes adultos que se recuperam de doenças críticas, com o objetivo de melhorar a força muscular e a mobilidade. Este estudo é baseado em evidências anteriores que indicam que a nandrolona é segura e pode ser viável para melhorar a função física em pacientes pós-UTI.
Os anabolizantes, em adição aos cuidados habituais (reabilitação e suporte nutricional), podem, teoricamente, melhorar a força muscular e a recuperação funcional em adultos com fraqueza muscular decorrente de doença crítica, na fase de recuperação pós-UTI. A combinação de agentes anabólicos com nutrição adequada e exercício estruturado é considerada essencial para otimizar a massa muscular, força e função física em pacientes pós doença crítica.
Aplicabilidade prática
O estudo GAINS 2.0 busca responder a uma lacuna importante na reabilitação de pacientes críticos: a eficácia de suporte anabólico farmacológico como adjuvante à fisioterapia e nutrição. Se os resultados forem positivos, a nandrolona poderá ser considerada como uma opção viável para reduzir o tempo de recuperação, melhorar a força muscular e acelerar o retorno à funcionalidade plena após internações prolongadas. Além dos benefícios clínicos, espera-se impacto positivo em termos de redução de custos hospitalares.
Em resumo, estratégias anabólicas seguras, quando associadas à reabilitação precoce e nutrição adequada, podem transformar a abordagem da fraqueza pós-UTI, otimizando a recuperação funcional e reduzindo o impacto crônico da doença crítica.
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