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Saúde10 fevereiro 2022

Taxa de mortalidade de doenças negligenciadas aumenta durante pandemia, apesar da queda de internações

A pandemia de Covid-19 trouxe graves impactos no atendimento a pacientes com doenças tropicais negligenciadas (DTNs). Saiba mais.

Por Úrsula Neves

A pandemia de Covid-19 trouxe graves impactos no atendimento a pacientes com doenças tropicais negligenciadas (DTNs), registrando aumento nas taxas de mortalidade, apesar da queda de internações. 

Em 2020, a taxa de mortalidade para malária subiu 82,55%, apesar da queda de 29,3% nas internações. Enfermidades como a leishmaniose visceral e a leptospirose também registraram crescimento de mortalidade de 32,64% e 38,98%, respectivamente. Ao mesmo tempo, o número de internações por essas doenças diminuiu no período, com quedas de 32,87% e 43,59%. 

Por outro lado, a dengue registrou crescimento de 29,51% nas internações e de 14,26% na taxa de mortalidade. 

“O objetivo deste estudo foi saber como a ampliação da equidade no acesso promovida pela pandemia da Covid-19 pode impactar no perfil epidemiológico das doenças tropicais negligenciadas, reconhecendo assim os efeitos secundários que a pandemia pode causar na ocorrência de outras doenças endêmicas do Brasil”, explicou o epidemiologista e biólogo Stefan Vilges de Oliveira, doutor em Medicina Tropical, docente do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia e um dos autores do trabalho, juntamente com o seu aluno Nikolas Lisboa Coda Dias e o pesquisador Álvaro A. Faccini-Martínez, da Universidade de Córdoba, em entrevista ao Portal PEBMED.  

Os dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) durante os primeiros oito meses de 2020 foram comparados com os valores médios do mesmo período dos anos de 2017 a 2019. 

Segundo o estudo, a queda nas internações é consequência da pandemia, que fez com que as pessoas sentissem medo de procurarem assistência à saúde nesse período. 

doenças negligenciadas

Tuberculose 

De acordo com um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), divulgado em outubro do ano passado, os serviços de tuberculose estão entre os interrompidos pela pandemia em 2020. O impacto sobre essa doença foi particularmente grave e, em 2020, 1,5 milhão de indivíduos vieram a óbito de tuberculose no mundo. 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 4,1 milhões de pessoas sofrem atualmente de tuberculose, mas não foram diagnosticadas ou não notificaram oficialmente às autoridades de saúde. Em 2019, o número de pessoas afetadas por tuberculose chegava a 2,9 milhões. 

Doenças negligenciadas 

As doenças negligenciadas são infecciosas, muitas delas parasitárias, que afetam diretamente as populações mais pobres e com acesso limitado aos serviços de saúde, em especial indivíduos que vivem em áreas rurais remotas, em zonas de conflito e regiões de difícil acesso. 

Elas prosperam em áreas onde o acesso à água potável e saneamento é escasso, problemas agravados pelas mudanças climáticas. Segundo a OMS, enfrentar essas enfermidades requer abordagens intersetoriais e abordar a saúde mental associada e outras questões, como estigma e discriminação. 

Mundialmente, mais de 1,7 bilhão de pessoas sofrem com algum tipo de doença tropical negligenciada.

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Ainda de acordo com a OMS, essas enfermidades integram um grupo diversificado de 20 enfermidades prioritárias de origem parasitária, bacteriana, viral e fúngica, causando dor e incapacidade, criando consequências sociais, econômicas e para a saúde duradoura de toda a sociedade. 

“Como a pandemia impactou nos registros das doenças tropicais negligenciadas é possível que tenhamos uma demanda represada e ainda desconhecida. Em um cenário pós-pandemia, o serviço de saúde precisará superar ainda este desafio. Fortalecer a Atenção Primária em Saúde será essencial para essa tarefa”, concluiu o epidemiologista Stefan Oliveira.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED 

Referências bibliográficas:

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