Saúde18 março 2024
SXSW 2024: O SXSW como evento inspiracional
Sediado nos Estados Unidos, o congresso SXSW é considerado um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo.
Em meio à agitação e inovação que define o SXSW, presenciei o encontro entre arte e ciência, o que foi um tanto inspirador e simbólico como abertura do evento. No painel "Explore Space & Poetry With NASA & Poet Laureate Ada Limón", Ada Limón, laureada poetisa americana, e Lori Glaze, diretora da divisão de ciência planetária da NASA, discutem a relação entre ciência e arte, apresentando como plano de fundo a missão Europa Clipper da NASA. Missão que objetiva estudar as condições extremas em que pode-se existir vida no universo, e se essas condições estão presentes na lua de Júpiter Europa, composta de um grande oceano de água por baixo de uma grossa camada de gelo.
Contextualizando
Se você está se perguntando o que essa discussão tem a ver com o futuro da medicina, essa foi a exata pergunta que me fiz ao presenciar o painel, e num exercício reflexivo e contemplativo sobre os limites do conhecimento humano, nosso ímpeto pela curiosidade e nosso movimento como humanidade, me vi transportado para minhas primeiras aulas na faculdade de medicina, de volta ao longínquo ano de 2007. Afinal, medicina é ciência? Medicina é arte? Ou medicina é a união de ciência e arte? É incrível como poucas décadas depois, o avanço tecnológico nos obriga a se perguntar novamente o quanto de ciência e arte compõem a prática médica. Diria, inclusive, que essa reflexão, neste exato momento, faz ainda maior sentido. Começo essa discussão entre ciência e arte, pelo primeiro e talvez maior ponto de sobreposição, ambas nascem e se alimentam da curiosidade humana. Um terreno fértil que nos leva de volta à Missão Europa, nossa busca pela vida interplanetária, de um mundo de água a outro mundo de água, em uma jornada que desafia nossa compreensão sobre a vida e a existência. A dicotomia agora se apresenta: o avanço exponencial da inteligência artificial convive com nosso desejo por entender tanto a vida orgânica quanto a inorgânica. A arte, em sua imitação da ciência, reflete essa jornada. Ada Limón apresenta a plateia do evento seu poema que será enviado ao espaço junto à missão.O poema
Em suas próprias palavras, a poetisa evoca o poder dos poemas, que como sondas espaciais, exploram o cosmos do desconhecido, impelindo-nos a aceitar a vastidão da condição humana e nossa busca incessante por conexões. A medicina, por sua vez, flerta com a arte em seu cerne. A conexão humana, essencial na prática clínica, ecoa a poesia que só se anima quando compartilhada. E que maneira melhor de compartilharmos do que a arte do cuidado? Eis que surge a segunda dicotomia: a inteligência artificial promete aprofundar tal conexão, trazendo benefícios palpáveis que ressoam o espírito do cuidado e da presença atenta ao outro. Ao diminuir a carga de trabalho em tarefas meramente burocráticas, a inteligência artificial (IA) nos permite maior dedicação ao que é genuinamente humano, a conexão médico-paciente.Reflexão
Como médicos, estamos à beira de uma nova era, cada vez mais imersos na essência do que significa ser humano. Cabe a nós, no entanto, garantir que o uso da tecnologia siga nessa direção, e não seja meramente utilizada para aumento da produtividade médica a despeito da qualidade da assistência. Diante do futuro, a escolha fácil seria ceder ao pessimismo e encarar a IA como um avanço que ameaça a profissão médica. No entanto, desafiador e mais gratificante é nutrir esperança, desenvolver uma visão coletiva dos futuros possíveis e idealizar que a tecnologia nos torne mais humanos. Esse é o espírito do SXSW: uma sinfonia de ideias e inspirações, uma celebração da intersecção entre o humano, a tecnologia e a expressão criativa. É o reflexo de um amanhã que estamos criando hoje. Nos próximos dias, trarei para o Portal Afya as principais novidades, os highlights das principais palestras, e, principalmente, buscarei linkar esses highlights com o futuro da medicina.Anúncio
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