Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.
A infecção hospitalar é uma das maiores causas de morbimortalidade de pacientes pós cirúrgicos internados além de aumentar muito o tempo e consequentemente o custo de cada internação do paciente. Estima-se que uma infecção no sítio cirúrgico aumente em até 10 dias o tempo de internação de cada paciente e em U$25 mil por paciente tratado.
As cefalosporinas de 1ª geração são a classe antibiótico mais usada na profilaxia cirúrgica, mas há dúvidas se são seguras em pacientes com alergia à penicilina: essa é uma grande dúvida para a maioria dos anestesistas quando se deparam com pacientes alérgicos a penicilina. Com medo da reação cruzada entre as duas medicações, muitos médicos preferem não correr o risco.
A penicilina e a cefalosporina fazem parte da mesma família de antibióticos, os beta-lactâmicos e possuem uma estrutura física semelhante porém não igual, onde as duas substâncias compartilham a mesma cadeia R1 e mesma cadeia do anel betalactâmico.
As cefalosporinas de 1ª geração (cefazolina) são o antibiótico de primeira escolha para a profilaxia de infecções pós operatórias pelo espectro bacteriano que atingem (gram positivos de pele), além de ser de baixo custo e de fácil administração. Nos pacientes alérgicos, as outras opções são a Clindamicina e Vancomicina. Ambas têm maior custo, administração mais lenta e estão relacionadas a mais chances de complicações, como colite pseudomembranosa e nefrotoxicidade.
De acordo com estudos atuais-Anestesia e Analgesia 2018-Misconceptions surrounding Penicilin Allergy-Implications for Anesthesiologists, não há evidências atuais que contra indiquem absolutamente a administração de Cefazolina em paciente alérgicos a penicilina. Apesar de estruturalmente parecidos, não há no presente estudo clínico nada que comprove incidência alta de reação cruzada. Alguns grupos de alergistas recomendam o teste cutâneo de alergia à penicilina, sendo o teste negativo uma segurança para uso de cefalosporina. Essa posição é controversa e não há estudos conclusivos ainda.
Leia mais: Pacientes com alergia à penicilina têm o dobro de risco de infecção de sítio cirúrgico
Estatisticamente falando, atualmente ocorre uma incidência de 2% de reações cruzadas entre penicilina e cefalosporina, sendo os maiores casos em relação as aminocefalosporinas (40%). Em se tratando das cefazolinas, que são as cefalosporinas comumente utilizadas para profilaxia em sítio cirúrgico, esse risco de reação cruzada é baixíssimo (em torno de 1%). Isso se deve ao fato de que as aminoscefalosporinas são mais estruturalmente semelhantes as penicilinas pois compartilham além do anel B- lactâmico as mesmas cadeias R1 comuns as penicilinas. O que difere das Cefazolinas que possuem apenas uma cadeia lateral levando a baixa risco de reação cruzada.
Vale ressaltar que a reação alérgica as Penicilinas propriamente dita é mediada imunologicamnete pelas IgE e apresenta sinais e sintomas ricos e graves como prurido, urticária, flush, angioedema, edema de laringe, bronccoespasmo podendo levar a choque e morte. Esses efeitos diferem dos efeitos secundários tardios que não tem ação mediada imunologicamente, como Síndrome de Stevens Johnson, necrólise epidérmica tóxica e endovasculite induzida.
Qual a mensagem para a prática clínica?
Quando a história é de alergia grave à penicilina mediada por IgE, como anafilaxia, está contra indicado o uso de Cefalosporina de qualquer geração. Nos demais casos, a cefazolina pode ser usada como profilaxia cirúrgica.
É médico e quer ser colunista do Portal da PEBMED? Inscreva-se aqui!
Referências:
- Anestesia e Analgesia 2018-DOI 10.123:ANE
- JAMA. 2019;321(2):188-199. doi:10.1001/jama.2018.19283
- Immunol Allergy Clin N Am 37 (2017) 643–662
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.