Pesquisadores do Laboratório de Inflamação e Biomarcadores, do Instituto Gonçalo Moniz, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Bahia), identificaram uma nova linhagem do zika vírus circulando no país desde o ano passado.
Essa descoberta serve de alerta de saúde pública, pois significa a possibilidade de uma nova epidemia da arbovirose no Brasil. Os resultados foram publicados no dia 1º de junho no International Journal of Infectious Diseases.
De acordo com o Boletim Epidemiológico número 24, referente ao mês de junho deste ano, divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, das principais arboviroses que circulam atualmente no Brasil, a zika tem sido a com menor número de casos em 2020.
Neste ano foram notificados 3.692 casos prováveis de zika vírus, em comparação aos 47.105 casos prováveis de chikungunya e 823.738 casos prováveis de dengue.
Monitoramento genético
Esta importante descoberta foi possível graças a uma ferramenta de monitoramento genético desenvolvida pelo grupo de pesquisadores vinculados as seguintes instituições de ensino: Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, ao Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC); a Universidade de Salvador (Unifacs) e a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).
A ferramenta analisa sequências disponíveis em banco de dados públicos de diversos países. E essa descoberta foi realizada justamente quando os responsáveis pela pesquisa estavam analisando as linhagens de zika vírus presentes em bases de dados do National Center for Biotechnology Information (NCBI – Centro Nacional de Informação Biotecnológica), nos Estados Unidos.
“Observamos uma variação de subtipos e linhagens durante os anos, sendo que em 2019 há o aparecimento, mesmo que pequeno, de uma linhagem que até então não era encontrada circulando no país”, explica o pesquisador da plataforma de Bioinformática do Cidacs, Artur TL Queiroz, um dos líderes do estudo.
Identificação
Foram analisadas 248 sequências brasileiras submetidas à base de dados desde 2015. Até 2018, os dados genéticos encontrados eram predominantemente cambojanos (mais de 90%). Entretanto, essa proporção mudou radicalmente em 2019, quando o subtipo vindo dos Estados Federados da Micronésia, um país na Oceania, passou a ser responsável por 89,2% das sequências submetidas ao banco genético.
Porém, a maior surpresa durante a análise veio da identificação do tipo africano, até então inexistente no Brasil. Segundo o estudo, a linhagem africana foi isolada em duas regiões diferentes do Brasil: no Sul, vindo do Rio Grande do Sul, e no Sudeste, do Rio de Janeiro.
A distância geográfica e a diferença de hospedeiros – uma amostra foi encontrada em um mosquito “primo” do Aedes aegypt, o Aedes albopictus, e outra em uma espécie de macaco – sugerem que essa linhagem já está circulando no país há algum tempo.
Veja mais: Zika: o que mudou em relação à infecção congênita e seguimento pré-natal?
Os pesquisadores alertam para o potencial epidêmico desta nova linhagem, uma vez que a maior parte da população brasileira ainda não adquiriu anticorpos para essa linhagem do vírus.
“Atualmente, com as atenções voltadas para a Covid-19, este estudo serve de alerta para não nos esquecermos de outras doenças, em especial a zika. A realização de estudos genéticos deve continuar para evitarmos um novo surto, agora com o novo genótipo circulante”, reforça Larissa Catharina Costa, uma das autoras do estudo.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-identifica-circulacao-de-nova-linhagem-da-zika-no-brasil
- https://www.ijidonline.com/article/S1201-9712(20)30397-0/fulltext
- https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/June/16/Boletim-epidemiologico-SVS-24-final.pdf
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.