Novo relatório lançado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) destacou que doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e as condições de saúde mental custarão à América do Sul mais de 7.3 trilhões em produtividade perdida e gastos com saúde até 2050. Esse valor – equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) anual de toda América Latina e Caribe – é um alerta para uma emergência econômica e sanitária e destaca a necessidade de ações urgentes para prevenção de doenças e para o incentivo ao desenvolvimento.
A publicação da OPAS, “Major Storm on the horizon: Health and macroeconomic burdens of noncommunicable diseases and mental health conditions in South America”, apresenta uma análise crítica da crescente crise das doenças crônicas não transmissíveis e dos transtornos de saúde mental na América do Sul, além de projetar qual será o impacto dessas condições nas economias de subregiões. A pesquisa teve o apoio da Harvard T.H. Chan School of Public Health e apresenta projeções macroeconômicas detalhadas acerca das doenças crônicas e da saúde mental em 10 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
As doenças crônicas não transmissíveis eram responsáveis por 74% das mortes globais antes da pandemia do COVID-19, com destaque para a América do Sul, onde as DCNTs e os transtornos de saúde mental eram responsáveis por 77% dos óbitos. Atualmente, as DCNTs são as principais causas de morte nas Américas, sendo responsáveis por 6 milhões de vidas perdidas em 2021, nas quais 40% foram pessoas com menos de 70 anos. As doenças cardiovasculares e o câncer foram responsáveis por pelos menos metade dessas mortes.
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Uma ameaça econômica e sanitária
As perdas econômicas por doenças crônicas e transtornos mentais na América do Sul são impulsionadas principalmente pelas mortes prematuras, incapacidade por longo prazo e diminuição da produtividade. Os gastos individuais por país projetados de 2020-2050 vão de US$ 88 bilhões no Uruguai para US$ 3.7 trilhões no Brasil, e representam mais de 4.5% do PIB de alguns países.
De modo geral, a perda total do PIB devido às DCNTs na América do Sul chega a US$ 7,3 trilhões no período de 2020 a 2050. Esse valor equivale a 4% do PIB total da região, ou seja, se as DCNTs fossem eliminadas, o PIB anual seria cerca de 4% mais alto a cada ano durante 30 anos.
Segundo David E Bloom, professor de economia e demografia na Harvard T.H. Chan School of Public Health e autor principal da pesquisa, o objetivo central do relatório é fornecer evidências para que os líderes da América do Sul possam se dedicar a transformações nos orçamentos de saúde.
A pesquisa ainda mostrou que o aumento dessas condições está relacionado ao envelhecimento populacional e à alta exposição à fatores de risco como tabagismo, sedentarismo, consumo de álcool, poluição do ar e dietas não saudáveis.
A obesidade, um dos fatores de risco, chama a atenção pelo rápido crescimento. Desde 2000, a obesidade nas Américas aumentou em 67.5% e a diabetes em 53.6%. Diante disso, cerca de 67.5% de adultos na região estão obesos.
Progresso e ações a serem feitas
Apesar das projeções preocupantes, alguns avanços já foram feitos, especialmente com a redução da mortalidade por doenças cardiovasculares e câncer desde 2000, graças às políticas de intervenção. A HEARTS, iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde implementada em 33 países, já ajudou mais de 5.7 milhões de pessoas a cuidarem da hipertensão através da atenção primária.
No entanto, o relatório alerta que os países precisam continuar realizando ações de intervenção, principalmente em três áreas especificas:
- Prevenção: Enfrentar os principais fatores de risco como o tabagismo e o sedentarismo;
- Diagnóstico precoce e tratamento: Aprimorar os sistemas de saúde que realizam diagnósticos precoces;
- Financiamento e compromisso: Priorizar as doenças crônicas não transmissíveis e as condições de saúde mental nos investimentos em saúde. Além disso, implementar políticas fiscais como taxação do tabaco e álcool.
O diretor da OPAS, Dr. Jarbas Barbosa, afirma: “Dietas saudáveis e atividades físicas regulares são remédios para as DCNTs. […] Podemos prevenir 40% dos cânceres ao reduzir o uso do tabaco e promover um estilo de vida saudável.”
Atualmente, apenas 36% das pessoas com hipertensão têm a condição sob controle e somente 58% das pessoas com diabetes têm acesso a tratamento eficaz. Diante desses dados, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) vem se dedicando a ampliar o acesso a medicamentos e diagnósticos e a fortalecer os sistemas de saúde.
Para isso, a OPAS realizará a Quarta reunião de Alto Nível sobre DCNTs e Saúde Mental, que acontecerá em setembro durante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Esse evento representa a possiblidade de renovação de compromisso com as melhorias em saúde por parte dos governos, da sociedade civil, do setor privado e da academia.
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