O relatório “From loneliness to social connection: charting a path to healthier societies” divulgado na última semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou os riscos da solidão e do isolamento para a saúde. O documento mostrou que, entre 2014 e 2023, 1 em 6 pessoas se sentiam sozinhas, e a solidão estaria ligada a 871 mil mortes por ano.
A OMS faz um alerta para a importância dos laços sociais para a saúde e os riscos que o isolamento social traz, tais como doenças cardíacas, infarto, depressão e ansiedade. A pandemia de covid-19 foi um marco nas questões das relações sociais, após os isolamentos e restrições obrigatórias, a necessidade de interação aumentou e o avanço da tecnologia trouxe uma nova preocupação acerca dos impactos da interação social na saúde mental.
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“Neste relatório, revelamos a solidão e o isolamento como um dos grandes desafios do nosso tempo. A Comissão apresenta um roteiro de como podemos construir vidas mais conectadas e destaca o profundo impacto que isso pode ter na saúde, na educação e na economia”, afirmou o Dr. Vivek Murthy, copresidente da Comissão da OMS sobre Conexão Social e ex-Cirurgião-Geral dos Estados Unidos.
Segundo a OMS, a interação social é a forma pela qual as pessoas se relacionam entre si. Já a solidão é descrita como um sentimento doloroso que surge de uma lacuna entre as conexões sociais desejadas e as reais, enquanto o isolamento é a falta de interações sociais.
Causas de solidão e isolamento social
A solidão afeta pessoas de todas as idades, mas especialmente os mais jovens e aqueles que vivem em países de média e baixa renda. Jovens entre 13 e 29 anos são os que se sentem mais solitários, com uma média entre 17% e 21% mundialmente, com níveis maiores em adolescentes. Em países de baixa renda, 24% das pessoas se sentem sozinhas, o equivalente ao dobro da quantidade em países de renda alta (11%).
Segundo Chido Mpemba, copresidente da Comissão da OMS sobre Conexão Social e assessora do presidente da União Africana, ainda que estejamos vivendo em um mundo digitalmente conectado, muitos jovens se sentem sozinhos. “À medida que a tecnologia transforma nossas vidas, precisamos garantir que ela fortaleça — e não enfraqueça — a conexão humana. Nosso relatório mostra que a conexão social deve estar integrada em todas as políticas — do acesso digital à saúde, educação e emprego.”, destacou a copresidente.
Embora os dados sobre isolamento social sejam limitados, estima-se que ele afete 1 em cada 3 idosos e 1 em cada 4 adolescentes. Pessoas com deficiência, refugiados, indivíduos LBGTQ+ e povos indígenas podem enfrentar discriminação e barreiras adicionais que dificultam ainda mais a interação social.
As causas da solidão e do isolamento social são múltiplas, e incluem problemas de saúde, baixa renda e escolaridade, personalidade, políticas públicas frágeis e uso de meios digitais. O relatório da OMS destaca que é preciso dar atenção especial aos efeitos do excesso de tempo de uso de telas ou interações negativas online, já que essas ações podem causar danos à saúde mental e ao bem-estar de jovens.
Impactos na prevenção de doenças
A interação social é essencial, tanto para viver uma vida saudável quanto para se ter um bom desempenho na escola ou no trabalho. O relatório destaca que uma conexão social saudável pode reduzir os riscos de problemas de saúde, prevenir mortes precoces, promover a saúde mental e contribuir para sociedades mais seguras e prósperas.
Por outro lado, o isolamento social pode levar à depressão, ansiedade e pode aumentar os riscos de infarto, doenças cardíacas, diabetes, declínio cognitivo e morte prematura. O estudo destaca que pessoas que se sentem solitárias têm o dobro de chances de desenvolver depressão.
Os impactos se estendem para as áreas de aprendizagem e mercado de trabalho. Os dados mostram que adolescentes que se sentem sozinhos têm 22% mais chances de obter notas baixas. Já adultos que se sentem solitários acabam tendo mais dificuldade de encontrar ou se manter em um emprego.
Veja também: Solidão é questão de saúde pública, aponta Comissão de Conexão Social da OMS
Como reforçar as conexões sociais nas sociedades?
O relatório da OMS destaca um plano de ação com 5 áreas mais importantes: políticas públicas, pesquisa, intervenção, medidas de avaliação (com dados) e engajamento público com o objetivo de fortalecer um movimento global em prol das conexões sociais.
Existem soluções para reduzir a solidão e o isolamento social que vão desde ações para conscientização da população, promoção de infraestrutura social como parques públicos até a oferta de tratamentos psicológicos.
Pequenas ações também fazem a diferença como ligar para um amigo que está passando por dificuldades, evitar o uso do celular em encontros sociais, participar de um grupo, como um clube do livro ou de jogo, entre outros. Caso o problema for mais sério, é importante buscar apoio e serviços psicológico para pessoas que se sentem solitárias.
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