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Sabe aquele paciente que vem repetidas vezes ao consultório com queixa de dores em determinada região do corpo, que não melhoram com medicação e os exames, na maioria das vezes, estão normais? Eles podem estar sofrendo com a síndrome dolorosa miofascial.
A musculatura estriada esquelética corresponde a cerca de 50% do peso corporal e é o primeiro alvo da sobrecarga das atividades de vida diária. Muitas vezes, os músculos são esquecidos como a fonte causal de dor.
Os pontos-gatilhos (PGs) miofasciais são extremamente comuns e, em um momento ou outro, tornam-se uma parte dolorosa da vida das pessoas. As cervicobraquialgias e lombalgias são as mais vistas. O custo total com consultas, medicações e tratamentos é incalculável.
O que é PG?
Os PGs consistem em uma disfunção focal dentro do músculo, onde a fibra muscular está contraída ao máximo (“nó de contração”).
Os fatores que desencadeiam os PGs são a sobrecarga e fadiga muscular, devido excesso de trabalho e traumas locais. Com isso, é gerado um processo anormal de liberação de acetilcolina na placa mioneural, com despolarização sustentada e consequentemente encurtamento dos sarcômeros.
Esse fato aumenta a demanda de energia local, e ao mesmo tempo, comprime os vasos sanguíneos locais, reduzindo os suprimentos de oxigênio e nutrientes, além de liberar substâncias nociceptivas, as quais contribuem para a liberação de mais acetilcolina no terminal nervoso.
Chamamos isso de crise energética local, que consiste em um ciclo vicioso autossustentado.
Qual é o quadro clínico?
Como consequência, surge a dor – constante, em peso ou queimação, mal localizada, regional ou referida, a qual pode vir acompanhada de diminuição de amplitude de movimento articular, tensão muscular, paresia, disestesias e paniculose.
Como é o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico. Exames como eletroneuromiografia e termografia são capazes de avaliar os PGs, mas são pouco utilizados na prática clínica.
É importante realizar uma completa anamnese da dor, bem como perguntar sobre os fatores que desencadeiam e perpetuam a dor – alterações de sono, humor, erros posturais nas tarefas do cotidiano e trabalho, falta de atividade física, erros alimentares, doenças clínicas mal controladas.
Leia mais: Fibromialgia: quais benefícios de exercícios físicos no controle da dor?
Como diagnósticos diferenciais, temos que lembrar da fibromialgia, afecções osteoarticulares e neurológicas. Estas podem estar associadas ao quadro de dor miofascial.
É necessário examinar?
O exame físico é imprescindível e complementa a anamnese. Deve-se realizar o exame ortopédico do local acometido, avaliar amplitude de movimento e alinhamento articular, exame neurológico de força, sensibilidade superficial e reflexos, e depois realizar a palpação.
Com a palpação plana muscular, procuramos a banda tensa (“cordão de tensão”) e nela, o PG. Os PGs ativos são identificados quando, ao aplicarmos a pressão com o dedo, é reproduzida “a dor que paciente possui”. Durante a palpação, pode ocorrer uma reação contrátil (“twitch”) ou “sinal do pulo” – reação de retirada a palpação dos nódulos.
A partir disso, e sabendo dos padrões de dor referida de cada músculo, conseguimos fazer o diagnóstico.
Como tratar?
O tratamento efetivo envolve aplicação de um procedimento para desativar os PGs, associado a correção dos fatores desencadeantes e perpetuantes da dor.
Entre as técnicas utilizadas para liberação miofascial estão: agulhamento-seco, infiltração com anestésico, alongamentos com spray congelante, massagens com pressão, termoterapia por adição ou eletroterapia.
Após a desativação, é necessário orientar ações corretivas: programa de exercícios, alongamentos e ergonomia nas tarefas do cotidiano, para que os PGs não retornem.
A necessidade de medicação – analgésicos simples ou relaxantes musculares – deve ser muito bem avaliada, geralmente é indicada até eliminação dos fatores desencadeantes e perpetuantes. Contudo, em casos de dores crônicas – superiores a 3 meses – são necessárias medicações de ação em Sistema Nervoso Central.
É importante esclarecer ao paciente sobre o diagnóstico, realizar educação em saúde e estimular uma posição ativa em relação ao seu tratamento. Dessa forma, com uma boa relação médico-paciente e coparticipação a melhora da síndrome é certa.
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Referências:
- Simons D, Travell J, Simons P. Travell & Simons’ myofascial pain & dysfunction: the trigger point manual. Baltimore: Williams & Wilkins; 1999.
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