Espondiloartrites: estudo avalia a prevalência do HLA-B27 na população brasileira
Foi conduzido um estudo em pacientes saudáveis para avaliar qual a prevalência do HLA-B27 em nossa população.
As espondiloartrites são um grupo de doenças inflamatórias que possuem o acometimento do esqueleto axial, o acometimento multissistêmico (especialmente musculoesquelético, ocular, cutâneo e gastrointestinal) e positividade para o HLA-B27 como características em comum.
A relação entre a presença de HLA-B27 e a ocorrência de espondiloartrite axial é conhecida desde 1973. Sabemos que os portadores desse alelo do MHC classe I encontram-se em risco aumentado para o desenvolvimento de espondiloartrites (com uma razão de chances >50, dependendo da coorte analisada).
Nos grandes estudos populacionais em caucasianos ao redor do mundo, a positividade para o HLA-B27 gira em torno de 8% e 14%. No entanto, a frequência desse gene na população brasileira é desconhecida, especialmente em decorrência do seu alto grau de miscigenação.
Nesse sentido, Resende et al. conduziram um estudo em pacientes saudáveis para avaliar qual a prevalência do HLA-B27 em nossa população.
Doctor radiologist looking at x-ray imagesMétodos
Foi realizado um estudo ecológico utilizando o Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). O percentual de positividade para o HLA-B27 foi registrado pelos pesquisadores.
O REDOME é atualmente o terceiro maior registro de doadores de medula óssea no mundo e é custeado pelo Ministério da Saúde (coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer – INCA). Foram analisados pacientes com 18 a 60 anos de idade.
Resultados
De 1994 a 2022, foram incluídos dados de 5.389.143 indivíduos saudáveis cadastrados como potenciais doadores de medula óssea. Desses, 57,2% eram mulheres, com idade média de 41,7 anos. De todos os pacientes incluídos, 60,1% eram brancos, 7,8% pretos, 28,2% pardos, 3,5% amarelos e 0,4% indígenas. Com relação à região em que viviam, 7,2% eram do Norte, 18,8% do Nordeste, 42,8% do Sudeste, 10% do Centro-Oeste e 21,2% do Sul.
A prevalência de HLA-B27 encontrada foi de 4,35% (IC95% 4,32–4,37%), independente do sexo (4,3% nos homens e 4,4% nas mulheres). A distribuição de acordo com cor foi: 4,85% nos brancos, 2,92% nos pretos, 3,76% nos pardos, 3,95% nos amarelos e 3,18% nos indígenas. E de acordo com a região foi: 3,62% no Norte, 3,63% no Nordeste, 4,29% no Sudeste, 4,50% no Centro-Oeste e 5,25% no Sul.
Veja: Lombalgia crônica – avaliação para espondiloartrite [vídeo]
Comentários
Esse é o primeiro estudo a avaliar a positividade para o HLA-B27 em uma amostra enorme de brasileiros saudáveis.
Em um estudo prévio do Registro Brasileiro de Espondiloartrites (RBE), foi encontrado que a população da região Sul do Brasil apresentou maior frequência de manifestações axiais, enquanto que a população do Norte apresentavam uma maior chance de acometimento periférico. Com esses novos dados, é possível supor que esse fenótipo diferente se deve a uma diferença na distribuição do HLA-B27 nessas populações (lembrando que ele se associa com um maior acometimento axial).
Esse tipo de estudo ainda pode auxiliar nas tomadas de decisões em termos de saúde pública, fornecendo subsídios para os gestores no momento de decisão de prioridades de alocação de recursos.
ACR 2022: Artrite reumatoide, espondiloartrites, lúpus, esclerose e miopatias
No entanto, vale destacar que esse estudo avaliou apenas indivíduos saudáveis. Dessa maneira, esses dados não devem ser extrapolados para as populações de alta probabilidade pré-teste de espondiloartrites (com queixas compatíveis com esse grupo de doenças).
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.