Qual a melhor estratégia de rastreamento populacional do câncer colorretal?
O câncer colorretal situa-se no grupo das 5 malignidades mais prevalentes em todo o mundo, ao lado do câncer de pele, mama, próstata e pulmão. Dessa forma, o rastreamento populacional é justificável sob a perspectiva epidemiológica.
Os programas de saúde pública, contudo, devem passar pelo crivo da custo-efetividade, visando contemplar de forma sustentável, sob o aspecto logístico e financeiro, a maioria da população.
No Brasil, o rastreamento para a população geral contempla a faixa etária entre 45 e 75 anos, montante que, em conformidade com os dados do IBGE de 2022, corresponde a mais de 55 milhões de indivíduos.
IBGE: Censo brasileiro de 2022.
Dessa forma, ofertar colonoscopia seriada e universal torna-se um desafio extremo, pois supera a nossa capacidade de execução de exames e esbarra em questões orçamentárias, especialmente no âmbito do SUS, mas sem poupar o sistema suplementar de saúde.
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Sob a óptica da saúde pública, não basta olharmos a performance dos métodos de rastreamento de forma isolada, mas sim o enquadramento de cada um deles com base em sua disponibilidade, complexidade e custos.
Com essas ressalvas em mente, entendemos porque a pesquisa de sangue oculto nas fezes, por exemplo, não deve ser vista como um método obsoleto a ser abandonado.
Os principais métodos de rastreamento atuais incluem o FIT (teste imuno-histoquímico fecal), pesquisa de sangue oculto nas fezes (guaico, que deve ser evitado por sua inacurácia), teste de DNA fecal (com alta performance, mas indisponível no SUS), colonoscopia, retossigmoidoscopia flexível e colonoscopia virtual.
Imagem de freepikAnálise recente sobre rastreamento populacional do câncer colorretal
Em um estudo publicado em maio de 2024 na Gastroenterology, Schootbrugge-Vandermeer e colaboradores analisaram a relação de custo-efetividade de diferentes estratégias para o rastreamento do câncer colorretal na Holanda, onde o programa nacional oferece o teste FIT a cada 2 anos para as pessoas entre 55 e 75 anos.
Os pesquisadores investigaram se iniciar o rareamento mais precocemente ou estendê-lo para idades mais avançadas seria mais vantajoso. O argumento para o rastreamento da população mais jovem é pautado no aumento progressivo da prevalência do câncer colorretal entre indivíduos com menos de 50 anos. Por outro lado, a ampliação para além dos 75 anos se baseia na expectativa de vida crescente e no fator idade como importante fator de risco para o seu desenvolvimento.
Utilizando um modelo de simulação, analisaram 588 estratégias variando a idade inicial e final do rastreamento (50 a 58 anos para o início vs. 70 a 80 anos para o término), intervalo dos testes (1, 2 ou 3 anos) e a sensibilidade do FIT (positividade com base nos valores de 15, 20, 47 ou 60 μg de hemoglobina/g de fezes).
Os resultados demonstraram que, naquela população, ampliar a idade final do rastreamento para além dos 75 anos seria mais benéfico do que reduzi-la para menos do que 55 anos. Isso se deve principalmente à alta expectativa de vida dos holandeses, menor risco relativo de câncer colorretal entre os jovens e consequente menor impacto do teste FIT nessa faixa etária.
O estudo também identificou que todas as estratégias eficientes utilizaram o menor limite de detecção do FIT (15 μg de hemoglobina/g de fezes). Em situações com disponibilidade limitada de colonoscopia, um ponto de corte maior pode ser combinado com intervalos maiores entre os testes.
Apesar das limitações do modelo, os autores concluíram que a discussão sobre a idade ideal para o rastreamento de CCR não deve se concentrar apenas na redução do início, como foi realizado no Brasil ao reduzi-la de 50 para 45 anos. Aumentar a idade final também deve ser considerado, especialmente com o aumento da expectativa de vida, sempre levando-se em conta o status-performance e comorbidades do indivíduo.
Conclusão e mensagens práticas
- O câncer colorretal configura no grupo das 5 malignidades mais prevalentes em todo o mundo.
- Os programas de rastreamento populacional se fazem necessários com o intuito de redução da morbimortalidade.
- A faixa etária contemplada no Brasil situa-se entre 45 a 75 anos.
- A colonoscopia, método de maior acurácia, não pode ser ofertada de forma universal, tendo em vista questões logísticas e financeiras, além de se tratar de um método invasivo e que implica em dias improdutivos do aspecto laborativo.
- Um estudo holandês demonstrou que uma boa estratégia, em termos de custo-efetividade, é o ofertar teste imuno-histoquímico fecal (FIT) para indivíduos entre 50 e 80 anos, com ponto de corte de positividade ao método de 15 μg de hemoglobina/g de fezes. Contudo, os métodos e pontos de corte não podem ser automaticamente reproduzidos no Brasil, sendo necessários estudos que contemplem a nossa população.
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