Queimadas e inalação de fumaça: o que você precisa saber para um bom atendimento
As queimadas ocorrem por uma combinação de fatores de cunho natural e humano. Nessa época do ano, quando há o período de estiagem no Brasil, a incidência de incêndios em florestas é elevada, provocando diversas consequências de impacto não só no meio ambiente como também na saúde humana.
A fumaça emitida nesses eventos é rica em poluentes como material particulado fino (PM2.5), compostos orgânicos voláteis (COV) e gases tóxicos (monóxido de carbono, ozônio e óxido nítrico), os quais em conjunto deterioram a qualidade do ar e prejudicam de sobremaneira a humanidade.
E quais são as consequências?
Do ponto de vista respiratório, o impacto é imediato. Ar de baixa qualidade é responsável por exacerbar doenças crônicas como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Ademais, a inalação de grande quantidade de monóxido de carbono pode levar à cefaleia e à vertigem, prejudicando imediatamente quem é exposto. O tamanho da partícula inalada determina o local de depósito no sistema respiratório. As partículas de 5 a 30µm de diâmetro se deposita nas vias aéreas superiores, enquanto as de 1 a 5µm, permanecem nas vias aéreas proximais. As menores de 1µm são capazes de atingir os alvéolos. O depósito desses componentes leva à disfunção mucociliar e à inflamação crônica, o que favorece à infecção pulmonar recorrente.
Além disso, a exposição prolongada contribui para o risco de câncer de pulmão. A exposição às partículas finas e gases tóxicos é tão impactante à nível pulmonar que, depois do 11 de setembro, foi criado o fundo James Zadroga nos Estados Unidos para auxiliar pessoas com sequelas de exposição à fumaça e outros detritos. James foi um policial novaiorquino que faleceu por complicações respiratórias derivadas da exposição às partículas e aos gases decorrentes do atentado.
Impacto sistêmico cardiovascular, dermatológico e oftalmológico
As complicações na saúde não se restringem ao pulmão. Ao contrário, os efeitos são sistêmicos. Do ponto de vista cardiovascular, a inalação de fumaça em demasia leva ao risco aumentado de infarto, insuficiência cardíaca e pode provocar picos hipertensivos. Na pele, há dermatite e eczema, além de conjuntivite química. Não é incomum, nesse cenário, ocorrer também um aumento no número de infecções respiratórias e de gastroenterites, sendo especialmente danoso para os extremos de idade.
De fato, existe uma relação de temporalidade e de grau de exposição. Ou seja, quanto maior o tempo exposto e maior a carga de poluentes, piores são as consequências para saúde e para a população.
Medidas importantes para redução de danos
Para reduzir o impacto na saúde, algumas medidas podem ser realizadas:
- Evitar ao máximo a exposição: ou seja, permanecer dentro de estabelecimentos e das residências;
- Se possível, a utilização de filtro e ar-condicionado com recirculação reduzem a quantidade de partículas no ambiente interno. Nesse período, é fundamental reduzir as atividades externas, sendo importante que haja medidas governamentais para minimizar a circulação de pessoas e de veículos;
- Se for inevitável a exposição, utilizar máscaras, como N95 e P100, que mitigam ao máximo a inalação de partículas finas.
Viver é respirar e o ar que se respira é primordial para saúde de uma população. São urgentes medidas de saúde pública que enderecem ações para controle de poluição e que contenham ou minimizem as sequelas desse período tão nebuloso no Brasil, literalmente.
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