Pneumonia eosinofílica é considerado um evento adverso raro, associado à administração de diversos medicamentos, tais como antimicrobianos e anti-inflamatórios. Dentre os primeiros, a daptomicina parece ter um papel importante, mas a caracterização desses casos continua limitada.
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Outros antibióticos com ação anti-MRSA, como vancomicina, linezolida e teicoplanina, também já foram implicados no desenvolvimento de pneumonia eosinofílica, mas os dados clínicos e em relação à fisiopatologia desse processo são escassos na literatura. Um estudo utilizando dados de farmacovigilância procurou investigar a ocorrência de pneumonia eosinofílica induzida por agentes anti-MRSA.
Materiais e métodos
Trata-se de um estudo retrospectivo, de dados secundários, utilizando a base de dados FAERS (US Food and Drug Administration Adverse Event Reporting System), em que eventos adversos ocorridos ao redor do mundo podem ser relatados de forma espontânea. O período analisado foi de 2012 a 2022. Registros duplicados foram excluídos e, a partir dos registros remanescentes, outro banco de dados foi construído com a exclusão dos casos em que estavam ausentes informações de idade, sexo ou IMC, e em que havia registro de idade (> 130 anos) ou peso (> 300 kg) anormais.
Os agentes anti-MRSA avaliados no estudo foram daptomicina, vancomicina, linezolida e teicoplanina. Para vancomicina e linezolida, somente o uso da formulação intravenosa foi considerado. A análise estatística utilizou como uma das ferramentas a análise de desproporcionalidade, uma técnica utilizada em estudos de farmacovigilância que procura quantificar o caráter inesperado do número de notificações para pares específicos de evento adverso/medicamento.
Resultados
Após exclusão de casos duplicados, foram identificados 20.099 casos de pneumonia eosinofílica na base de dados original e 2.579 na base de dados completa. Nessa última, 4 casos foram associados ao uso de agentes anti-MRSA.
Na análise estatística, somente daptomicina foi encontrada como tendo sinal na análise de desproporcionalidade, o que se manteve após ajuste para idade, sexo, peso e agentes anti-MRSA concomitantes, e nas análises de sensibilidade.
Os eventos adversos relacionados à daptomicina foram classificados em dois grupos: pneumonia eosinofílica (n = 94) e outros eventos adversos (n = 711). Os casos de pneumonia eosinofílica, em comparação com outros eventos adversos, foram caracterizados por maior proporção de homens, indivíduos mais velhos e maior tempo de administração de daptomicina. Dose, desfechos e indicações para daptomicina não foram diferentes entre os grupos.
A mediana de tempo para início do evento adverso foi de 19 dias (IC 95% = 16,3 – 21,7) para pneumonia eosinofílica e de seis dias (IC 95% = 5,1 – 6,9) para outros eventos adversos, o que foi uma diferença estatisticamente significativa.
A análise multivariada por regressão logística identificou sexo masculino (OR = 1,94; IC 95% = 1,12 – 3,37), idade mais elevada com > 70 anos (OR = 2,70; IC 95% = 1,68 – 4,33) e maior tempo de tratamento, com > 21 dias (OR = 5,08; IC 95% = 3,21 – 8,05).
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Conclusão e mensagem prática
Embora seja um evento raro, daptomicina apresentou uma frequência relativamente mais alta de associação com o desenvolvimento de pneumonia eosinofílica em comparação com outros agentes anti-MRSA.
Quando comparados com outros eventos adversos induzidos por daptomicina, os casos de pneumonia eosinofílica associados a esse medicamento foram caracterizados por maior proporção de indivíduos do sexo masculino, idade mais avançada (> 70 anos) e maior duração de tratamento (> 21 dias).
Deve-se lembrar que, devido à natureza dos dados utilizados e ao baixo número de eventos identificados, o estudo está sujeito à possibilidade de ocorrência de diversos vieses e de que os resultados não sejam generalizáveis.
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