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Pneumologia20 maio 2024

De poliomielite à covid-19: o nascer do cuidado intensivo e lições aprendidas

Em uma viagem pelo tempo, Dra. Hanna traça uma linha que une a epidemia de poliomielite à pandemia de covid-19.

O segundo dia de congresso da ATS 2024 começou com uma emocionante palestra da Dra. Hanna Wunsch, médica intensivista, professora da Weil Cornell Medicine e autora do livro “Autumn Ghost: How the Battle Against a Polio Epidemic Revolutionized Modern Medical Care”. Em uma viagem pelo tempo, Dra. Hanna traça uma linha que une a epidemia de poliomielite à pandemia de covid-19, demonstrando como os avanços conquistados àquela época determinaram a medicina contemporânea.  

Discussão

Para muitos, a poliomielite se resume à vacina da gotinha, sendo uma vaga lembrança e não mais uma preocupação. Contudo, antes de haver a vacinação, poliomielite, uma doença viral, cuja contaminação ocorre por água ou contato com secreções contaminadas, era uma doença grave que não apenas poderia levar ao óbito como também gerava uma importante gama de sequelas conhecidas como síndrome pós-pólio.  

A Dra. Hanna retoma aos anos 50, mais especificamente para 1952, na Dinamarca, quando ocorreu a epidemia de poliomielite. Naquele ano, mais de 50 casos por dia eram diagnosticados, e desses, cerca de 10 a 12 evoluíam para insuficiência respiratória. Nesse cenário, centenas de pessoas começaram a precisar de ventilação mecânica, os conhecidos pulmões de ferro. Entretanto, não havia o suficiente para atender a todos. Além disso, embora os pulmões de ferro auxiliassem na ventilação, eles aumentavam a chance de pneumonia, levando esses pacientes ao óbito. 

É nesse período, que Dr.Ibsen, um anestesista dinamarques, sugere a traqueostomia e a ventilação com bolsa para esses pacientes. Da noite para o dia, vários pacientes precisaram ser ventilados de forma manual, sendo recrutados os estudantes de medicina para essa tarefa. A proximidade com os pacientes trouxe uma nova perspectiva ao cuidado, o qual antes ocorria à distância e sem envolvimento. Nasce o cuidado intensivo.  

Nessa mesma época, Dr. Astrup realiza a primeira medição do pH do sangue, inaugurando a era da avaliação do equilibrio ácido-básico na propedêutica dos pacientes com insuficiência respiratória. Surgiu também o primeiro checklist do cuidado de pacientes graves, no qual há médicos e enfermeiros 24 horas por dia e 7 dias por semana, presença de análise de gases, ventilação mecânica invasiva e outros suportes invasivos. Nasce, portanto, do cuidar intensivo, a unidade de terapia intensiva. 

Em 1953, é anunciada a criação da vacina para poliomielite, um grande marco na prevenção dessa doença. Indubitavelmente, a vacinação foi um dos principais legados da epidemia de pólio, assim como ocorreu na de covid-19. Todavia, não se restringe apenas a isso. A epidemia de polio acelerou o desenvolvimento de ventiladores mecânicos e a criação de unidades especializadas para atender pacientes críticos. Além disso, aumentou a compreensão sobre a fisiopatologia da insuficiência respiratória. Ademais, demonstrou a importância dos cuidados pós-CTI, com a reabilitação e direitos de pacientes com deficiências, reconhecendo a presença da sindrome pós-pólio, assim como hoje ocorre com a síndrome pós-covid-19.  

ATS 2024: Evidências e os últimos avanços no diagnóstico e tratamento de PAC

Considerações

Realmente, momentos de necessidade, como pandemias e guerras, aceleram o desenvolvimento de novas tecnologias. Contudo, ao olhar para a epidemia de pólio, aprendemos que, cuidar de perto dos pacientes graves, olhar com detalhes a manutenção da vida de forma artificial e reconhecer os efeitos das sequelas na vida desses indivíduos, fazem muita diferença. Embora há mais de 70 anos, é impressionante como os aspectos vividos à época se assemelham à pandemia de covid-19. Com a epidemia de pólio, nasceu o cuidar intensivo. Com o avanço dos anos, se consolidou a terapia intensiva. Com a pandemia de covid-19, tornou-se evidente a importância dessa especialidade e dos cuidados intensivos. Dessa forma, uma terapia intensiva de qualidade e um bom programa de vacinação são capazes de transformar o cenário das doenças graves infecciosas, trazendo alívio para a humanidade. 

Acompanhe o ATS 2024 com a gente!

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