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Pneumologia19 maio 2025

ATS 2025: Sessão Breaking News reforça a importância dos estudos negativos

Sessão “Breaking News” no congresso da ATS 2025 demonstrou que mesmo os estudos com resultado negativo possuem valor e podem ser cruciais em discussões

De um modo geral, existe a cultura de que estudos com resultados negativos não devem ser publicados ou tampouco apresentados. Entretanto, a sessão “Breaking News” no congresso da ATS 2025 demonstrou que mesmo esses estudos possuem valor e, muitas vezes, são cruciais para finalizar uma discussão que antes existia. 

Nessa sessão, foram apresentados três trabalhos recentemente publicados com resultados negativos. 

O primeiro trabalho, apresentado pela professora Renee Stapleton, foi o estudo GRAIL-3 sobre a prevenção de CMV em terapia intensiva. A justificativa desse estudo reside no fato de que a reativação de CMV durante a doença crítica ocorre em cerca de 30% a 40% dos casos, havendo uma correlação entre a viremia e a mortalidade. De fato, em pacientes imunossuprimidos, a profilaxia já está bem estabelecida. Contudo, em imunocompetentes que se tornam imunocomprometidos devido à doença crítica, permanecia o questionamento: o CMV deve ser ignorado, prevenido ou tratado? 

O GRAIL-3 foi um estudo clínico de fase 3, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, que avaliou se o ganciclovir profilático em pacientes soropositivos para CMV, internados por sepse com insuficiência respiratória, reduziria o tempo de ventilação mecânica. 

Tratou-se de um estudo multicêntrico, interrompido precocemente por futilidade, devido ao aumento da mortalidade no grupo de intervenção. A conclusão do estudo é que a profilaxia com ganciclovir não deve ser realizada em pacientes críticos internados por sepse com insuficiência respiratória. Embora frustrante, um resultado negativo tem impacto no estabelecimento de rotinas, sendo evidente nesse caso que a profilaxia para a reativação de CMV durante a doença crítica não trouxe benefícios, podendo, inclusive, ser prejudicial ao paciente. 

O segundo estudo, apresentado pelo professor Fernando Martinez, abordou o uso de azitromicina em crianças de 1 a 5 anos que se apresentavam na emergência com broncoespasmo grave. Denominado AZ-SWED, esse foi um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, envolvendo crianças que chegaram à emergência com broncoespasmo grave e sem evidência de outra doença que necessitasse de antibiótico, como pneumonia bacteriana ou sinusite aguda. 

A justificativa para o estudo é que diversos trabalhos relataram a presença de bactérias nas vias aéreas dessas crianças que apresentam quadros de broncoespasmo grave. Assim, questionou-se se o uso de azitromicina por 5 dias reduziria a gravidade do quadro. Foram recrutadas crianças de 18 a 60 meses com quadro de broncoespasmo grave admitidas na emergência, as quais foram testadas para a presença de bactérias comuns do trato respiratório, como S. pneumoniae e H. influenzae. No total, 840 crianças foram separadas em três grupos: swab positivo, swab negativo e desconhecido. Desse grupo, 61,3% das crianças apresentaram swab positivo para bactéria, o que chama a atenção para a alta incidência. Após o curso de 5 dias de azitromicina, houve negativação do swab em 58% dos casos. O desfecho primário, que era a redução do escore de asma nas crianças, não apresentou diminuição com ou sem o uso de azitromicina. Além disso, não houve redução do tempo de internação. O estudo foi interrompido por futilidade quando atingiu 57% do recrutamento, ficando claro que não há benefício em tratar esses episódios de broncoespasmo grave com azitromicina. 

O terceiro trabalho, denominado “watch the spot”, tratou da avaliação de nódulos pulmonares menores que 15 mm. Foi um estudo clínico, randomizado por cluster pelo local de atendimento, pragmático e aberto, que comparou uma abordagem de vigilância menos intensiva com uma abordagem mais intensiva em nódulos menores que 15 mm. O desfecho primário foi a não inferioridade do grupo menos intensivo em relação ao grupo mais intensivo no que concerne ao tempo de identificação do nódulo e ao início do tratamento específico. Foram analisadas aproximadamente 750 mil tomografias, sendo incluídos cerca de 34 mil pacientes. Foram identificados 504 casos de câncer dentre esses 34 mil participantes. A maior incidência ocorreu no grupo que apresentava critério de rastreio para câncer de pulmão e nódulos acima de 8 mm. Esse trabalho possui diversas limitações, dentre elas a adesão ao protocolo intensivo de vigilância. A conclusão é que o protocolo menos intensivo não foi não-inferior ao intensivo, deixando em aberto qual seria a melhor abordagem para esses nódulos pequenos. 

Os três estudos clínicos apresentados com resultados negativos não são necessariamente ruins; ao contrário, a construção do conhecimento se dá também a partir de resultados negativos para identificar o caminho correto. 

Mensagem final: 

 – Estudos negativos têm valor e podem finalizar discussões científicas. 

 – O estudo GRAIL-3 mostrou que a profilaxia com ganciclovir não beneficia pacientes críticos com sepse e insuficiência respiratória, podendo ser prejudicial. 

 – O estudo AZ-SWED demonstrou que a azitromicina não reduz a gravidade ou o tempo de internação em crianças com broncoespasmo grave, mesmo com alta prevalência de bactérias nas vias aéreas. 

 – O estudo “watch the spot” indicou que uma abordagem de vigilância menos intensiva para nódulos pulmonares menores que 15 mm não foi não inferior a uma abordagem mais intensiva, deixando a melhor estratégia incerta. 

 – Resultados negativos são importantes para a construção do conhecimento científico e para direcionar as práticas clínicas. 

 

 

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