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Surdez profunda unilateral é a condição na qual o indivíduo tem uma orelha não funcional de um lado, sem benefício com amplificação convencional, e audição normal no lado contralateral. Atinge 12-27 indivíduos por 100.000 habitantes, sendo a maioria de origem súbita e idiopática. Schwanoma vestibular e Doença de Menière estão entre as causas conhecidas, mas grande parte dos pacientes apresenta surdez súbita idiopática.
Mas é tão ruim escutar apenas por uma orelha? Quais as vantagens da bilateralidade auditiva? Duas grandes vantagens são:
—> A localização da fonte sonora no espaço, ou seja, saber de onde vem o som escutado.
—> Compreensão da fala em ambiente com ruído de fundo intenso.
Isso ocorre por três efeitos da fisiologia auditiva:
—> Efeito sombra da cabeça: há uma atenuação do som de uma orelha para outra, permitindo compreender de que lado vem o som.
—> Efeito Squelch: habilidade do cérebro em separar som e ruído de fundo de fontes sonoras espacialmente distintas;
—> Efeito Somação Binaural: resultado do processamento auditivo central e demonstra a habilidade do sistema nervoso auditivo central integrar e utilizar a informação captada perifericamente pelas duas orelhas.
Existem de fato, quatro opções de tratamento para esses casos: não fazer nada, apenas orientar; aparelhos auditivo tipo CROS; próteses osteointegradas ou implante coclear.
A opção por não fazer nada é muito comumente escolhida devido ao baixo prejuízo no dia-a-dia de quem escuta perfeito de um lado e nada do outro. No entanto, principalmente para os escolares, algumas orientações devem ser passadas ao colégio. O ideal é que o aluno sente sempre com o lado ouvinte voltado para o professor e o lado surdo para parede, além de ficar o mais próximo do professor possível.
O uso de aparelhos auditivos tipo CROS (contralateral route of signal), talvez seja o tipo de reabilitação menos invasiva. Como funcionam? O paciente vai fazer uso de um aparelho em cada orelha, na orelha surda ficará um microfone e um transmissor, que captará e transmitirá o som para o aparelho colocado na orelha ouvinte. Assim, todo som do lado surdo será captado e jogado para o lado ouvinte, sem necessidade de o indivíduo torcer a cabeça para escutar o que está acontecendo do seu lado surdo. Parece bem vantajoso, pois não envolve cirurgia e pode ser usado ou não de acordo com a necessidade do paciente. No entanto, temos algumas desvantagens: a orelha surda continuará surda, o som só é jogado para o lado ouvinte; outra queixa dos pacientes é utilizar um aparelho no lado ouvinte que captará o som da orelha surda, isso pode levar a desconforto em algumas pessoas.
As próteses osteointegradas funcionam da seguinte forma: um pino de titânio é colocado cirurgicamente no osso temporal do lado com surdez e nesse pino é acoplado uma prótese auditiva que vai captar o som desse lado surdo e transmitir por vibração óssea para a orelha ouvinte do lado contralateral. A cirurgia para colocar o pino de titânio pode ser feita até com anestesia local, mas deverá ser respeitado um período de três meses para que o pino se osteointegre ao osso e a prótese auditiva seja acoplada. A maior vantagem é ser um procedimento cirúrgico simples. No entanto, a desvantagem é que o lado surdo continua surdo como com os aparelhos CROS, apenas o som é jogado para o lado ouvinte.
Veja também: ‘A influência nutricional na perda auditiva’
O único aparelho que permitiria reestabelecer a audição do lado com surdez é o implante coclear. Essa indicação para o implante coclear é nova, pois até pouco tempo, ele só era usado para paciente com perda auditiva severa a profunda bilateral!! O uso para perda auditiva unilateral é cercado de discussão, pois o som gerado pelo implante não é igual o som natural que será escutado pela orelha ouvinte, ou seja, serão duas qualidades de som diferentes. Estudos recentes vêm demonstrando que há um público que aceitaria esse tipo de estimulação e se beneficiaria dela. A grande vantagem do implante coclear é ser a única forma de restabelecer a audição do lado ouvinte. Entretanto, as desvantagens seriam: a cirurgia, mais complexa que a das próteses osteointegradas, e a qualidade sonora diferente do som natural na orelha implantada.
Como comentários finais, podemos dizer que “fazer nada” continua sendo uma opção. Para os pacientes incomodados e com piora da qualidade de vida já temos mais de uma opção possível para reabilitação. Cabe ao médico discutir as vantagens e desvantagens de cada método com o paciente para escolher o que mais lhe agrada.
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