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Ortopedia8 dezembro 2025

Vale a pena utilizar ácido tranexâmico na artroscopia do ombro?

Evidências mostram benefício limitado do ácido tranexâmico na artroscopia do ombro, com leve ganho visual e nenhum efeito clínico relevante.
Por Rafael Erthal

A artroscopia do ombro é um procedimento bastante popular utilizada especialmente para o tratamento de lesões do manguito rotador ou casos de instabilidade glenoumeral. Durante sua realização, pela localização proximal da área operada, o uso de isquemia com manguito pneumático não é viável.  

Para permitir uma boa visualização intraoperatória, diferentes estratégias podem ser executadas, incluindo a realização de técnica anestésica hipotensiva, o uso de soro em sistema de pressurização com bomba e até o uso de medicações no soro infundido ou de modo sistêmico.  

Uma estratégia bastante popular adotada em casos de cirurgias de artroplastia que leva a uma redução no sangramento é o uso do ácido tranexâmico. Fora do cenário da artroplastia esta medicação também já foi pensada como uma estratégia que poderia levar a um menor sangramento intraoperatório, o que em uma cirurgia como a artroscopia do ombro poderia ser uma vantagem interessante.  

Uma revisão sistemática e meta-análise de 12 ensaios clínicos randomizados, totalizando 1.009 pacientes foi publicada em outubro de 2025 na revista científica “Arthroscopy” em conjunto por pesquisadores da Florida e do Canadá.  

Métodos 

O levantamento bibliográfico buscou artigos nas bases de dados CENTRAL, EMBASE e MEDLINE publicados até janeiro de 2025 que comparassem o uso de ácido tranexâmico com placebo ou com outras medicações. Os parâmetros avaliados nos estudos incluíram clareza visual, dor, tempo operatório total e volume de perda de sangue nos pacientes submetidos a artroscopia do ombro. 

Resultados encontrados  

O uso de ácido tranexâmico provavelmente resulta em um ligeiro aumento na clareza visual do campo cirúrgico. A metanálise de 7 estudos (647 pacientes) mostrou uma diferença padronizada média (SMD) de 0.64 (IC 95%: 0.05 a 1.24). Apesar do efeito positivo, os autores notam heterogeneidade substancial (I² = 86%) entre os estudos, o que significa que os resultados variam consideravelmente. 

No que diz respeito à avaliação da dor pós-operatória, foi notada pouca ou nenhuma diferença na dor sentida pelos pacientes após a cirurgia. A metanálise de 8 estudos (652 pacientes) mostrou uma redução média de apenas 0.38 pontos em uma escala de 0 a 10. Esta redução é considerada clinicamente insignificante, pois não atinge a diferença mínima clinicamente importante de 1 ponto. 

O tempo cirúrgico foi avaliado em 9 estudos (716 pacientes) que indicaram uma redução média de aproximadamente 6 minutos (MD -5.95, IC 95%: -12.74 a 0.84) no tempo total. Esta redução não é considerada clinicamente significativa, pois foi estabelecido que uma diferença de pelo menos 20 minutos seria necessária para ter relevância prática. 

Sobre o sangramento durante o procedimento, os resultados são os menos claros. Alguns estudos mostraram que o ácido tranexâmico reduziu o volume de sangue perdido, mas um deles até sugeriu o contrário (o que os próprios pesquisadores acham improvável). Por causa dessas contradições e da forma diferente como cada estudo mediu o sangramento, não foi possível chegar a uma conclusão firme. A evidência, por enquanto, é incerta. 

O que podmeos levar para casa? 

Os resultados desse estudo sugerem que o uso de ácido tranexâmico na artroscopia do ombro provavelmente melhora ligeiramente a clareza visual do campo cirúrgico, mas não demonstra efeitos significativos sobre a dor, o tempo operatório ou a perda de sangue. Embora essa medicação tenha desempenhado um papel importante em outras cirurgias, isso não parece ocorrer na artroscopia do ombro.  

Autoria

Foto de Rafael Erthal

Rafael Erthal

Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁  Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁  Especialista em cirurgia de joelho ⦁  Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

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Referências bibliográficas

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