As fraturas do terço médio da clavícula e lesões da articulação acromioclavicular são comuns quando ocorrem separadamente, mas a sua ocorrência simultânea é rara. Por acontecer em um pequeno número de casos, há alto risco de ausência de diagnóstico e evolução com o tempo para dor crônica, artrose e outras complicações requerendo tratamentos secundários.
Além disso, a melhor abordagem para os casos também permanece como uma incógnita com pouca informação e consenso sobre o acesso cirúrgico, por exemplo.
Visto isso, foi publicado recentemente na revista “BMC Surgery” uma revisão sistemática com o objetivo de melhorar a compreensão dessas lesões concomitantes, focando no mecanismo de lesão, classificação, tratamento e prognóstico, visando aumentar a conscientização clínica, reduzir o subdiagnóstico e, finalmente, beneficiar os pacientes.
Metodologia
Foram pesquisados estudos nas bases de dados PubMed, Web of Science e EMBASE de janeiro de 1962 até junho de 2024 sendo incluídos estudos comparativos ou não, de qualquer desenho, com os seguintes critérios:
(1) População: os pacientes foram diagnosticados com lesão acromioclavicular ipsilateral combinada com fratura do terço médio da clavícula
(2) Intervenção: os pacientes foram tratados conservadoramente ou cirurgicamente.
(3) Resultados: os estudos tiveram pelo menos um dos seguintes resultados clínicos, incluindo resultado funcional, complicações, redução da luxação articular e consolidação óssea.
Já os critérios de exclusão são os seguintes: (1) Estudos que não fornecem informações concretas sobre o paciente e o tratamento, como artigos de revisão, revisões sistemáticas, técnicas cirúrgicas, diretrizes, livros didáticos e estudos cadavéricos; (2) Estudos em que os diagnósticos primários dos pacientes diferem do tópico do estudo.
Leia mais: Qual a diferença nos resultados dos métodos de tratamento das fraturas do terço médio da clavícula?
Resultados
Essas lesões combinadas são frequentemente associadas a comorbidades como fraturas de costelas, hemopneumotórax, fraturas de escápula, lesões neurovasculares e padrões atípicos de deslocamento da clavícula. Esses casos devem levantar
suspeita de tais lesões. Devido à natureza “flutuante” da clavícula lateral, o “Piano Key Sign” é tipicamente negativo e não confiável para diagnóstico. A avaliação inicial da articulação acromioclavicular pode ser inconclusiva, então a reavaliação após a fixação da clavícula é recomendada.
Lesões acromioclaviculares tipo IV podem ser subestimadas em radiografias anteroposteriores, e radiografias axilares adicionais e tomografias computadorizadas podem visualizar melhor o deslocamento posterior da clavícula.
A maioria dos pesquisadores acredita que o dano à cápsula acromioclavicular e aos ligamentos ocorre primeiro, mas é insuficiente para causar luxação significativa, sugerindo que a fratura isolada pode envolver lesão combinada da acromioclavicular com ligamentos coracoclaviculares intactos. Notavelmente, a maioria dos pacientes relatou resultados favoráveis sem complicações maiores em dois anos, independentemente da abordagem do tratamento.
Conclusão
O estudo acabou concluindo que o mecanismo da lesão não está claro, e não existe nenhum sistema de classificação para indicar a gravidade. Essas lesões são tipicamente tratadas separadamente sem um protocolo unificado. Na prática, acabamos tratando essas lesões como entidades separadas e mais estudos associando as duas lesões seriam interessantes para a evolução de protocolos de tratamento.
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