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Ortopedia6 setembro 2025

Tendinopatia patelar refratária: o salto da evidência cirúrgica

Revisão mostra que cirurgia em tendinopatia patelar refratária melhora dor, função e retorno ao esporte, sem técnica superior definida.

A tendinopatia patelar (TP) refratária é caracterizada por sintomas persistentes apesar de pelo menos seis meses de tratamento conservador.  intervenções cirúrgicas e não cirúrgicas avançadas, com diversas opções promissoras, vêm demonstrando, consistentemente melhorias substanciais na dor, função e taxas de retorno ao esporte. Dentre as opções não cirúrgicas, apresentam-se as Injeções Múltiplas de Plasma Rico em Plaquetas (PRP); Injeções de Células Tenocitoides Derivadas da Pele; Tenotomia Ultrassônica Percutânea (TPP). 

Com relação às opções cirúrgicas, o desbridamento aberto ou artroscópico é eficaz para casos refratários, com altas taxas de retorno ao esporte (média de 87%) e melhoras significativas na dor e na função. Técnicas abertas e artroscópicas são utilizadas, mas não há consenso sobre o método cirúrgico ideal devido à heterogeneidade nos desenhos de estudo. Ressalta-se que a cirurgia é normalmente reservada para pacientes que não apresentam melhora após tratamento conservador exaustivo. 

Mueller et cols, do Departamento de Cirurgia Ortopédica do Hospital Presbiteriano de Nova York/Columbia, em 2025 publicaram um artigo que expressou a busca por identificar todos os artigos relevantes para o tratamento cirúrgico da tendinite patelar, e avaliar a pertinência do tratamento cirúrgico nas condições refratárias ao tratamento conservador. 

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tendinopatia

O que o estudo analisou? 

Este estudo foi uma revisão sistemática que analisou os resultados do tratamento cirúrgico da tendinopatia patelar refratária. Os autores buscaram, no PubMed (2000–2021), estudos originais que avaliassem técnicas cirúrgicas para pacientes que não melhoraram com tratamento conservador.  

Foram incluídos 15 estudos (2 de nível de evidência I e 13 de nível IV), totalizando 485 pacientes e 523 tendões tratados, com idade média de 29,5 anos. As técnicas avaliadas incluíram procedimentos abertos e artroscópicos como desbridamento, ressecção óssea ou tendínea, denervação e liberações patelares.  

Os resultados mostraram melhora média de 39,6 pontos no VISA-P e redução de 6,11 pontos na escala VAS para dor, com taxa média de 87% de retorno ao esporte (68% no nível pré-lesão), geralmente em cerca de 4,6 meses.  

Principais achados 

Os principais achados do estudo foram: 

  • Melhora clínica consistente: Em média, houve aumento de 39,6 pontos no escore VISA-P (≈87% de melhora) e redução média de 6,11 pontos na escala VAS de dor (≈83% de redução) após cirurgia. 
  • Alto retorno ao esporte: A taxa média de retorno ao esporte (RTP) foi de 87,08%, sendo que 68,26% dos atletas retornaram ao nível pré-lesão, com tempo médio de recuperação de 4,63 meses. 
  • Eficácia de diferentes técnicas: Tanto técnicas artroscópicas quanto abertas (desbridamento, ressecção óssea/tendínea, denervação ou liberação patelar) apresentaram bons resultados, sem evidência clara de superioridade de uma sobre a outra. 
  • Segurança relativa: A taxa de revisão cirúrgica foi baixa (8,43%), com as principais causas sendo dor persistente e incapacidade de retornar ao esporte. 
  • Técnicas minimamente invasivas: Procedimentos como a liberação patelar artroscópica (APR), que não envolvem desbridamento do tendão, também obtiveram resultados funcionais elevados (VISA-P ≈ 94,7).  
  • Necessidade de padronização: A heterogeneidade nos métodos e na classificação das lesões dificultou comparações diretas; os autores recomendam uso de sistemas como o Popkin-Golman para indicar melhor o tratamento cirúrgico. 

Limitações 

As principais limitações apontadas pelos autores foram: 

  • Baixo nível de evidência disponível: Apenas 2 estudos de nível I (ensaios clínicos randomizados) foram incluídos; a maioria (13 estudos) era de nível IV (séries de casos prospectivas ou retrospectivas). 
  • Heterogeneidade: Grande variação nos desenhos de estudo, técnicas cirúrgicas empregadas (artroscópicas e abertas, com diferentes combinações de desbridamento, ressecção e denervação), tipos de pacientes (nível recreativo ou profissional) e escalas de avaliação utilizadas, o que impossibilitou a realização de meta-análise. 
  • Ausência de dados sobre complicações e protocolos de reabilitação: Poucos estudos relataram complicações pós-operatórias, taxas detalhadas de falha ou os protocolos específicos utilizados antes do retorno ao esporte. 
  • Falta de padronização na gravidade da lesão: A maioria dos estudos não descreveu a presença, tamanho ou espessura de rupturas parciais do tendão patelar (PPTT), limitando a análise de quais técnicas seriam mais adequadas para cada grau de lesão; os autores sugerem uso do sistema Popkin-Golman para caracterização objetiva. 
  • Ausência de avaliação de certas técnicas: Não foram encontrados estudos que analisassem de forma robusta o uso de reparo primário com sutura, ancoragem ou aumento com autoenxerto/alógeno, que poderiam ser relevantes em casos graves. 

Observa-se que apesar de todos os métodos apresentarem bons resultados, a heterogeneidade dos estudos impediu a realização de meta-análise e não foi possível apontar uma técnica cirúrgica superior. Os autores destacam a necessidade de pesquisas de maior qualidade e com classificação padronizada da gravidade da lesão, como o sistema Popkin-Golman, para orientar melhor as indicações cirúrgicas. 

Mensagem prática 

O estudo traz, para nossa prática diária ortopédica, orientações claras e aplicáveis para o manejo dessa condição tão comum em atletas e pacientes ativos, que muitas vezes desafia o tratamento conservador. Demostra que a cirurgia pode ser uma alternativa eficaz para os não responsivos ao tratamento clínico após, pelo menos, seis meses, proporcionando melhora significativa da dor, função (VISA-P, VAS) e alta taxa de retorno ao esporte em poucos meses 

Verifica-se ainda que não há superioridade comprovada de técnicas abertas sobre artroscópicas, sendo ambas válidas, mas com a vantagem de os procedimentos minimamente invasivos apresentarem menor agressão tecidual. Logo, como já sabemos, a indicação cirúrgica deve ser criteriosa e individualizada, baseada nas classificações de gravidade (como Popkin-Golman ou Blazina), na falha do tratamento conservador e acompanhada de protocolos de reabilitação bem estruturados. Isso reforça a importância de padronizar a avaliação da gravidade, documentar complicações e alinhar expectativas de recuperação com o paciente, otimizando os resultados funcionais e esportivos.  

Esse artigo se mostra um bom norteador para as ações mais assertivas para cada tipo de paciente, considerando seu universo pessoal, sua funcionalidade e objetivos de reabilitação. 

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Referências bibliográficas

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