As lesões de nervos digitais correspondem a cerca de 9% de todas as lesões da mão. Como resultado em lesões não tratadas, o paciente pode evoluir com perda de sensibilidade, intolerância ao frio e neuroma gerando grande perda de função e qualidade de vida. O tratamento consiste em reparar a lesão nervosa cirurgicamente e aguardar a reinervação do dedo.
Na literatura há pouca evidência comparando tipos de tratamento dessas lesões nervosas e, diante disso, foi publicado recentemente no “Brtitish Journal of Surgery – BJS” um estudo com o objetivo de determinar se o reparo com sutura de um nervo digital é eficaz comparando duas intervenções: exploração cirúrgica, alinhamento de nervos e reparo de sutura microcirúrgica versus exploração cirúrgica e alinhamento de nervos apenas.
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Metodologia
O estudo foi um ensaio clínico randomizado multicêntrico em 25 hospitais no Reino Unido. Foram incluídos pacientes com 18 anos ou mais com suspeita de lesão completa de nervo digital único em qualquer dedo, incluindo polegar e dedo mínimo, apropriados para exploração e reparo cirúrgico.
Os pacientes foram excluídos se apresentassem: lesões em ambos os gigitais de um dedo, lacerações fora da região entre a prega palmar distal e a articulação interfalângica distal, lesões fechadas, feridas infectadas, lesões nas quais existisse uma lacuna nervosa significativa (impedindo o reparo cirúrgico direto e sem tensão), lesão não isolada ou multinível, se a cirurgia tivesse ocorrido após 10 dias da lesão e se não tivessem lesão do nervo digital ou a lesão fosse incompleta na exploração cirúrgica.
Os pacientes foram alocados e cegados para a intervenção na proporção 1:1 entre os grupos exploração cirúrgica, alinhamento do nervo e reparo com sutura (grupo 1) e exploração cirúrgica e alinhamento do nervo apenas (grupo 2). O desfecho primário foi a eficácia clínica do reparo microcirúrgico do nervo, medida pelo questionário I-HaND 12 meses após a randomização. Os questionários dos participantes foram preenchidos 6 semanas e 3, 6 e 12 meses após a randomização e incluíram o desfecho primário I-HaND e outros desfechos secundários.
Resultados
Um total de 122 adultos foram randomizados para reparo de sutura microcirúrgica (n = 61) ou alinhamento nervoso isolado (n = 61). Dados de desfecho primário utilizando o I-HaND estavam disponíveis para 106 participantes (87%) em 12 meses. Não houve diferenças estatisticamente significativas nas pontuações do I-HaND em todos os momentos, incluindo o desfecho primário de 12 meses (15,9 versus 20,2, P = 0,09; IC de 95% [-0,9, 10,8]). Também não houve diferenças em todas as medidas de desfecho secundário, incluindo as pontuações da Medida de Avaliação do Paciente e do EQ-5D-5L em 12 meses. As complicações foram semelhantes em 6 semanas e 12 meses. O estudo foi encerrado precocemente pelo financiador devido à lentidão no recrutamento e não atingiu o tamanho da amostra pretendido.
O que podemos levar para casa?
Com base nos dados disponíveis do estudo, não há evidências que sustentem o efeito benéfico do reparo por sutura sobre o alinhamento nervoso isolado em lesões nervosas digitais isoladas.
Entretanto, não há informações sobre como foi conduzido o pós-operatório levando em consideração o tipo e tempo de imobilização, que pode fazer diferença para o desalinhamento do nervo em caso de não realização de sutura. Além disso, valeria investigar também se há diferença com relação ao uso da cola de fibrina selando o reparo nesses casos.
Autoria

Giovanni Vilardo Cerqueira Guedes
Editor Médico de Ortopedia da Afya ⦁ Mestre em Ciências Aplicadas ao Sistema Musculoesquelético (INTO) ⦁ Ortopedista, Cirurgião da Mão e Microcirurgião formado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad - INTO ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Fellowship em Cirurgia da Mão e Artroscopia de Punho pela International Bone Research Association - IBRA (Clínica Teknon, Barcelona, Espanha, 2022)
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