A artroplastia total do quadril (ATQ) é um dos procedimentos mais bem-sucedidos da ortopedia moderna, proporcionando alívio da dor e melhora da qualidade de vida para milhares de pacientes ao redor do mundo. No entanto, como qualquer procedimento cirúrgico, a ATQ não está isenta de complicações, e algumas delas podem exigir reoperações.
Um estudo recente publicado no Journal of Arthroplasty teve por objetivo analisar as causas dessas reoperações ao longo de 20 anos e trouxe insights valiosos para a prática clínica.
Métodos
Trata-se de um estudo retrospectivo que avaliou 515 reoperações (483 pacientes) de ATQ realizadas entre 2004 e 2023 em um hospital de referência. As principais causas identificadas foram:
- Afrouxamento asséptico (52,4%) – historicamente a principal razão para reoperações, embora sua incidência tenha diminuído nas últimas décadas.
- Infecção (13,2%) – um problema crescente e cada vez mais desafiador para os cirurgiões.
- Fratura periprotética (10,7%) – aumentou significativamente com o passar dos anos, especialmente em pacientes idosos.
- Desgaste/osteólise (8,5%) – um problema associado ao tempo de uso da prótese.
- Fratura de cerâmica (5,8%) e instabilidade/luxação (5,6%) – complicações que, embora menos frequentes, ainda requerem atenção.
Leia mais: Complicações entre as diferentes vias de acesso na Artroplastia Total do Quadril
Discussão e resultados
Uma das descobertas mais interessantes do estudo foi a mudança nos padrões das causas de reoperação. Comparando 2 décadas distintas (2004–2013 e 2014–2023), observou-se que a proporção de afrouxamento asséptico caiu de 62,5% para 40,4%. As revisões por infecção, fraturas periprotéticas e instabilidade aumentaram significativamente. O uso de implantes com superfície cerâmica e polietileno de alta resistência, reduziu a necessidade de reoperações por desgaste, mas trouxe novos desafios, como fraturas de componentes cerâmicos.
Essas mudanças refletem avanços nas técnicas cirúrgicas, na qualidade dos implantes e nas estratégias de prevenção de complicações. No entanto, também destacam a necessidade de vigilância contínua para complicações emergentes.
Para os cirurgiões ortopédicos, os achados desse estudo reforçam a importância de estratégias personalizadas para cada paciente. Algumas recomendações incluem:
- Prevenção do afrouxamento asséptico com o uso de materiais avançados e técnicas aprimoradas de fixação.
- Monitoramento rigoroso para infecções no pós-operatório, incluindo protocolos eficazes de profilaxia antibiótica.
- Atenção especial a fraturas periprotéticas, especialmente em pacientes idosos e com osteoporose.
- Escolha criteriosa de implantes, considerando o equilíbrio entre durabilidade e risco de complicações.
Mensagem prática
A evolução da artroplastia total do quadril nas últimas décadas trouxe avanços impressionantes, mas também novos desafios. O afrouxamento asséptico, que por muito tempo foi o grande vilão das reoperações, está sendo substituído por complicações como infecção e fraturas periprotéticas. Esse estudo nos lembra da importância de estarmos sempre atualizados, adaptando nossas condutas para garantir os melhores resultados possíveis para os pacientes.
Com um olhar atento para as tendências e uma abordagem baseada em evidências, podemos continuar aprimorando a longevidade dos implantes e a qualidade de vida dos pacientes submetidos à ATQ.
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