A reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) é uma das cirurgias mais realizadas em ortopedia esportiva. Apesar da evolução das técnicas, o risco de re-ruptura ou instabilidade residual ainda preocupa — especialmente em pacientes jovens e atletas de alta demanda. É nesse cenário que surge a discussão a necessidade de associar um procedimento extra-articular à cirurgia através da realização da tenodese lateral ou da reconstrução do ligamento anterolateral.
Mas será que adicionar esse passo realmente reduz o risco de falha sem aumentar complicações?
Foi para responder a essa pergunta que uma revisão sistemática e metánalise de ensaios clínicos randomizados, foi publicada no American Journal of Sports Medicine, comparou a reconstrução isolada do LCA com a reconstrução associada a um procedimento extra-articular.
Veja também: Fatores de risco para infecção de sítio cirúrgico em ortopedia?
Como foi feito o estudo?
- A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases PubMed, Embase e Cochrane em março de 2024, incluindo 1411 artigos dos quais 17 foram selecionados (5 comparando reconstruções isoladas com tenodese e 12 com reconstrução do ligamento anterolateral):
- Principais desfechos avaliados:
- Taxa de rerrotura do enxerto;
- Complicações (dor lateral, restrição de rotação interna, rigidez);
- Escores clínicos (IKDC, KOOS, Lysholm).
Principais resultados
- A adição do procedimento extra-articular não aumentou a taxa de complicações nos estudos incluídos;
- A reconstrução isolada do LCA apresentou maiores taxas de falha quando comparada à reconstrução associada ao procedimento extra-articular.
- Nos estudos comparativos com a reconstrução anterolateral a reconstrução isolada teve taxa de falhas de 7.9% (18/226) contra 0.8% (2/225).
- Quando comparada a tenodese a taxa de falha da reconstrução isolada foi de 11.1% (72/645) contra 3.9% (24/613) da combinada.
- Os dados foram submetidos à análise estatística agrupada indicando um índice superior de falha das reconstruções isoladas quando comparada a reconstrução com tenodese (Mantel-Haenszel, 3.14 [95% CI, 1.96- 5.04] e quando comparada a reconstrução do ligamento anterolateral ainda maior (Mantel-Haenszel, 6.78 [95% CI, 1.98-23.22]; P = .002).
O que isso significa na prática?
- Mais proteção para o enxerto: associar o reforço extra-articular parece reduzir o risco de falha do enxerto.
- Segurança preservada: o estudo não mostrou aumento relevante de complicações, o que fortalece a indicação em grupos de risco.
- Versatilidade: Ambas as técnicas (reconstrução anterolateral e tenodese) são válidas. A escolha deve ser baseada na experiência do cirurgião e nas particularidades anatômicas do paciente.
Mensagem final
O estudo reforça uma tendência crescente na cirurgia do LCA: pensar além do ligamento em si e considerar o papel do complexo anterolateral na estabilidade rotacional do joelho. Para o cirurgião, isso significa avaliar com cuidado o perfil do paciente — idade, tipo de esporte, risco de re-ruptura — e ponderar a associação de um procedimento adicional extra-articular.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.