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Ortopedia6 dezembro 2025

Qual é o perfil das infecções após artroplastias parciais do quadril?

Infecções após artroplastia parcial do quadril são raras, porém graves, com alta mortalidade e perfil microbiológico complexo, exigindo atenção no manejo.
Por Rafael Erthal

A artroplastia Parcial do Quadril (APQ) é uma opção de tratamento realizada no contexto de fraturas do colo do fêmur e reservada para idosos com baixa demanda e menor expectativa de vida nos quais a realização de uma artroplastia total do quadril não seria vantajosa. Assim como nas demais artroplastias, sua realização está sujeita à complicações infecciosas.  

As infecções periprotéticas são uma complicação grave envolvendo peculiaridades associadas ao seu manejo. Muito do que sabemos sobre essas infecções é baseada em dados de pacientes submetidos a artroplastia eletiva, ou com perfil clínico diferente dos pacientes submetidos a APQ, sendo, portanto, limitadas as informações que dizem respeito à essa população em específico, a qual é mais idosa e frágil. 

Um estudo recente foi publicado em novembro de 2025 por um grupo australiano noa revista científica “Bone and Joint Open” investigando justamente a infecção periprotética em pacientes submetidos a APQ.  

Métodos 

Trata-se de um estudo retrospectivo multicêntrico analisando uma base de dados contabilizando 465000 pacientes e incluindo os pacientes submetidos a APQ entre janeiro de 2006 e dezembro de 2018.  

No período avaliado foram registradas 1852 APQ das quais 43 apresentaram infecções periprotéticas, o que representa uma incidência de 2,3% de infecções. A média dos pacientes operados foi de 84 anos, sendo 74% do sexo feminino e apresentando uma taxa de mortalidade de 16,7% em 90 dias. Já os pacientes que evoluíram com infecção apresentaram média de idade de 77 anos, 56% eram do sexo feminino e apresentaram uma taxa de mortalidade de 20,9% em 90 dias.  

Qual foi o perfil das infecções? 

As infecções ocorreram em média após 26 dias da realização da cirurgia e apresnetaram perfil polimicrobiano em 53% dos casos, envolvendo também em 41% germes resistentes a múltiplas drogas. 

Uma análise de regressão de risco foi promovida e identificou como fatores de risco idade mais jovem, doença renal crônica, IMC superior a 35, demência e infecção urinária no perioperatório. A maior parte destes fatores não são modificáveis e refletem a fragilidade da população submetida a APQ. 

Quais são os resultados do tratamento desses pacientes? 

O tratamento dos quadros infecções apresentou sucesso em apenas 38% dos pacientes analisados. Nos casos que não evoluíram com sucesso no tratamento da infecção, a taxa de mortalidade chegou a 30%. A estratégia de tratamento realizada não apresentou diferença quanto ao sucesso no controle da infecção, seja se envolvesse desbridamento, ressecção da artroplastia ou revisão dela.  

O que podemos levar para casa? 

Os resultados desse estudo sugerem que apesar de incomum, a infecção após APQ é uma grave complicação com elevada taxa de mortalidade. O perfil dos pacientes envolvidos apresenta fragilidade e fatores de risco não modificáveis inerentes ao padrão clínico daqueles que são candidatos a uma cirurgia deste tipo.  

Devido às características do perfil microbiológico identificado, com elevada frequência de infecções polimicrobianas e germes resistentes, nossas estratégias tradicionais de profilaxia podem ser inadequadas para este grupo em específico e mais estudos podem no futuro direcionar a mudança dos protocolos hoje utilizados no manejo destes pacientes.  

 

Autoria

Foto de Rafael Erthal

Rafael Erthal

Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁  Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁  Especialista em cirurgia de joelho ⦁  Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

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