As lesões do manguito rotador são muito prevalentes em adultos acima dos 50 anos podendo chegar a acometer cerca de 30% da população nessa faixa etária. O tendão mais comumente acometido é o supraespinhoso, resultando num déficit de força e dor para elevação do ombro no plano da escápula. O tratamento é cirúrgico quando há rotura completa das fibras de um ou mais dos 4 tendōes que compõem o manguito rotador.
Nos casos de lesões parciais, o tratamento pode ser realizado com reabilitação e as terapias adjuvantes com injetáveis podem ajudar na remissão da dor. Os injetáveis podem ser de diferentes tipos, incluindo ácido hialurônico (AH), proloterapia (solução de dextrose), corticoesteróides e plasma rico em plaquetas (PRP). Na literatura, não há consenso sobre como cada uma dessas opções atua e qual é a melhor opção para resultados a curto (<1 mês), médio (1-3 meses) e longo (>3 meses) prazo.
Diante disso, foi publicado recentemente no “Journal of Orthopaedic Surgery and Research” um estudo com o objetivo de avaliar a eficácia comparativa de injeções intra-articulares de corticosteroides, AH, proloterapia e PRP no tratamento das lesões de manguito rotador.

Metodologia
O estudo foi uma revisão sistemática das bases de dados PubMed, Embase, Cochrane, Web of Science, Scopus, CNKI, VIPC e Wanfang Data até agosto de 2025.
Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados com adultos com lesões parciais do manguito rotador, que sofreram intervenção com injeção intra-articular de corticosteroides, AH, proloterapia ou PR, comparados com grupo placebo, exercício ou sem tratamento.
O desfecho primário buscado foi alívio da dor medido pela Escala Visual Analógica (EVA) enquanto os secundários foram melhora na função do ombro avaliada por ferramentas validadas como o Escore de Constant-Murley (CMS), o Índice de Dor e Incapacidade do Ombro (SPADI), o Escore da Sociedade Americana de Cirurgiões de Ombro e Cotovelo (ASES), a Escala de Ombro da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e o questionário de Incapacidades do Braço, Ombro e Mão (DASH), entre outros.
Resultados
Vinte e nove ensaios clínicos randomizados com 1800 pacientes foram incluídos. Para alívio da dor, a proloterapia consistentemente obteve a melhor classificação em todos os períodos. O PRP também demonstrou eficácia analgésica favorável a longo prazo. Os corticosteroides mostraram benefícios a curto prazo, mas eficácia inferior a longo prazo. Para melhora funcional, o AH demonstrou os melhores resultados a curto prazo, enquanto a proloterapia foi ideal para recuperação a médio prazo. Os resultados funcionais a longo prazo favoreceram o AH e a proloterapia.
O que podemos levar para casa?
A análise de eficácia comparando as estratégias sugere variações temporais nos resultados do tratamento: a proloterapia e o ácido hialurônico (AH) oferecem o controle sintomático inicial mais favorável (≤ 3 meses) tanto para dor quanto para função. Para alívio sustentado da dor (> 3 meses), a proloterapia e o plasma rico em plaquetas (PRP) apresentam os melhores resultados, enquanto o AH e a proloterapia estão associados a melhores resultados funcionais a longo prazo.
Os corticosteroides parecem ser mais eficazes para analgesia de curto prazo, com eficácia decrescente em períodos mais longos. O estudo conclui, na prática, que cada uma das terapias pode ser utilizada em cada caso dependendo do objetivo e estágio temporal de cada uma das patologias.
Autoria

Giovanni Vilardo Cerqueira Guedes
Editor Médico de Ortopedia da Afya ⦁ Mestre em Ciências Aplicadas ao Sistema Musculoesquelético (INTO) ⦁ Ortopedista, Cirurgião da Mão e Microcirurgião formado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad - INTO ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Fellowship em Cirurgia da Mão e Artroscopia de Punho pela International Bone Research Association - IBRA (Clínica Teknon, Barcelona, Espanha, 2022)
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.