As deformidades angulares do joelho, como genu varo e genu valgo, são comuns na infância e, quando não respondem ao tratamento conservador, podem exigir intervenção cirúrgica. Embora a osteotomia seja eficaz, seu caráter invasivo e os riscos associados levaram ao desenvolvimento de técnicas menos agressivas, como a hemiepifisiodese guiada.
Essa abordagem permite a correção gradual da deformidade por meio da modulação reversível do crescimento fisário, utilizando dispositivos implantáveis. Técnicas modernas como as placas em banda de tensão (TBP), parafusos transfisários percutâneos (PETS) e sistemas com placas em “oito” têm demonstrado excelentes resultados, com destaque para a eficácia e rapidez de correção observadas com o PETS e as placas articuladas.
Sabry et al. realizaram uma revisão sistemática com meta-análise para comparar diretamente as técnicas PETS e TBP.
Metodologia
O estudo foi registrado na plataforma PROSPERO (CRD42024612039) e conduzido conforme as diretrizes PRISMA e o Manual Cochrane. A busca bibliográfica foi realizada em novembro de 2024 nas bases PubMed, Web of Science e Scopus, utilizando termos relacionados às deformidades angulares do joelho e aos métodos PETS e TBP.
Os estudos foram conduzidos entre 2016 e 2023 na Alemanha, EUA, Coreia do Sul e Israel. Todos compararam TBP e PETS em deformidades angulares do joelho. Também foram consultadas revistas especializadas e feitas buscas manuais em referências.
Foram incluídos estudos comparativos com dois grupos de tratamento envolvendo crianças com imaturidade esquelética. Relatos de caso, análises secundárias e estudos de braço único foram excluídos. A seleção foi realizada por dois revisores de forma independente e cega, com extração de dados em planilhas padronizadas contendo informações demográficas, medidas angulares (MPTA, LDFA), desvio do eixo mecânico (MAD) e complicações. A qualidade metodológica foi avaliada com o índice MINORS. As análises estatísticas foram conduzidas no RevMan 5.4 com modelo de efeitos aleatórios e análise de sensibilidade.
Resultados
A busca inicial identificou 2.538 estudos, dos quais cinco estudos retrospectivos preencheram os critérios de inclusão, totalizando 228 pacientes (473 fises), com idade média de 12 anos. Os resultados demonstraram que o PETS proporcionou uma correção angular significativamente mais rápida que o TBP, com diferença média global de 0,17°/mês (p < 0,0003).
No subgrupo de deformidades femorais (LDFA), a taxa foi de 0,21°/mês (p = 0,01). Para o desvio do eixo mecânico (MAD), o PETS também se destacou, com correção de 1,02 mm/mês (p = 0,006). Em relação às complicações, o PETS apresentou incidência inferior à do TBP em todos os estudos, exceto por casos isolados de supercorreção.
Discussão
O PETS demonstrou maior eficácia por atuar diretamente no centro da fise, promovendo correção imediata. Já o TBP exerce efeito indireto por compressão lateral, resultando em correção mais lenta e maior incidência de complicações. O TBP foi associado ao fenômeno de rebote, falhas do implante e complicações relacionadas à incisão cirúrgica.
Por outro lado, o PETS, além de mais eficaz, apresentou menor custo com implantes e menos reoperações, representando uma alternativa com bom custo-benefício. A segurança técnica, no entanto, é essencial para evitar lesões permanentes da fise.
Limitações
As principais limitações da meta-análise foram o pequeno número de estudos comparativos disponíveis, todos retrospectivos e com tamanhos amostrais reduzidos. Além disso, a heterogeneidade dos dados de complicações impediu uma análise estatística combinada desses desfechos. A possível sobreposição de amostras em dois estudos não afetou significativamente os resultados.
Mensagem prática
O PETS demonstrou superioridade em relação ao TBP no tratamento das deformidades angulares coronais do joelho em crianças, com taxas de correção mais rápidas, menos complicações e menor custo. Esses resultados reforçam a escolha do PETS como técnica preferencial, desde que sua aplicação seja cuidadosa e individualizada, respeitando a anatomia e maturidade esquelética do paciente.
Veja também: Quando tratar o desalinhamento do joelho?
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