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Ortopedia20 agosto 2025

Marcadores inflamatórios elevados na ATJ de quadril: quando se preocupar?

Marcadores inflamatórios elevados no pré-ATJ de quadril nem sempre indicam infecção; avaliação clínica é essencial antes de adiar cirurgia.
Por Rafael Erthal

Você está prestes a operar um paciente com osteoartrite do quadril e, no pré-operatório, se depara com uma PCR discretamente elevada. Sem febre, sem queixas infecciosas, exames de imagem compatíveis com artrose. O que fazer? Adiar a cirurgia? Investigar mais a fundo? Ou seguir o plano? 

Essas dúvidas são mais comuns do que parecem, especialmente com o aumento de indicações de artroplastia total do quadril (ATQ) em pacientes com múltiplas comorbidades.  

Foi justamente para lançar luz sobre esse dilema que um grupo sul-coreano realizou um estudo retrospectivo com mais de 500 pacientes submetidos à ATQ primária, avaliando fatores associados à elevação de marcadores inflamatórios no pré-operatório – em especial a proteína C reativa (PCR), mas também VHS, leucócitos e neutrófilos. 

Veja mais: É possível prever necessidade de hemotransfusão antes da artroplastia de quadril?

Como o estudo foi feito? 

A pesquisa analisou retrospectivamente 511 pacientes submetidos à ATQ primária eletiva entre 2018 e 2022, após exclusão criteriosa: 

  • Foram excluídos casos com cirurgia prévia no quadril ipsilateral, revisões, follow-up menor do que 1 ano, infecção ativa evidente ou ATQ bilateral simultânea. 
  • Os pacientes foram divididos em dois grupos: 
  • Grupo A (n=432): PCR normal (≤ 0,5 mg/dL) 
  • Grupo B (n=79): PCR elevada (> 0,5 mg/dL). 
  • Além da PCR, foram avaliados: VHS (normal: 0-15 mm/h), leucócitos (limite superior: 10.000/μL) e neutrófilos. 
  • Diagnósticos pré-operatórios foram categorizados em: artrite do quadril, osteonecrose da cabeça femoral, fratura por insuficiência e anquilose do quadril. 
  • Comorbidades analisadas: doenças autoimunes inflamatórias (ex: lúpus, AR, gota), diabetes, insuficiência renal crônica, câncer, transplante de órgãos e ATQ contralateral. 
  • Análise estatística: Regressão logística multivariada para identificar fatores independentes associados à PCR elevada. 

O que o estudo nos mostra? 

  • Cerca de 15,5% dos pacientes apresentavam PCR elevada (> 0,5 mg/dL) no pré-operatório. 
  • O grupo com PCR elevada (grupo B) também apresentava, em média, VHS, leucócitos e neutrófilos mais altos do que o grupo com PCR normal (grupo A). 
  • Apesar disso, a incidência de infecção articular periprotética foi mínima e semelhante entre os grupos: apenas 1 caso em cada grupo. 

Fatores que aumentaram o risco de PCR elevada: 

Condição Risco (OR) IC 95% 
osteonecrose da cabeça femoral   3x 1,73–5,28 
fratura por insuficiência subcondral 5x 1,70–13,88 
Doenças autoimunes 3,85x 1,91–7,77 

O que isso muda na nossa prática? 

A grande mensagem é: PCR elevada nem sempre significa infecção, especialmente em pacientes com osteonecrose, fratura por insuficiência ou doenças autoimunes conhecidas. Esses diagnósticos parecem justificar uma resposta inflamatória sistêmica de base, sem necessariamente representar um risco aumentado de infecção. 

Além disso, o estudo mostra que marcadores como leucograma e VHS podem estar alterados mesmo na ausência de infecção  

Dicas práticas para o ortopedista 

  • Avalie o paciente como um todo: presença de dor articular intensa, sinais sistêmicos e achados de imagem são fundamentais. 
  • Uma PCR discretamente elevada não deve ser, isoladamente, motivo para adiar a cirurgia. 
  • Se houver dúvida clínica real sobre infecção, considere exames adicionais como punção articular com contagem de células e cultura. 
  • A PCR não é confiável isoladamente para prever infecção periprotética — sua especificidade é limitada e o contexto clínico se torna mais importante do que o dado em si. 

Em resumo, o estudo nos ajuda a tomar decisões mais seguras e embasadas, sem cair na armadilha de adiar uma cirurgia importante por uma elevação inespecífica de um marcador inflamatório.  

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Referências bibliográficas

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