A dor cervical é extremamente frequente e uma das principais causas de disfunção no mundo e muitas das vezes o tratamento inicial dessa patologia requer intervenção do fisioterapeuta para melhora dos sintomas. Os métodos de tratamento variam e hoje em dia vemos o crescimento do número de profissionais que realizam técnicas de manipulação cervical, além das técnicas clássicas de analgesia com aparelhos ou acupuntura. É fato que essas técnicas de manipulação cervical não são isentas de riscos para o paciente podendo levar a eventos adversos graves.
Esses eventos adversos graves podem ser principalmente vasculares com dissecção de artéria cervical levando a um acidente vascular cerebral, neurológicas com compressão medular e radiculopatia ou até mesmo combinadas. Diante disso, foi publicado recentemente no “ Journal of Bodywork and Movement Therapies” um estudo com o objetivo de identificar evidências na literatura para todos os tipos (vascular, neurológica, outros) de eventos adversos relatados em associação com qualquer tratamento conservador não medicamentoso de cervicalgia.
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Metodologia
A revisão sistemática pesquisou as bases de dados PubMed, EMBASE, CINAHL, Scopus, Cochrane, Web of Science e ICL (Index to Chiropractic Literature) até maio de 2023 incluindo apenas eventos adversos graves, definidos como classificados por 3 a 5 (Grau 3 – evento grave ou medicamente significativo que requer atenção médica,
Grau 4- evento com risco de vida exigindo atenção urgente, Grau 5 – morte relacionada ao evento adverso). Todos os tipos de estudos foram incluídos desde que relatassem eventos adversos após qualquer procedimento físico conservador direcionado à região cervical, tendo o paciente relatado queixa local ou não.
Resultados
Assim, 233 estudos que descrevem 334 eventos adversos graves foram identificados, tendo sido 41 relatados nos últimos 5 anos. Os resultados corroboraram análises anteriores, com a maioria dos eventos sendo vasculares (58%) com dissecção arterial e a maioria envolvendo manipulação (75%). No entanto, outros eventos menos conhecidos também foram identificados: casos como vazamentos de líquido cefalorraquidiano, paralisias do nervo frênico e descolamentos da retina. Os quiropratas foram os profissionais mais associados aos eventos adversos graves (54%).
Além disso, alguns seguiram procedimentos como testes vestibulares, mobilização suave, exercícios, acupuntura ou mesmo massagem. Os sintomas iniciais incluíram aumentos acentuados na dor de cabeça/pescoço, náusea, vômito, tontura e
sensório alterado durante o tratamento ou dentro de 48 horas. A maioria dos pacientes evoluiu favoravelmente (62%), 16% evoluíram com deficiência física, 6% morreram e o restante não foi especificado.
Conclusão
O estudo demonstrou que a maioria dos eventos adversos graves esteve associado à manipulação da região cervical quando comparado à outras formas de reabilitação das dores cervicais. No nosso dia a dia, é importante relembrar que não há evidência robusta na Literatura que demonstre superioridade das técnicas de manipulação de quiropraxia ou osteopatia em relação a outras técnicas de reabilitação no tratamento da dor cervical. Diante disso, não é aconselhável submeter o paciente a uma maior possibilidade de passar por um evento adverso grave podendo levar a uma sequela definitiva ou até à morte.
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