O dedo em gatilho é uma patologia extremamente frequente na população geral e especialmente em pacientes diabéticos. Os pacientes podem apresentar dor e travamento do dedo e o tratamento incialmente é realizado com medidas não-invasivas como fisioterapia, medicações orais e imobilizações. Quando não funcionam, pode-se lançar mão de procedimentos mais invasivos como as infiltrações com corticoesteroides e a cirurgia (que pode ser realizada tradicionalmente da forma aberta ou percutânea).
As infiltrações podem ser realizadas uma ou 2 vezes com taxa de sucesso de até 80% e a cirurgia aberta resolve o problema em 100% dos casos. A técnica percutânea tem sido realizada nos últimos anos com auxílio de ultrassonografia com a vantagem de poder ser realizada no consultório e a desvantagem da possibilidade de uma lesão iatrogênica de nervo digital principalmente no polegar. Ainda assim, a taxa de sucesso pode chegar a 97% em algumas séries.
Diante disso, foi publicado recentemente na revista “BMC Musculoeskeletal Disorders” um estudo com o objetivo de comparar o efeito da liberação percutânea da polia A1 com a injeção de esteroides no tratamento de dedos em gatilho. Também teve como objetivo descobrir as alterações morfológicas na liberação percutânea da polia A1 em dedos em gatilho.
Metodologia
O estudo foi um ensaio clínico randomizado (1:1) de um único hospital no Nepal com pacientes maiores de 18 anos com dedo em gatilho (classificação 1 a 4 de Quinnell) abordados com infiltração com corticoesteróides ou liberação percutânea da polia A1 entre janeiro de 2022 e agosto de 2023. Foram excluídos os pacientes que haviam recebido tratamento prévio para dedo em gatilho, dedo em gatilho em mais de um dedo, cirurgia prévia ou qualquer outra patologia da mão, como artrite reumatoide, osteoartrite, contratura de Dupuytren e diabetes mellitus.
Os desfechos primários avaliados foram a mobilidade funcional e a dor dos participantes enquanto a medida de desfecho secundária foi a espessura da polia A1 e do tendão. A mobilidade funcional foi avaliada por meio da classificação de Quinnell antes e após a intervenção, aos seis meses. A gravidade dos dedos em gatilho foi avaliada usando o sistema de classificação de Quinnell e A intensidade da dor foi avaliada por meio da Escala Visual Analógica (EVA) antes e após a intervenção, aos seis meses.
Resultados
A liberação percutânea da polia A1, do ponto de vista de melhora funcional, foi superior à injeção de esteroides, com um valor de p < 0,001 e um tamanho de efeito médio de 0,43. A pontuação da dor também foi mais reduzida no grupo de liberação percutânea que no grupo de esteroides (-5,1 ± 1,4 versus -3,7 ± 1,8), com uma diferença entre os grupos de 1,3 (IC 95%: 0,6 a 2,0), com um valor de p < 0,001 e um tamanho de efeito grande de 0,87.
Por outro lado, a injeção de esteroides diminuiu a espessura da polia A1 em comparação com a liberação percutânea (-0,34 ± 0,24 versus -0,21 ± 0,21), com um valor de p de 0,011 e um tamanho de efeito grande de 0,5. Além disso, a espessura do tendão reduziu mais no grupo do esteroide em comparação com o grupo de liberação percutânea (-1,12 ± 0,73 versus − 0,34 ± 0,41), com um valor p < 0,001 e um tamanho de efeito de 1,31.
O que podemos levar para casa?
O estudo demonstrou a superioridade da liberação percutânea em relação à infiltração nos pacientes com dedo em gatilho para melhora funcional e da dor. Entretanto, na nossa prática, seriam importantes estudos em larga escala comparando a liberação percutânea com a técnica aberta tradicional, principalmente no que diz respeito à possibilidade de lesão iatrogênica de nervos digitais e liberação incompleta.
Autoria

Giovanni Vilardo Cerqueira Guedes
Editor Médico de Ortopedia da Afya ⦁ Mestre em Ciências Aplicadas ao Sistema Musculoesquelético (INTO) ⦁ Ortopedista, Cirurgião da Mão e Microcirurgião formado pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad - INTO ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Fellowship em Cirurgia da Mão e Artroscopia de Punho pela International Bone Research Association - IBRA (Clínica Teknon, Barcelona, Espanha, 2022)
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