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Ortopedia24 julho 2025

Infecção em fratura infantil: rara, mas exige atenção

Infecção pós-fratura em crianças é rara, mas grave. Estudo mostra locais de risco, bactérias comuns e desafios no tratamento.
Por Rafael Erthal

Fraturas são quase parte da infância. Quedas em casa, no parquinho, nas quadras ou em esportes de contato fazem parte da rotina de crianças ativas. Mas em uma minoria dos casos, a história pode tomar um rumo bem menos previsível, e muito mais complicado: a infecção relacionada à fratura (ou Fracture-Related Infection, FRI). 

Um estudo tcheco publicado na revista “Injury” trouxe uma das análises mais completas até agora sobre FRI em pacientes pediátricos.  

fratura infantil

Métodos 

O grupo avaliou 1.156 cirurgias com osteossíntese realizadas entre 2019 e 2023 em crianças com fise aberta, identificando apenas 11 casos de infecção relacionada à fratura, uma incidência de 0,95%. Um número pequeno, mas com impactos significativos. A média de idade das crianças com FRI foi de 11 anos, variando de 4 a 17 anos.  

Discussão e Resultados 

O local mais frequentemente acometido foi o antebraço, mas os maiores riscos relativos foram observados na diáfise do úmero (7,7%), no fêmur proximal (20%) e em cirurgias no pé (até 25%), especialmente em procedimentos mais complexos. 

Um ponto interessante é que a maior parte das FRIs ocorreu após cirurgias de redução fechada — método, em teoria, menos invasivo. Isso acende um alerta: o tipo de fratura, a estabilidade da fixação e o local anatômico podem ser mais determinantes para o risco de infecção do que o grau de exposição cirúrgica propriamente dito. 

A principal bactéria isolada foi o já conhecido Staphylococcus aureus, presente em mais de 60% dos casos, seguido por S. epidermidis e Enterobacter cloacae. Um paciente apresentou infecção mesmo com culturas negativas, mas com sinais clínicos e histológicos claros, o que reforça a importância de critérios clínicos e microbiológicos combinados no diagnóstico. 

E o tratamento? Não é simples. Cada paciente com FRI precisou, em média, de 2,1 procedimentos cirúrgicos adicionais para controle da infecção, incluindo desbridamentos, troca ou retirada do implante, além de antibiótico-terapia intravenosa seguida por via oral, totalizando cerca de 6 semanas de tratamento. 

Apesar da gravidade dos casos, nenhum paciente da amostra teve recidiva da infecção, uma boa notícia que valida o uso dos critérios diagnósticos de FRI desenvolvidos para adultos também em pacientes pediátricos. 

Mensagem prática 

Para o ortopedista pediátrico, a principal mensagem é de vigilância: mesmo sendo uma complicação rara, a FRI pode surgir em locais e situações inesperadas. Fraturas do úmero, do fêmur e do pé, mesmo em crianças, devem ser cuidadosamente monitoradas, e o uso criterioso de antibióticos, especialmente em cirurgias abertas, continua sendo uma das melhores formas de prevenção. 

A infecção relacionada à fratura não é comum na infância, mas quando aparece, exige preparo, paciência e precisão. E isso só reforça a importância de estudar e aplicar protocolos específicos também para os nossos pequenos pacientes. 

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Referências bibliográficas

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