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Ortopedia17 novembro 2025

IL-6 vs. PCR: qual o melhor marcador para infecção aguda da prótese?

Estudo compara biomarcadores para infecção periprotética e aponta novos caminhos para o diagnóstico precoce. Confira os detalhes.
Por Rafael Erthal

A infecção associada à próteses articulares, também chamada de infecção periprotética (IPP), é uma temida complicação que representa a principal causa de falha precoce nas próteses de quadril e joelho. O diagnóstico desta complicação é bastante desafiador e requer a análise de exames complementares incluindo a dosagem de marcadores séricos de inflamação como a velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C-reativa (PCR).  

Estes marcadores são classicamente utilizados para o diagnóstico de infecções periprotética crônica, mas no cenário das infecções agudas, seu uso se torna mais desafiador pois embora estes marcadores sejam bastante sensíveis, carecem de especificidade visto que a própria resposta inflamatória ao trauma cirúrgico os eleva. Um estudo recente sugere que a interleucina-6 (IL-6), uma citocina pró-inflamatória, pode ser superior na detecção de casos agudos de infecção. 

Um estudo recente publicado na revista The Journal of Arthroplasty comparou a precisão diagnóstica de cinco biomarcadores séricos – IL-6, PCR, VHS, fibrinogénio (FIB) e contagem de plaquetas (PLT) nas infecções periprotéticas agudas e crônicas.  

infecção aguda da prótese

Metodologia 

A pesquisa foi conduzida no Hospital da Universidade de Lanzhou, na China e incluiu 218 pacientes submetidos a cirurgia de revisão de próteses do quadril ou joelho entre 2016 e 2022.  

A amostra foi dividida em três grupos: 

  • Infecção periprotética aguda:  46 participantes; 
  • Infecção periprotética crônica: 62 participantes; 
  • Falha mecânica não infecciosa (grupo controle) : 110 participantes.  

O diagnóstico de infecção seguiu os critérios do consenso internacional de 2013. Os marcadores foram avaliados nas amostras de sangue coletadas dos pacientes, e os resultados encontrados foram analisados quanto ao perfil de sensibilidade e especificidade através de curvas do tipo ROC.  

Resultados 

Os resultados encontrados indicaram que os diferentes marcadores apresentam um papel principal mais voltado para o diagnóstico nos casos agudos ou crônicos.  

  • IL-6 foi o marcador com melhor acurácia para o diagnóstico dos casos agudos de IPPAtravés da avaliação da curva ROC, o marcador apresentou um perfil de acurácia excelente utilizando um ponto de corte de 7.2 pg/mL, o que determina uma sensibilidade de 93.5% e uma especificidade de 83.6%. O seu valor preditivo negativo foi de 96.8%, indicando que um resultado negativo tem uma elevada probabilidade de excluir infecção. 
  • A PCR foi o melhor marcador para os casos crônicos. A análise da curva ROC estabeleceu um ponto de corte de 15.1 mg/L para uma sensibilidade de 77.4% e uma especificidade de 91.8%. 

Por que a IL-6 se destaca na infeção aguda? 

A explicação para o bom desempenho da IL-6 na avaliação dos casos agudos pode ser explicada pelo fato desta ser uma citocina de ação precoce, liberada nas fases iniciais de uma agressão, como uma infeção. Sua atuação na cascata inflamatória, sendo um dos principais indutores da produção de proteínas de fase aguda, incluindo o PCR sugere que em casos de IPP aguda, em que a resposta do hospedeiro é mais vigorosa e imediata, os níveis de IL-6 elevem-se de forma mais rápida e pronunciada, tornando-a um marcador mais sensível para a detecção precoce.  

Mesmos nos casos de infecção com culturas negativas a IL-6 apresentou uma taxa mais baixa de falsos negativos em comparação com os outros marcadores estudados.  

O que esta pesquisa pode mudar na prática? 

Com os resultados de estudos como este, novos protocolos e consensos para o rastreio e diagnóstico das IPP podem ser atualizados , especialmente no cenário das infecções agudas.  

Diagnosticar precocemente um caso de infecção aumenta as chances de sucesso com tratamentos que possam manter o implante evitando assim a necessidade de cirurgias adicionais promovendo redução dos custos e da morbidade associada a um caso de infecção aguda .  

Embora a IL-6 seja uma boa alternativa para a avaliação dos casos agudos, a PCR se mantém como um importante marcados para o rastreio das infecções crônicas.  

Os resultados desse estudo sugerem que o uso da IL-6 com o ponto de corte de 7.2 pg/mL se revela como um importante marcador de infeções periprotéticas agudas com excelente acurácia. Incorporar esse novo marcador em algorítimos futuros pode otimizar o tratamento dos desafiadores casos de infeções periprotéticas agudas.  

Autoria

Foto de Rafael Erthal

Rafael Erthal

Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁  Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁  Especialista em cirurgia de joelho ⦁  Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

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Referências bibliográficas

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