As fraturas de tornozelo são muito comuns e muitas das vezes exigem tratamento cirúrgico. Existem inúmeras maneiras de anestesiar o membro para o tratamento desse tipo de lesão incluindo anestesia geral, anestesia raquidiana/peridural, bloqueios de nervos periféricos e anestesia local, cada uma com suas próprias vantagens e desvantagens. Os bloqueios periféricos, por exemplo, levam a um risco de complicações neuropáticas com praxia.
Da mesma maneira, o uso de torniquete é importante e facilita em muitos dos casos, porém é um problema nos casos mais graves e com maior tempo cirúrgico, também podendo levar a complicações por uso prolongado. A técnica WALANT (anestesia local sem torniquete) com uma mistura de lidocaína e adrenalina é já bastante utilizada nas cirurgias de membro superior, mas tem pouco relato na literatura em cirurgias de membros inferiores.
Diante disso, foi publicado recentemente na revista turca “Ulus Travma Acil Cerrahi Derg” um estudo com o objetivo de avaliar prospectivamente os resultados clínicos da técnica WALANT no tratamento cirúrgico de fraturas de tornozelo, com foco nos parâmetros perioperatórios, dor pós-operatória precoce e resultados funcionais a longo prazo.
METODOLOGIA
O estudo incluiu pacientes que foram operados para fraturas de tornozelo entre junho de 2022 e novembro de 2023 divididos aleatoriamente nos grupos WALANT e raquianestesia. Foram incluídos pacientes maiores de 18 anos com fraturas bimaleolares e excluídos pacientes com comorbidades como vasculite, doença vascular periférica ou neuropatia periférica, fraturas expostas de grau 2 ou 3 de Gustilo-Anderson e casos de politraumatismo.
Foram avaliados parâmetros intraoperatórios (incluindo tempo cirúrgico) e desfechos pós-operatórios, como escores de dor avaliados pela Escala Visual Analógica (EVA), consumo de morfina em analgesia controlada pelo paciente (PCA) e escores da Sociedade Americana de Ortopedia do Pé e Tornozelo (AOFAS) em 12 meses de pós-operatório.
RESULTADOS
O grupo WALANT ficou com 16 pacientes enquanto o grupo raquianestesia ficou com 19. Ambos os grupos apresentaram características demográficas semelhantes (p>0,05). Não houve diferença significativa no tempo de sala cirúrgica entre os grupos (WALANT: 180,47 minutos vs. Raquianestesia: 190,94 minutos, p=0,30). A dor pós-operatória, avaliada por meio de escores EVA em 12 e 24 horas, não diferiu significativamente entre os grupos.
O consumo de morfina via PCA também foi semelhante (WALANT: 19,57 mg vs. Raquianestesia: 22,8 mg, p=0,291). No acompanhamento de 12 meses, os escores AOFAS foram semelhantes entre os grupos (WALANT: 80 vs. Raquianestesia: 83,1, p=0,388). No entanto, os níveis de ansiedade pré-operatória foram maiores no grupo WALANT (p=0,001).
MENSAGEM PRÁTICA
O estudo não observou diferenças significativas entre as técnicas anestésicas. A técnica WALANT pode ser particularmente vantajosa para pacientes com comorbidades cardiovasculares ou pulmonares, ajudando a evitar os riscos associados à anestesia sistêmica. Na prática, a técnica ainda é pouco utilizada por cirurgiões de membro inferior, mas pode ser usada com segurança.
Veja também: Anestesia local com paciente acordado e sem torniquete (walant): evidências atuais
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