A artroplastia total do joelho (ATJ) é um procedimento com excelentes resultados para o tratamento da osteoartrose avançada. No entanto, a rigidez pós-operatória, com uma incidência reportada de até 16%, permanece uma complicação desafiadora, podendo levar à necessidade de manipulação sob anestesia (MUA).
Uma meta-análise sistemática recente, publicada em 1º de abril de 2025 no periódico The Journal of Arthroplasty, buscou consolidar de maneira robusta as evidências sobre os preditores para essa complicação. O estudo foi conduzido por pesquisadores da Western Michigan University Homer Stryker M.D. School of Medicine, nos Estados Unidos.
O objetivo principal foi identificar e estratificar os fatores de risco para rigidez após ATJ primária que resultaram na necessidade de MUA. Para isso, os autores analisaram 53 estudos que, no total, agregaram dados de 2.931.517 pacientes, utilizando o instrumento Quality in Prognostic Studies para avaliação de viés.

Quais são os principais fatores de risco identificados?
A análise revelou cinco fatores de risco independentes e estatisticamente significativos:
- Idade Mais Jovem: Pacientes submetidos à MUA eram, em média, 4,23 anos mais jovens. Acredita-se que a maior capacidade regenerativa e a resposta fibroblástica mais exuberante em pacientes jovens contribuam para esse risco aumentado.
- Raça/Etnia Preta: Indivíduos que se autodeclararam pretos apresentaram risco quase duas vezes maior (OR: 1,94). As causas são multifatoriais, incluindo determinantes sociais de saúde e possíveis variações biológicas na resposta fibrótica.
- Tabagismo: O hábito de fumar foi associado a um aumento de 43% no risco. Os mecanismos incluem a proliferação de fibroblastos e o estado pró-inflamatório sistêmico induzido pelo tabaco.
- Classificação ASA ≤ 2: Pacientes com menor comprometimento sistêmico tiveram maior risco. Este fator está relacionado à idade mais jovem e reflete que pacientes mais saudáveis podem ter resposta inflamatória mais robusta.
- Cirurgia Prévia no Joelho: A história de procedimento cirúrgico anterior no joelho dobrou o risco de MUA. A presença de tecido cicatricial pré-existente é o mecanismo fisiopatológico hipotetizado.
E o que não se mostrou fator de risco?
Curiosamente, a meta-análise não encontrou evidências suficientes para estabelecer sexo do paciente, obesidade ou diabetes mellitus como fatores de risco independentes para a necessidade de MUA. Essa informação é valiosa para direcionar a atenção clínica para os fatores realmente relevantes.
Quais as implicações práticas desses achados?
O reconhecimento desses fatores de risco permite uma abordagem mais individualizada:
- Aconselhamento Pré-Operatório: Pacientes com esse perfil devem ser orientados sobre o risco aumentado de rigidez
- Reabilitação Intensificada: Garantir acesso imediato e consistente à fisioterapia, com monitoramento rigoroso do arco de movimento
- Estratégias Adicionais: O uso perioperatório de corticosteroides ou AINEs pode ser considerado para reduzir o risco de artrofibrose
Conclusão: Como aplicar esses conhecimentos?
Esta meta-análise robusta fornece evidências sólidas para a identificação de pacientes sob maior risco de rigidez pós-ATJ. A incorporação desses dados na prática clínica permite otimizar o manejo pré e pós-operatório, melhorar os desfechos funcionais e aumentar a satisfação do paciente, potencialmente reduzindo a necessidade de procedimentos intervencionistas adicionais.
Autoria

Rafael Erthal
Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁ Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁ Especialista em cirurgia de joelho ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
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