Um estudo recente publicado na revista Injury em setembro de 2025 traz novas evidências sobre uma técnica cirúrgica comum, por vezes subutilizada ou aplicada sem critérios claros: a dinamização da haste intramedular.
A pesquisa, conduzida por Pengzheng Yu e colaboradores de hospitais universitários na China, buscou responder a perguntas-chave que cercam esse procedimento. Afinal, qual é a real eficácia da dinamização para consolidações atrasadas e não consolidadas? Quais fatores determinam seu sucesso ou fracasso?
O objetivo deste estudo foi, portanto, realizar uma revisão sistemática e meta-análise robusta para quantificar a taxa geral de sucesso da dinamização e, crucialmente, identificar os fatores críticos que influenciam seus resultados. Os autores buscaram oferecer aos ortopedistas orientações baseadas em evidências para uma tomada de decisão mais precisa.
Qual foi o objetivo central do estudo?
A fixação intramedular é o padrão-ouro para fraturas diafisárias do fêmur e tíbia, com altas taxas de sucesso. No entanto, uma parcela dos pacientes enfrenta o desafio da consolidação atrasada ou da não união. Entre as opções de tratamento, a dinamização – que consiste na remoção seletiva de parafusos de bloqueio para permitir compressão axial no foco da fratura – é minimamente invasiva, mas sua eficácia relatada na literatura é bastante variável.
Como a pesquisa foi conduzida?
Os pesquisadores realizaram uma busca abrangente nas principais bases de dados médicas (MEDLINE, EMBASE e Cochrane) até setembro de 2024, identificando inicialmente 537 artigos. Após uma triagem rigorosa baseada em critérios pré-definidos – como foco em fraturas do fêmur/tíbia, uso de haste intramedular e relato de taxas de consolidação pós-dinamização –, 11 estudos foram incluídos na análise final, totalizando 318 pacientes. A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada, e os dados foram combinados estatisticamente utilizando um modelo de efeitos aleatórios para calcular uma taxa de consolidação global. Para investigar a heterogeneidade significativa entre os estudos, os autores empregaram meta-regressão e análises de subgrupos.
Quais foram os principais resultados encontrados?
A meta-análise revelou que a taxa de consolidação global após a dinamização da haste foi de 77,2%. No entanto, o resultado mais impactante veio da identificação dos fatores que modificam substancialmente esse desfecho:
- Momento da Dinamização: A intervenção precoce, realizada dentro de 6 meses da fratura, mostrou uma taxa de sucesso excepcional de 93%. Em contraste, a dinamização tardia (após 6 meses) teve uma eficácia significativamente menor (64,8%).
- Método Técnico: A técnica que preserva o parafuso de bloqueio dinâmico – mantendo a estabilidade rotacional – foi superior, alcançando 89,8% de consolidação, contra 65% quando todos os parafusos de uma extremidade eram removidos.
- Índice de Consolidação Óssea (FHI): O FHI, uma medida radiográfica que avalia a formação de calo, mostrou-se um preditor poderoso. Pacientes com FHI > 1,17 tiveram uma taxa de sucesso de 96,1%, enquanto aqueles com FHI < 1,17 apresentaram resultado insatisfatório (45,6%).
O que esses resultados significam para a prática clínica?
Este estudo fornece um roteiro valioso para o uso da dinamização. Ele sugere que a técnica não deve ser vista como uma solução única, mas sim aplicada de forma estratégica. A janela de oportunidade é clara: a dinamização deve ser considerada precocemente, idealmente antes de completar 6 meses, em pacientes que apresentam estagnação radiográfica, mas que demonstram um potencial biológico favorável, indicado por um FHI > 1,17.
Além disso, a técnica de preservar o parafuso dinâmico emerge como a abordagem preferencial, pois equilibra a necessária compressão axial com a manutenção da estabilidade rotacional, potencialmente reduzindo o risco de complicações como encurtamento do membro. Para casos com baixa formação de calo (FHI < 1,17), a dinamização isolada parece ser insuficiente, indicando a necessidade de se considerar outras estratégias, como a substituição da haste ou enxerto ósseo.
Em resumo, este trabalho consolida evidências e oferece parâmetros objetivos para que os cirurgiões possam selecionar os melhores candidatos para a dinamização, otimizando as chances de sucesso e evitando intervenções fadadas ao insucesso.
Autoria

Rafael Erthal
Conteudista do Afya Whitebook desde 2017 ⦁ Residência em Ortopedia e Traumatologia pelo INTO ⦁ Especialista em cirurgia de joelho ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
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