O tratamento ideal de fraturas de tornozelo envolvendo o maléolo posterior é controverso. O tamanho do fragmento foi considerado por muito tempo o guia nas decisões de fixação, apesar das evidências que apoiam isso serem inconclusivas.
A necessidade de fixação do maléolo posterior menores (<25%) permanece particularmente controversa, não há acordo sobre qual tamanho de fragmento deve ser fixado. Outro impasse é a possibilidade da não redução do maléolo posterior levar a osteoartrite pós-traumática grave e instabilidade posterior do tornozelo.
Foi publicado no Bone & Joint Journal o estudo multicêntrico que comparou os resultados funcionais e radiológicos após redução e fixação anatômica do maléolo posterior de médio porte com a ausência de fixação fraturas de tornozelo AO tipo B.
Metodologia
O estudo foi realizado em 2 centros de trauma holandeses de referência. Pacientes com fratura AO-44-B3 com fragmento do maléolo posterior de tamanho médio (5% a 25%) foram randomizados (1:1) em 2 grupos, grupo fixação (FIX) que consistia em da redução aberta e fixação interna e grupo sem fixação do fragmento (NO-FIX). Foi avaliada: funcionalidade (questionário da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos), presença de osteoartrose, qualidade da redução do fragmento e complicações após 1 ano.
Resultados
Foram avaliados entre 2014 a 2022, 81 pacientes, sendo 41 no grupo FIX e 40 no NO-FIX. Após um ano de acompanhamento, nenhuma diferença funcional pela escala da AAOS foi encontrada entre os grupos.
Osteoartrite (≥ grau 2) estava presente em quatro (17%) do grupo FIX e cinco (20%) no grupo NO-FIX (p = 0,763). Os escores de dor diminuíram durante o acompanhamento em ambos os grupos e foram menores no grupo NO-FIX. Degrau articular no pós-operatório > 1 mm na TC foi observado em 56% após FIX versus 71% após NO-FIX (p = 0,193). As taxas de complicações maiores no grupo FIX (18%), já no NO-FIX encontraram 5%.
Mensagem prática
O estudo demonstrou que em fragmentos do maléolo posterior entre de tamanho 5% a 25%, a fixação do fragmento não apresentou resultados funcionais ou radiológicos superiores após um ano de acompanhamento.
A fixação do maléolo posterior aumenta o tempo cirúrgico e se for feita de forma aberta, necessita de um posicionamento em decúbito ventral ou lateral que compromete o acesso medial, muitas vezes necessário para abordagem das fraturas de tornozelo.
Com o artigo podemos começar a repensar com parcimônia a real necessidade e benefício dessa fixação do maléolo posterior. Ficando o alerta do tempo curto de acompanhamento do estudo (um ano) e a indagação se esses resultados vão se repetir a longo prazo.
Veja também: A decisão de fixar o maléolo posterior deve se basear no tamanho do fragmento?
Autoria

Zaira Reinaldo de Sousa Moreira Pinto
Ortopedista especialista em pé e tornozelo e ortopedia pediátrica pelo Instituto de Traumatologia Ortopedia Romeu Krause - ITORK (PE). Médica pela Faculdade Integral Diferencial (PI) (2017). Residência médica em Ortopedia e Traumatologia pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia - INTO (2020). Mestrado profissional aplicado ao sistema musculoesquelético pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia - INTO (RJ) (2023).
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