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Ortopedia20 agosto 2025

Ácido tranexâmico em altas doses na cirurgia de escoliose adolescente

Metanálise avaliou se altas doses de ácido tranexâmico reduzem perda sanguínea em cirurgias de escoliose idiopática em adolescentes sem aumentar riscos

A cirurgia da coluna vertebral, especialmente em casos de deformidades complexas como a escoliose idiopática do adolescente ou a espondilolistese degenerativa, apresenta risco significativo de perda sanguínea, que pode aumentar a morbidade, prolongar o tempo de internação e elevar a necessidade de transfusões — e estas, por sua vez, associam-se com riscos imunológicos, infecciosos e consequentemente, maior custo hospitalar. 

Dentro deste contexto, o ácido tranexâmico (TXA) vem ganhando papel importante como agente antifibrinolítico adjuvante, por meio da inibição competitiva da ativação do plasminogênio, que reduz a degradação do coágulo fibrinoso e promove hemostasia intraoperatória eficaz, o que é favorável especialmente em cirurgias ortopédicas de grande porte. 

Numerosos estudos clínicos, incluindo ensaios randomizados e metanálises recentes, demonstram que o TXA, tanto em doses altas quanto baixas, é eficaz na redução da perda sanguínea e da necessidade transfusional em cirurgias de coluna, sem aumento significativo do risco de eventos tromboembólicos ou convulsões, especialmente em pacientes jovens e sem comorbidades.  

No entanto, ainda há controvérsias quanto à dose ideal, à via de administração mais eficaz e ao perfil de segurança em populações específicas, como idosos, pacientes oncológicos ou com histórico de epilepsia. Assim, a escolha da posologia deve ser individualizada, considerando o tipo de cirurgia, o risco hemostático, e a experiência da equipe cirúrgica e anestésica. 

A fim de avaliar a dose ideal do ponto de vista de eficácia e segurança, o artigo “Comparative efficacy and safety of high-dose versus low-dose tranexamic acid in adolescent idiopathic scoliosis” traz uma contribuição oportuna para a cirurgia da escoliose idiopática do adolescente (EIA) — um cenário em que a perda sanguínea intraoperatória ainda representa um dos principais desafios anestésico-cirúrgicos. 

O que o estudo analisou? 

Realizou-se busca nas bases PubMed, Web of Science, Embase, Cochrane Library e China National Knowledge Infrastructure (CNKI) até março de 2024, para identificar estudos controlados randomizados (RCTs) e estudos retrospectivos controlados (RCSs) que comparassem os efeitos de doses altas versus baixas de ácido tranexâmico (TXA) sobre a perda sanguínea perioperatória e a necessidade de transfusão em cirurgias de fusão espinhal para escoliose idiopática do adolescente.  

A metanálise utilizou após screening 6 estudos, envolvendo 611 indivíduos — sendo 304 no grupo de TXA em alta dose, e 307 no grupo de baixa dose, oferecendo dados comparativos entre doses altas e baixas de TXA.  

Foram avaliados perda sanguínea intraoperatória, taxa de transfusão e tempo cirúrgico.  

Principais achados 

Observou-se divergência entre os resultados dos estudos randomizados (RCTs) e os retrospectivos (RCSs), os autores atribuem maior peso aos RCTs — apesar de sua quantidade e tamanho amostral limitados. As diferenças podem ser explicadas por variações metodológicas. 

Apesar dos vieses e heterogeneidade entre os estudos, os dados sugerem que, em comparação com a baixa dose de TXA, altas doses não implicam em diferença significativa em termos de perda sanguínea, tempo cirúrgico ou taxas de transfusão entre doses altas e baixas.  

Não houve aumento estatisticamente significativo em efeitos adversos, como trombose ou convulsões — um receio comum em uso de TXA em altas doses. 

Limitações 

Ressalta-se que o artigo apresenta limitações importantes, como o número reduzido de estudos (apenas 6), amostras pequenas e falta de padronização nas doses de TXA e nos métodos de medição da perda sanguínea. Além disso, o acompanhamento dos pacientes foi curto, dificultando a avaliação da segurança a longo prazo. 

Assim, os resultados devem ser interpretados com cautela, e novos estudos randomizados, maiores, com dosagens padronizadas e acompanhamento prolongado, são necessários. 

Mensagem prática 

Na prática, sempre deve ser balanceado o controle hemostático e risco de efeitos adversos, visto que essas são cirurgias com tempo operatório mais prolongado, com maior exposição ao sangramento. Porém, para a utilização segura e eficaz, é essencial lembrar que a aplicação clínica da dose deve sempre considerar o treinamento da equipe anestésica, com avaliação pré-operatória rigorosa, além do monitoramento hemodinâmico contínuo. 

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Referências bibliográficas

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