Lives e mais lives, no Instagram, Facebook, YouTube, com médicos, outros profissionais de saúde ou de outras áreas, com pacientes, grupos de apoio e de advocacy, webmeetings, webinares, congressos virtuais com dias inteiros de apresentações, reuniões pelo Google Meet, pelo Teams da Microsoft. Sem falar no recém-famoso e onipresente Zoom. Reuniões de trabalho, com amigos, com familiares, reciclagem profissional, aulas de culinária, celebrações religiosas, festas de aniversário, orientações para home-schooling etc. E as consultas virtuais por telemedicina, reuniões de tumor boards? Dificuldades técnicas e pessoais em lidar com essas tecnologias (acontece muito nas teleconsultas)? E a qualidade do sinal da sua internet ou de quem está organizando a reunião?
Leia também: Estresse e isolamento: o ‘novo normal’ de ser profissional de saúde durante a Covid-19
Você se identificou, viveu ou está vivendo algumas ou várias destas situações destacadas?
Provavelmente sim. Seja participando só como expectador e mais ainda quando está ativamente organizando, palestrando ou debatendo nestes eventos virtuais.
Desde o início da pandemia, com o distanciamento e isolamento social, o “ficar em casa”, o home-office, faz com que todos achem que estamos mais disponíveis, que temos mais tempo! Qualquer hora é hora para fazer todo o tipo de reunião, não importa o dia ou a hora, se deixar TODAS as noites têm algum tipo de evento!
O teletrabalho nos forçou da “noite para o dia” a nos adaptarmos a essa nova realidade, e é natural que haja um exagero nestas demandas. Será que nestas reuniões conseguimos alcançar os mesmos resultados que conseguiríamos numa reunião presencial? Algumas vantagens são evidentes, a pontualidade é uma delas, a rápida disseminação de conhecimento (não só sobre Covid-19) é outra, o alcance de um público muito maior do que numa reunião presencial… em eventos noturnos raramente temos mais do que 30-50 pessoas, hoje não é incomum conseguirmos reunir 150, 300 ao mesmo tempo, de várias cidades e até de diferentes países.
Zoom fatigue
Alguns especialistas em psicologia e recursos humanos, estão identificando o aumento do estresse dos participantes dessas videoconferências. Daí vem o termo Zoom fatigue que obviamente não é culpa do Zoom. Parte da boa comunicação depende da comunicação não verbal que é vital nas reuniões presenciais, mas é bem mais difícil nas virtuais…expressões faciais, gestos, tom de voz, postura. É cansativo para quem assiste, pela necessidade de manter o foco e pode ser fonte de esgotamento para quem está falando. Em algumas dessas ferramentas nem vemos o rosto do palestrante, ou vemos uma “janelinha” entre muitas o que faz com que tenhamos que redobrar a atenção, nos vemos obrigados a fazer um esforço maior para nos expressar e para entender corretamente uns aos outros, o que gera um esforço psicológico excessivo!
E quanto mais gente na reunião, mas complicado fica, ainda mais se alguns participantes não tem a “ETIQUETA DIGITAL” necessária para não atrapalhar a reunião, como manter microfone aberto (e vídeo) enquanto não estiver falando e permitir ruídos (ou imagens) externos, que eventualmente podem até ser involuntários e divertidos, mas às vezes são constrangedores. Falar de forma desorganizada junto com quem já está falando ou deixar um silêncio longo demais. Dependendo da frequência dessas ocorrências o estresse, desgaste e o desinteresse de todos os participantes só aumenta.
Desgaste pelo isolamento
Outro ponto levantado pelos especialistas é que o próprio desgaste do confinamento acaba provocando um déficit de atenção generalizado. Muitas vezes nos distraímos desligando o nosso som e o nosso vídeo e lá vamos nós olhar o celular e as redes sociais. E a produtividade, onde fica? E a troca e interação com o palestrante ou chefe? Frequentemente não ocorre! Em algumas reuniões acabamos por captar menos pois estamos desgastados e distraídos. É ruim para todos!
Os palestrantes, debatedores, moderadores, têm de ficar o tempo todo preocupados com a postura, tom de voz, imagem que está no fundo da tela de vídeo, se o conteúdo compartilhado está visível, possíveis interrupções ou invasões inesperadas, problemas de conexão, mensagens da organização, perguntas por whatsapp ou no chat chegando em paralelo. Isso acaba tornando tensa a participação e gerando esgotamento.
Excesso na pandemia
Essa fadiga causada pela Zoomdemia, pelo excesso dessas reuniões virtuais que exigem múltiplas habilidades e atenção redobrada, leva a um desgaste físico também. Precisamos ter uma postura adequada já que muitas vezes ficamos horas sentados diante do computador, o que pode desencadear dores musculares, dores de coluna, etc. A longa exposição da luz da tela do computador é outro problema, pois piscamos menos, frequentemente podemos ter a vista seca, irritada, desencadear dores de cabeça pelo uso excessivo dos músculos oculares e peri-orbitários pelo esforço e concentração feito para acompanhar os conteúdos compartilhados, aumentando a chance de presbiopia e como muitas dessas reuniões são noturnas outro efeito colateral é comprometer o sono já que o brilho da tela ligada, a “adrenalina” da reunião e a menor produção de melatonina vão atrapalhar o descanso.
As videoconferências ou chamadas com múltiplos participantes não são ferramentas novas, mas “explodiram” com a pandemia, viralizaram mais que o coronavírus.TODOS parecem participar o tempo todo de alguma live, de algum meeting virtual, e quem não faz ou participa parece que não existe! Existe vida fora do Zoom e de seus similares! Temos de aprender a dizer NÃO e não nos sentirmos culpados por não participarmos de TODAS as reuniões convocadas pela empresa, amigos, familiares e colegas de profissão.
Mensagem final
Apesar dos problemas, esse modelo e essas ferramentas vieram para ficar, mas precisamos encontrar um equilíbrio. Uma dica do Diretor de Marketing do próprio Zoom, Derek Pando, (que passou dos 300 milhões de usuários este ano) é fazer um bom planejamento antes. Será que precisamos mesmo convocar uma videoconferência? O tempo será bem empregado? Será que já não fizeram um evento parecido dias antes?
Cheguei a pensar em organizar uma videoconferência pelo Zoom com especialistas para discutir e debater este tema tão atual, mas pensando bem, deixa para lá.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.