Estudo prospectivo avaliou a eficácia do tratamento com Luz Intensa Pulsada (IPL) como terapia adjuvante em crianças com conjuntivite alérgica sazonal refratária.
A conjuntivite alérgica sazonal (SAC) é mais prevalente na primavera e no outono e cursa com sintomas que incluem, principalmente, edema e prurido ocular, sensação de corpo estranho e secreção mucoide.
O ato de coçar os olhos, de difícil controle pelas crianças, tende a agravar os sintomas alérgicos. A SAC compreende uma reação de hipersensibilidade do tipo I e o tratamento comumente utilizado é a terapia medicamentosa que consiste em antialérgicos tópicos e, eventualmente, sistêmicos. A maioria dos pacientes apresenta boa resposta a esse tipo de terapia, contudo uma parcela desses pacientes apresenta refratariedade ao tratamento tradicional.
A luz intensa pulsada (IPL), inicialmente, era utilizada em tratamentos com finalidade cosmética, porém ao longo dos últimos anos, seu uso e aplicações terapêuticas têm sido descritos para o tratamento de doenças da superfície ocular como a disfunção da glândula meibomiana, olho seco, blefarite e ceratoconjuntivite.
Foi realizado um estudo prospectivo entre janeiro de 2022 e novembro de 2024 na província de Hebei (China) e publicado em 2025 na BMC Ophthalmology que teve por objetivo avaliar a aplicação da IPL no tratamento da SAC refratária em crianças.
MÉTODOS
Objeto e grupo de pesquisa
A pesquisa englobou pacientes com diagnóstico de conjuntivite alérgica sazonal do Departamento de Oftalmologia do Hospital Infantil de Hebei entre janeiro de 2022 a novembro de 2024. A primeira linha de tratamento medicamentoso foi a olopatatina a 0,1% (duas vezes ao dia). Pacientes com reações alérgicas graves ou sem melhora com esse colírio, foi adicionada à fluormetolona a 0,02% (3 vezes ao dia). Pacientes com sintomas evidentes ou episódios recorrentes após 2 semanas de tratamento medicamentoso foram incluídos no grupo de SAC refratária. Dessa forma, 31 pacientes entraram para o trabalho, dos quais 17 concordaram em receber tratamento com IPL e 14 seguiram apenas com tratamento medicamentoso (grupo controle). O olho direito de cada paciente foi selecionado como objeto da pesquisa.
Dentre os critérios de inclusão, destacam-se:
- Crianças menores de 15 anos;
- Atender aos critérios diagnósticos de conjuntivite alérgica;
- Não ter história de uso de lentes de contato;
- Não apresentar outras doenças inflamatórias oculares ou que possam cursar com olho seco ou disfunção meibomiana;
- Pressão intraocular normal;
- Não apresentar doenças autoimunes.
Critérios diagnósticos para SAC
Para fechar o diagnóstico da SAC, a queixa principal deve ocorrer majoritariamente na primavera ou no outono com sintomas como prurido ocular, sensação de corpo estranho, secreção mucoide e fotofobia. Ao exame físico observam-se variados graus de congestão e edema conjuntival, ausência de papilas na conjuntiva palpebral e ausência de lesões epiteliais corneanas.
Métodos de tratamento
Grupo 1: Grupo controle. Pacientes em uso de colírio de olopatadina e fluormetolona. Após 2 semanas, descontinuou-se a fluormetolona e manteve apenas a olopatadina.
Grupo 2: Pacientes que receberam IPL além do tratamento medicamentoso. Inicialmente, os pacientes receberam uma sessão de tratamento com IPL e o tratamento medicamento seguiu igual ao grupo controle.
As crianças foram colocadas em decúbito dorsal com máscaras oculares de cerâmica protegendo os olhos. Um agente de acoplamento foi posicionado nas pálpebras inferiores e nas têmporas. O médico utilizou óculos de proteção e aplicou a IPL do canto nasal ao canto temporal da pálpebra inferior. Cada olho foi irradiado 5 vezes com uma energia entre 8 e 12J/ cm² (iniciou-se com uma energia menor e foi progredindo de acordo com a tolerância de cada criança). Cada criança foi acompanhada posteriormente para avaliar se houve alguma reação adversa.
Indicadores de observação
Foram preenchidos questionários e indicadores antes do tratamento e uma semana após. Foram preenchidos questionários de sintomas da superfície ocular que foram preenchidos em conjunto pelo responsável e pela criança. Além disso, foram descritos pelo médico os sinais e indicadores referentes a alterações da superfície ocular observados durante análise via lâmpada de fenda.
Análise estatística
A análise foi conduzida utilizando o software IBM SPSS Statistics26. As diferenças de gênero entre os dois grupos foram realizadas via qui-quadrado, as diferenças de idade foram comparadas via teste de t para amostras independentes. Foram analisadas a média e desvio padrão do questionário de sintomas da superfície ocular e da pontuação dos sinais da superfície ocular. Teste t para amostras independentes foi realizada para comparação intergrupos. Teste t para amostras pareadas foi realizado para comparação antes e depois do tratamento dentro do mesmo grupo. Foi considerado estatisticamente significativo p < 0,05.
RESULTADOS
Assim, 17 crianças (11 meninos e 6 meninas com idade média de 7,47 anos) compuseram o grupo IPL e 11 crianças (8 meninos e 6 meninas com idade média de 7.79 anos) compuseram o grupo controle. Não houve diferença significativamente estatística entre os dois grupos em relação à idade e o gênero.
Sintomas de superfície ocular
Após o tratamento com IPL, a pontuação para prurido ocular, lacrimejamento e secreção ocular foram todos menores em relação ao início do tratamento (p<0,05). Contudo, não houve diferença estatisticamente significativa na pontuação na percepção de corpo estranho antes e após o tratamento (p>0,05).
Não houve diferença estatisticamente significativa em relação à pontuação na percepção de prurido ocular, lacrimejamento, secreção ocular e sensação de corpo estranho antes e após o tratamento no grupo controle.
Nenhum efeito adverso foi observado em ambos os grupos.
A pontuação total dos sinais de superfície ocular avaliados via lâmpada de fenda de ambos os grupos (IPL e controle) foi menor após o tratamento em relação ao início do tratamento com diferença estatisticamente significativa (p<0,01).
DISCUSSÃO
A SAC é o tipo mais comum e prevalente de conjuntivite alérgica e os colírios antialérgicos compreendem o tratamento principal. Contudo, alguns pacientes, em especial, algumas crianças, apresentam refratariedade ao tratamento clínico permanecendo sintomas oculares como prurido à despeito da terapia clínica.
O estudo em questão mostrou que a IPL, quando associada ao tratamento clínico, melhora significativamente os sintomas subjetivos da superfície ocular (como o prurido, o lacrimejamento, a hiperemia e o edema ocular).
A IPL utiliza uma luz policromática (515-1200nm) que é absorvida seletivamente pela hemoglobina de capilares anormalmente dilatados na superfície ocular. Com isso, ocorre conversão em calor, com a formação de microtrombos que bloqueiam esses vasos e reduzem a inflamação local e diminuem a liberação de mediadores inflamatórios.
A IPL aplicada à SAC refratária apresentou efeito anti-histamínico e inibidor da degranulação mastocitária com consequente alívio do prurido e demais sintomas oculares associados ao quadro alérgico.
Durante o estudo, não foram observadas reações adversas significativas.
LIMITAÇÕES
O estudo em questão apresentou um curto período de seguimento (uma semana) dos pacientes avaliados. Além disso, a amostra compreende um pequeno número de crianças e podem ocorrer vieses por vários fatores. Dessa forma, os resultados dessa pesquisa precisam ser verificados em estudos prospectivos, multicêntricos, randomizados e controlados com amostras grandes.
MENSAGEM PRÁTICA
A IPL pode ser uma importante e eficaz ferramenta no manejo de pacientes com SAC refratária na medida em que é um tratamento não invasivo, rápido e com baixa dor. Contudo, são necessários estudos mais robustos para ratificar os resultados encontrados.
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