Um aumento global no número de pessoas com condições oculares foi visto na última década. A catarata continua sendo a principal causa de deficiência visual nos países em desenvolvimento, já que a crescente idade da população aumenta a incidência de doenças posteriores crônicas.
Os níveis crescentes de poluição, uso prolongado de corticóides e aumento de doenças alérgicas estão associados com alterações da superfície ocular, como a ceratoconjuntivite seca e a síndrome do olho seco. Outras condições como a artrite reumatoide, esclerose múltipla e diabetes também têm repercussões no olho. Pacientes diabéticos têm 25 vezes mais chances de se tornarem cegos.
Existe uma demanda crescente para soluções mais efetivas e confortáveis para os pacientes em relação a tratamentos oftalmológicos. A evolução da tecnologia, trazendo maior conforto, a implementação da educação do paciente desde o início do uso e o monitoramento são fatores críticos para aumentar a adesão ao uso das lentes de contato. Uma revisão publicada em 2021 fala sobre o desenvolvimento dessas lentes terapêuticas nos últimos dez anos. Os métodos para se obter lentes terapêuticas são: imersão, revestimento, impressão molecular, incorporação de nanocarreadores ou lentes com reservatórios de drogas.
Quando prescrever lentes de contato terapêuticas
No tratamento de quais doenças essas lentes poderiam ser usadas?
- Glaucoma
- Catarata (administração de inibidores de aldose reductase e antioxidantes poderia retardar a catarata diabética e também de antibióticos e antinflamatórios no pós-operatório. Esse último seria mais eficiente em lentes intraoculares com as drogas);
- Doenças corneanas: ceratoconjuntivite seca, síndrome do olho seco, ceratites, ceratopatia de exposição, ceratopatia bolhosa, distrofia de fuchs;
- Doenças do segmento posterior (degeneração macular, retinopatia diabética e edema macular diabético).
Discussão
Muitos exemplos de lentes de contato terapêuticas e lentes intraoculares foram desenvolvidas na última década com resultados promissores. O uso de lentes desse tipo pode substituir a aplicação tópica de colírios aumentando o tempo da droga na córnea, maior biodisponibilidade e maior adesão do paciente.
O tratamento local é vantajoso em relação à administração de drogas sistêmicas, evitando altas concentrações no sangue e efeitos colaterais. Entre as diversas possibilidades para administração de drogas, os colírios são a via mais fácil mas alguns pacientes têm problemas em relação à adesão do tratamento. É estimado que pacientes em pós-operatório de catarata apliquem apenas a metade das doses dos colírios que lhes são prescritos. Também se questiona a perda de colírio no lacrimejamento ou em gotas não colocadas exatamente na superfície.
Lentes de contato que administram drogas poderiam evitar a necessidade de administração frequente de colírios, aumentando o conforto e adesão dos pacientes. Aumentando o tempo de contato da droga com a córnea, a biodisponibilidade também aumenta enquanto a necessidade da dose para atingir o efeito terapêutico diminui. Consequentemente a absorção sistêmica da droga é menor se comparada com colírios.
Lentes intraoculares com drogas também poderiam ser boa opção para tratamento único de sintomas agudos (inflamação ocular pós-operatória). Um aumento significativo no número de usuários de lentes de contato é visto nas últimas duas décadas, hoje chegando em 150 milhões de pessoas.
Conclusão
Lentes intraoculares terapêuticas parecem ser uma profilaxia eficiente da inflamação e infecção pós-operatória, podendo substituir temporariamente injeções intraoculares em doenças crônicas. Apesar das pesquisas relacionadas ao tratamento do glaucoma, os testes in vivo foram feitos somente em coelhos, cachorros e macacos, sem testes pré clínicos e clínicos em pacientes com glaucoma ainda.
Em relação às ceratopatias, poucos exemplos de lentes de contato estão realmente presentes no mercado. A possibilidade de tratamento simultâneo de diferentes doenças também é um objetivo das lentes terapêuticas. O tratamento das doenças do segmento posterior ainda é desafiador e pouco explorado.
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