Existe relação entre fibromialgia e corioretinopatia serosa central?
A fibromialgia é uma condição caracterizada por dor musculoesquelética difusa crônica e desconforto. Afeta qualquer pessoa – mais comum no sexo feminino.
A fibromialgia é uma condição caracterizada por dor musculoesquelética difusa crônica e desconforto. Afeta todas as raças, etnias, classes econômicas e grupos etários (incluindo crianças), sendo mais comum no sexo feminino (9:1). A incidência é de 2-3% no Brasil e aumenta com a idade, sendo mais frequente entre 20-55 anos.
São distúrbios associados ao diagnóstico de fibromialgia:
- Ansiedade/Estresse;
- Depressão;
- Letargia;
- Distúrbios do sono;
- Alterações gastrointestinais;
- Sintomas psiquiátricos (Transtornos do humor e de personalidade).
E qual seria a relação desta síndrome de causa ainda pouco esclarecida com uma doença retiniana, conhecida como corioretinopatia serosa central (CSR)?
A corioretinopatia serosa central é uma maculopatia comum que envolve descolamento seroso da retina neurossensorial associada a lesões focais no epitélio pigmentar da retina e com distúrbios circulatórios da vasculatura coroidal. Apesar da patogênese ser ainda pouco conhecida, alguns fatores poderiam precipitá-la, como:
- Tabagismo;
- Estresse/Depressão/Personalidade tipo A: principal fator associado;
- Gravidez;
- Hipercortisolismo.
Em geral, indivíduos com CSR são saudáveis. É um processo autolimitado no qual a acuidade visual melhora em 1 a 4 meses após o início. A recorrência é comum, acontecendo em 30-50% dos pacientes e dentro do primeiro ano. Alguns pacientes com recorrências frequentes podem desenvolver uma atrofia do epitélio pigmentar e alterações da retina neurossensorial, resultando em perda visual de acuidade visual, visão de cor ou sensibilidade ao contraste permanentes.
Em comum entre a fibromialgia e a CSR temos portanto semelhanças na etiopatogênese (como perfil de personalidade, estresse, depressão e níveis de cortisol). As desordens psiquiátricas associadas à fibromialgia podem estar envolvidas na recorrência da CSR. Além disso a presença de estresse/ansiedade após diagnóstico de CSR também pode ter um papel no desenvolvimento da fibromialgia.
Estudo publicado nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia por Balkarli et al. investigou a frequência de fibromialgia em pacientes com CSR. Foram avaliados 83 pacientes com diagnóstico de serosa central atendidos no departamento de oftalmologia do hospital Antalya, na turquia. O grupo controle era formado por 201 funcionários saudáveis do hospital.
A média de duração da CSR foi de 18.8+-16.6 meses. A fibromialgia foi diagnosticada em 42.2% dos pacientes com corioretinopatia e em apenas 10.4% do grupo controle (P<0.001). No grupo com CSR e fibromialgia, 40% eram mulheres e 60% homens. O estresse familiar foi considerado importante fator de risco para desenvolvimento de fibromialgia (OR 11.553). Os questionários de depressão e ansiedade tiveram pontuações maiores em pacientes com corioretinopatia que tinham fibromialgia do que nos pacientes sem fibromialgia.
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Os resultados indicam que pacientes que tenham diagnóstico de CSR devam ser avaliados quanto a possibilidade de síndrome fibromiálgica. O diagnóstico de fibromialgia é importante tanto na identificação de comorbidade psiquiátricas quanto no tratamento da corioretinopatia. Foi sugerido que a depressão observada em pacientes com fibromialgia tem características diferentes daquela em outros indivíduos. Ideação negativa, sensação de abandono e ansiedade são mais comuns na síndrome fibromiálgica. Além disso, a dor generalizada causa piora da qualidade de vida e problemas psicossociais, devendo ser abordada de forma multidisciplinar.
Em relação a CSR, devemos lembrar sempre que é importante tentar modificar os fatores de risco para evitar recorrências e perda de função visual. Para isso deve-se considerar sempre o tratamento concomitante da fibromialgia se presente, reduzindo assim os fatores de estresse.
Referências:
- Frequency of fibromyalgia syndrome in patients with central serous chorioretinopathy. Ayse Balkarli1, Muhammet Kazim Erol2, Ozgur Yucel2, Yusuf Akar3. ABO jan/fev 2017.
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