FDA aprova nova terapia medicamentosa, Epioxa, que dispensa a remoção do epitélio corneano durante o cross-linking, o que minimiza a dor e favorece a recuperação dos pacientes com ceratocone submetidos a esse procedimento
O ceratocone é a principal causa de ectasia corneana progressiva e caracteriza-se por um afinamento estromal e protrusão apical que induz miopia e astigmatismo irregular com consequente redução da qualidade visual. É uma doença multifatorial que compreende uma predisposição genética subjacente, muitas vezes atrelada a distúrbios do colágeno, exacerbada por fatores ambientais, como o microtrauma crônico causado pela fricção ocular ao coçar os olhos, especialmente nos pacientes atópicos.

Manejo do ceratocone
O manejo do ceratocone envolve dois tipos de abordagens: a reabilitação visual e a estabilização da doença. No âmbito da reabilitação visual, destacam-se medidas menos invasivas como a prescrição de óculos e lentes de contato gelatinosas ou rígidas e medidas cirúrgicas como o implante de segmentos de anéis intraestromais e, em casos mais avançados, a ceratoplastia (penetrante ou lamelar anterior profunda – DALK).
Contudo, no âmbito da terapia para estabilização do ceratocone, o único procedimento terapêutico comprovado capaz de estabilizar a biomecânica da córnea e interromper e/ou retardar a progressão da doença é o cross-linking do colágeno corneano (CXL).
Cross-linking do colágeno corneano
O CXL baseia-se na fotopolimerização da riboflavina (vitamina B12) ativada por radiação UVA (365nm), criando novas ligações covalentes entre as fibras de colágeno. Os protocolos tradicionais, como o Protocolo de Dresden, envolvem a remoção do epitélio corneano, o que está resulta em dores no pós-operatório, lenta recuperação visual e um pequeno, mas real, risco infeccioso. Com isso, fora impulsionado o desenvolvimento do CXL transepitelial que visa a manutenção da integridade epitelial. Contudo, o desafio histórico do CXL transepitelial consiste na penetração da riboflavina (hidrofílica) através do epitélio (lipofílico).
Aprovação da Epioxa™ pelo FDA
Nesse contexto, dia 17 de outubro de 2025, a Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) aprovou a primeira medicação, Epioxa™ HD 0.239% / Epioxa™ 0.177% (solução oftálmica de riboflavina 5-fosfato), que permite a realização do CXL transepitelial, ou seja, sem a remoção do epitélio corneano.
A aprovação baseou-se em dois ensaios clínicos randomizados (Estudo 1: ClinicalTrials.gov: NCT03442751; Estudo 2: ClinicalTrials.gov: NCT05759559) que avaliaram a segurança e eficácia da riboflavina 5-fosfato com irradiação UVA e oxigênio suplementar em pacientes com ceratocone. Em ambos os estudos, os participantes foram randomizados na proporção 2:1 para receber o tratamento CXL ou o controle com veículo.
O desfecho primário analisado foi a mudança da linha de base na ceratometria máxima (Kmax) aos 6 meses e aos 12 meses. O Estudo 1 compreendeu 279 olhos tratados, com Kmax basal de 59,4 dioptrias (D) no braço de tratamento CXL (n=189) e 59,3D no braço controle (n=90).
Houve melhora estatisticamente significativa com base no Kmax em relação ao controle aos 6 meses (diferença de tratamento, -1,0D [IC 95%, -1,5, -0,4]; P < 0,01) e aos 12 meses (diferença de tratamento, -1,1 D [IC 95%, -1,6, -0,6]; P < 0,01). O Estudo 2 consistiu em 312 olhos tratados, com Kmax basal de 58,0D no braço de tratamento CXL (n=200) e 58,1D no braço controle (n=112).
O tratamento CXL levou à melhora estatisticamente significativa com base na mudança da linha de base no Kmax em relação ao grupo controle aos 6 meses (diferença de tratamento, -0,6 D [IC 95%, -0,9, -0,2]; P < 0,01) e aos 12 meses (diferença de tratamento, -1,0 D [IC 95%, -1,3, -0,6]; P < 0,01).
Foram observados os seguintes efeitos adversos: hiperemia conjuntival, opacidade corneana (haze), fotofobia, ceratite punctata, dor e irritação ocular, aumento do lacrimejamento, defeitos do epitélio corneano, edema palpebral, redução da acuidade visual, olho seco e reação de câmara anterior.
Mensagem prática
Dessa forma, o Epioxa se apresenta como uma mudança de paradigma importante no tratamento do ceratocone. Isso ocorre na medida em que ele permite a realização do CXL mantendo a integridade epitelial, o que foi possível por meio de uma nova formulação de riboflavina que possui agentes que facilitam a penetração através do epitélio íntegro.
Além disso, essa nova modalidade trabalha com um ambiente enriquecido com oxigênio via “O2n System” e os “Boost Goggles” que fornecem oxigênio suplementar à superfície da córnea durante a irradiação UV.
Com isso, ocorre controle da hipóxia e maximiza a reação do CXL, mesmo com o epitélio íntegro. A manutenção da integridade epitelial aumenta o conforto do paciente, com redução importante da dor no pós-operatório, permite uma rápida recuperação, aumenta a segurança ao diminuir o risco infeccioso e aumenta a adesão ao tratamento.
Contudo, apesar dos resultados animadores, é imprescindível um olhar cauteloso. Mais estudos são necessários para corroborar a eficácia e segurança a longo prazo.
Autoria

Pedro Hélio Estevam Ribeiro Júnior
Graduação - Medicina: Universidade Federal de Uberlândia • Residência - Oftalmologia: Universidade Federal de Uberlândia • Título de Especialista em Oftalmologia pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO/AMB) • Fellowship - Glaucoma Clínico e Cirúrgico - Glaucoma Instituto • Mestrado - Universidade Federal de Uberlândia • Preceptor de Oftalmologia no Hospital Universitário Sagrada Família / IMEPAC (Araguari) • Chefe do setor de Glaucoma do Hospital Universitário Sagrada Família / IMEPAC (Araguari).
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