A revista JAMA lançou um editorial no final de setembro deste ano comentando as relações entre o novo coronavírus (causador da Covid-19) e a Oftalmologia.
No primeiro estudo preliminar de características dos achados oculares em 38 pacientes hospitalizados na China, Wu et al reportaram conjuntivite em 12 pacientes (38%). Material viral foi detectado em swab de conjuntiva em 2 de 11 pacientes (18%). Os achados oculares como epífora, congestão conjuntival e quemose, aparentaram ser mais comuns em pacientes com manifestações sistêmicas mais graves. Foram relacionados com outras complicações respiratórias.
Não é incomum às infecções respiratórias ter quadro de conjuntivite associada e provavelmente esses achados oculares são relacionados ao porque o Dr. Li Wenliang, oftalmologista chinês em Wuhan, foi um dos primeiros médicos a alertar a possibilidade de uma nova pandemia. Ele deve ter reconhecido casos de conjuntivite entre pessoas com sintomas de Covid-19 e inclusive foi infectado. Os achados sugerem que os trabalhadores da saúde considerem não só a transmissão respiratória a partir do nariz e da boca, mas também a transmissão ocular.
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Proteção contra Covid-19
Especialistas em controle de infecção começaram a recomendar equipamento de proteção individual para prevenir transmissão respiratória e ocular. Os guias de várias sociedades oftalmológicas sugeriram o uso de um protetor de lâmpada de fenda para tentar reduzir a transmissão por gotículas. Recentemente, uma simulação dessa situação sugeriu que esses protetores não protegeriam totalmente um indivíduo da contaminação durante o exame.
Outro estudo na Turquia mostrou que mesmo seguindo os protocolos de limpeza das salas durante o exame de 22 pacientes assintomáticos, foram avaliadas 7 amostras retiradas no início e no final do dia dos protetores de lâmpada e das superfícies do foróptero e foi encontrado SARS-CoV-2 em 2 das 7 amostras pós exames no final do dia.
Novas ferramentas na oftalmologia
Com a crise, surgem oportunidades para que a pesquisa melhore a saúde pública. Recentemente oftalmologistas mostraram como pesquisadores poderiam usar um centro de informações para guiar uma triagem para agendamentos oftalmológicos através de um algoritmo que avalia o risco de progressão do glaucoma X o risco de morbidade pela Covid-19 durante o atendimento médico. Essa ferramenta poderia ser expandida para avaliar o risco de progressão de retinopatia diabética e DMRI neovascular.
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Óculos
Em outra investigação recente, Zeng et al. relata que entre 276 pacientes no início da pandemia admitidos no hospital com PCR positivo para Covid-19, a proporção de pacientes que usavam óculos rotineiramente era menor que a população geral, sugerindo que os óculos poderiam atuar como uma barreira que reduziria a frequência com que as pessoas tocam seus olhos. Essa relação causa efeito foi questionada por outros autores.
Mensagem final
Sem dúvida, o momento que vivemos este ano é único na medicina. Nos ensinou muito sobre esse novo vírus, mas também sobre viver em comunidade e proteger uns aos outros. Aos pesquisadores, que continuam incansáveis em busca de produzir ciência e nos ajudar na condução deste momento da melhor forma possível, só podemos agradecer.
Referências bibliográficas:
- Bressler NM. Ophthalmology and Covid-19. JAMA.2020;324(12):1143–1144. doi:10.1001/jama.2020.17595
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