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Oftalmologia8 maio 2025

Benefícios da ingestão de chocolate amargo na funcionalidade dos vasos da retina

O principal objetivo desse ensaio clínico foi avaliar o efeito do chocolate amargo na funcionalidade e anatomia dos vasos da retina em indivíduos saudáveis

Diversos estudos publicados já demonstraram os efeitos benéficos do cacau e chocolate amargo. Os polifenóis do cacau exercem efeitos antioxidantes e atividades anti-inflamatórias em várias vias de sinalização, induzindo a liberação de óxido nítrico (NO) e resultando em vasodilatação e efeitos protetores para o sistema cardiovascular e sistema nervoso central.  

A liberação de NO causa vasodilatação arterial em indivíduos saudáveis ​​e exerce atividade anti-inflamatória in situ ao diminuir o recrutamento de leucócitos e a agregação plaquetária. 

A literatura diverge sobre os efeitos do chocolate na visão, porém a introdução de novos métodos de imagem e funcionais, especialmente a angiografia por tomografia de coerência óptica (OCT-A) e o analisador dinâmico de vasos (DVA), tornou possível esclarecer vários aspectos relacionados à fisiopatologia ocular, o que permite uma avaliação mais detalhada sobre os efeitos do chocolate nos vasos da retina.  

O DVA estuda de forma não invasiva a função endotelial usando o princípio do acoplamento neurovascular e é considerado um teste anatômico-funcional. 

Um ensaio clínico prospectivo, randomizado, cego e cruzado incluiu indivíduos saudáveis ​​de abril de 2021 a julho de 2021. O principal objetivo desse ensaio clínico foi avaliar o efeito do chocolate amargo na funcionalidade e anatomia dos vasos da retina em indivíduos saudáveis. 

retina

Métodos  

Os critérios de inclusão para o grupo de estudo foram: (1) idade igual ou superior a 18 anos; (2) voluntários saudáveis ​​que podem entender e assinar o consentimento informado. Os critérios de exclusão incluíram: (1) incapacidade de seguir os procedimentos planejados; (2) opacidade da dioptria influenciando a execução dos exames; (3) patologias oculares e hipertensão sistêmica; (4) miopia maior que − 8,0 dioptrias (D), hipermetropia maior que 5,0D e/ou astigmatismo maior que 3,0D. 

Indivíduos saudáveis ​​foram submetidos a uma avaliação oftalmológica completa no início do estudo, incluindo a avaliação da melhor acuidade visual corrigida para longe (BCVA do inglês: Best Corrected Visual Acuity) e avaliação de imagem multimodal.  

Os indivíduos saudáveis ​​foram avaliados usando tomografia de coerência óptica de domínio espectral estrutural (SD-OCT), OCT-A, avaliação da funcionalidade vascular da retina por DVA e avaliação do diâmetro do vaso da retina usando o Retinal Vessel Analyzer (RVA). Os mesmos indivíduos repetiram a avaliação oftalmológica completa duas horas após consumir chocolate amargo ou chocolate ao leite.  

Todos os indivíduos foram randomizados em 2 grupos diferentes, o primeiro grupo começou com a administração de chocolate amargo (20g contendo 400 mg de flavonoides e mais de 90% de cacau puro) e, após 1 semana, repetiu todos os exames após a ingestão de chocolate ao leite (7,5g contendo aproximadamente 30% de cacau puro), enquanto o segundo grupo começou com a administração de chocolate ao leite e, após uma semana, repetiu todos os exames após o chocolate amargo.  

Os participantes foram instruídos a evitar fumar e ingerir cafeína, álcool e laticínios 24 horas antes dos exames. Além disso, para evitar possíveis efeitos de confusão devido a alterações na pressão arterial, todos os indivíduos foram instruídos a descansar na cadeira de exame por 10 minutos antes do exame. Todos os pacientes foram testados entre 9 e 11 horas da manhã e todos os exames foram realizados por um único avaliador treinado.  

Os resultados primários do estudo envolveram avaliar as alterações na perfusão da retina usando OCT-A e alterações na resposta vascular da retina à estimulação de cintilação usando DVA após ingestão de chocolate amargo. A análise estatística foi realizada usando o software estatístico SPSS versão 28.0.1.0. Em todas as análises, valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. 

Resultados  

Assim, 20 olhos de 20 indivíduos saudáveis ​​ foram incluídos nesse estudo. Doze indivíduos (60%) eram mulheres e 8 indivíduos (40%) eram homens. Todos os pacientes eram caucasianos e a idade média era de 24,4 ± 1,6 anos (mediana 24, intervalo 23–29). A BCVA foi equivalente a 20/20 Snellen (0,0 ± 0,0 LogMAR) em todos os pacientes e o erro refrativo médio foi de − 1,8 ± 2,1D (mediana − 0,75, intervalo − 5,00 a + 0,50). 

Houve um aumento significativo na porcentagem de dilatação arterial após a ingestão de chocolate amargo em comparação à linha de base (dilatação arterial média de 2,750 ± 2,054% na linha de base vs. 4,145 ± 3,055% após a ingestão de chocolate amargo, p = 0,016). Essa diferença não foi revelada após a ingestão de chocolate ao leite (p = 0,465). Por outro lado, a constrição arterial após a dilatação devido à luz cintilante não mostrou alterações após a ingestão de chocolate amargo e chocolate ao leite (p = 0,934 e p = 0,575, respectivamente).  

Analisando a porcentagem de dilatação venosa, houve uma tendência crescente após a ingestão de chocolate amargo (dilatação venosa média de 3,265 ± 3,159% na linha de base vs. 4,465 ± 2,969% após a ingestão de chocolate amargo, p = 0,086) e mudanças menores após a ingestão de chocolate ao leite (p = 0,124).  

Não houve nenhuma mudança significativa no diâmetro médio dos principais vasos da retina após ambas as ingestões de chocolate. Em relação à análise dos plexos retinianos usando OCT-A, nenhuma alteração significativa foi encontrada na área da zona avascular foveal ao comparar os exames antes e depois da ingestão de chocolate amargo (p = 0,095) e da ingestão de chocolate ao leite (p = 0,502).  

A densidade de perfusão entre plexo capilar superficial, complexo vascular profundo e coriocapilar não mostrou nenhuma alteração significativa antes e depois da ingestão de chocolate amargo e chocolate ao leite.  

Discussão  

O oftalmologista é o único especialista que tem a oportunidade de visualizar e analisar diretamente os vasos da retina (arteriais e venosos), devido a isso, a análise multimodal, permite a avaliação direta de diferentes fatores e seus efeitos na microcirculação.  

Nesse estudo, foi utilizada uma avaliação de imagem multimodal, incluindo DVA e OCT-A, para identificar as mudanças funcionais e estruturais induzidas pela ingestão de chocolate amargo e cacau em comparação à ingestão de chocolate ao leite. Não foi identificado nenhuma alteração relevante na perfusão retiniana após o consumo de chocolate amargo ou ao leite. 

A análise realizada confirmou os resultados anteriormente encontrados, no qual não foram identificados benefícios da ingestão de chocolate amargo e cacau em patologias oculares, porque não houve nenhuma diferença significativa na densidade de perfusão de plexo capilar superficial, complexo vascular profundo e coriocapilar após a ingestão de chocolate amargo ou chocolate ao leite.  

Mensagem prática 

O chocolate amargo e o cacau, devido ao seu alto teor de flavonoides têm efeitos benéficos para o sistema cardiovascular e sistema nervoso central, pois têm efeitos redutores da pressão arterial sistêmica, otimizam a perfusão coronária, aumentam o fluxo sanguíneo na artéria cerebral e limitam a agregação de trombócitos.  

Os efeitos benéficos dos flavonoides na circulação sistêmica e coronária não foram reprodutivos na perfusão retiniana, portanto pacientes com doenças vasculares retiniana não devem ser incentivados ao consumo de chocolate amargo e o cacau.  

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Referências bibliográficas

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