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Nefrologia12 setembro 2025

CPN 2025: Os microplásticos podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares?

Um assunto apresentado no Terceiro dia do XXIII Congresso Paulista de Medicina, foi de associações que podem diminuir risco cardiovascular em pacientes renais crônicos.
Por Ester Ribeiro

A intoxicação investigada do século: plásticos tão, tão pequenos que a medicina só agora começa a enxergá-los — e eles já aparecem nas placas de ateroma. Um estudo multicêntrico publicado no New England Journal of Medicine mostrou que partículas de microplástico e nanoplástico foram detectadas em placas carotídeas removidas por endarterectomia, e que a presença dessas partículas esteve associada a um risco muito maior de eventos cardiovasculares graves nos anos seguintes. Essa pode ser uma pista que o que ingerimos pode literalmente ficar preso na parede arterial e estar relacionado a infarto, AVC e morte.  

Risco de inflamação

Como partículas estranhas, os “microplásticos” parecem atuar como “focos inflamatórios”: foram encontradas correlações com marcadores inflamatórios aumentados nas placas, e hipóteses plausíveis incluem reação local tipo corpo estranho, ativação de vias inflamatórias e estresse oxidativo — mecanismos que já conhecemos como centrais na fisiopatologia da aterosclerose. Ainda que o trabalho mostre apenas associação (não prove a causalidade), o padrão é perturbador e realmente precisa ser estudado com mais cuidado.  

A ponte entre observação humana e causalidade tem sido construída em modelos animais. Estudos em roedores expõem que microplásticos (poliestireno e outros polímeros) podem provocar disfunção endotelial, alterações lipídicas, inflamação vascular e alterações metabólicas — e há relatos experimentais de piora de parâmetros cardiovasculares após exposição prolongada. Esses achados em animais, reforçam a hipótese de que partículas ambientais possam acelerar doença vascular em humanos.  

Temos que considerar que Doença renal crônica (DRC) coloca o organismo em um estado pró-inflamatório crônico e reduz a capacidade de eliminar algumas substâncias; além disso, há evidências de que microplásticos podem causar lesão renal por estresse oxidativo e inflamação em modelos experimentais. Assim, a combinação DRC + exposição a microplásticos cria uma plausível sinergia — um ambiente onde partículas se acumulam, inflamam e amplificam o risco cardiovascular já elevado nesses pacientes.  

Alguns estudos animais, feitos na Unicamp, estão sendo feitos para investigar essa interação entre DRC e doença cardiovascular. Se confirmadas, as implicações clínicas seriam imensas: além de políticas públicas para reduzir a produção e exposição a plásticos, teríamos motivos para avaliar exposição ambiental como fator de risco modificável em pacientes com DRC e alto risco cardiovascular.  

Conclusão 

Talvez seja hora de pensarmos além dos fatores tradicionais de risco residual — glicemia, pressão, lipídios — e considerar possibilidades de “microinvasores” invisíveis que se alojam nas paredes arteriais? A resposta não é só científica; é política, ambiental e clínica. Enquanto a ciência tenta provar causalidade, clinicamente vale a advertência prudente: reduzir exposições desnecessárias, fortalecer vigilância em populações vulneráveis (como pessoas com DRC) e fomentar pesquisas no tema. A descoberta na NEJM não é o ponto final — é o sinal de partida para uma agenda de pesquisa e saúde pública que pode mudar como prevenimos doença cardiovascular nas próximas décadas.  

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