Durante o 23º Congresso Paulista de Nefrologia (CPN), nesta quinta-feira (11), a nefrologista Germana Alves de Brito, moderada pelas pesquisadoras Gianna Mastroianni e Cristiane Bitencourt Dias, apresentou um caso clínico que gerou uma discussão interessante.
Resumo do caso
Foi apresentado um caso de um paciente com GESF variante colapsante em contexto de neoplasia. Biópsia realizada, mas seguimento clínico prejudicado por dificuldade social e familiares pouco. Investigação para causas secundárias negativa até o momento.
Pontos-chave didáticos para clínicos e nefrologistas
- GESF colapsante é um padrão histológico, não uma única doença. Reúne etiologias heterogêneas (virais — HIV, SARS-CoV-2 —, drogas, isquemia, variantes genéticas como APOL1, e associações paraneoplásicas).
- Paraneoplasia renal: glomerulopatias paraneoplásicas são raras; quando presentes, frequentemente melhoram com tratamento efetivo do tumor. Em tumores hematológicos são mais descritas; em tumores sólidos são menos frequentes, mas podem preceder em semanas o diagnóstico oncológico. No caso do timoma, anos.
- Avaliação diagnóstica deve ser ampla e dirigida: além da biópsia, investigar causas infecciosas, revisão medicamentosa, rastreamento oncológico apropriado e, quando indicado, genotipagem APOL1 (avaliar sua utilidade conforme etnia e contexto local, como é mais útil em popupação negra e Brasil é muito miscigenado, pode ser necessário para todos).
- Microscopia eletrônica (ME) frequentemente faz falta: contribui para diferenciar subtipos e identificar alterações de podócito/epiteliais que a LM/IF podem não esclarecer. Avaliar enviar para ME se possibilidade no seu contexto.
- Comportamento clínico é variável: alguns pacientes têm progressão rápida para IR terminal (mais provável na variante colapsante); outros têm curso mais lento, o que altera escolha terapêutica.
Abordagem prática sugerida (fluxo para uso clínico)
- Confirmação histológica: revisar laudo; pedir microscopia eletrônica (ME) se possível.
- Avaliação de causas secundárias: HIV, HBV, HCV, SARS-CoV-2 (quando indicado), revisão de medicamentos (por ex. drogas oncológicas que podem causar proteinúria), pesquisa oncológica dirigida conforme história e idade.
- Avaliar rapidez da perda de função: se declínio rápido da TFG ou síndrome nefrótica franca → considerar terapia imunossupressora.
- Estudos genéticos: APOL1 em pacientes com ascendência africana ou miscigenação relevante; discutir utilidade com genética/terapêutica local.
- Suporte e terapia de base: antiproteinúria (IECA/BRAs, quando possível), restrição de sódio, diurético para edema, correção de distúrbios eletrolíticos e atenção nutricional.
- Terapia específica: altas doses de corticosteroide são frequentemente tentadas como primeira linha em formas agressivas; opções para resistência ou recaída incluem inibidores de calcineurina (ciclosporina/tacrolimo), rituximabe ou outras estratégias — individualizar conforme risco infeccioso, progressão do câncer e comorbidades.
- Integração com oncologia e assistência social: tratamento do tumor pode reverter a proteinúria; contexto social e aderência impactam diretamente prognóstico — coordene assistência multidisciplinar.
Para se atentar
- O padrão colapsante em paciente com neoplasia pode ser paraneoplásico. Avaliar clinicamente (tempo de aparecimento, resposta a tratamento do tumor, presença de outros marcadores). Como a GESF colapsante é rara e heterogênea — sempre busque causas secundárias antes de rotular como primária.
- A variante colapsante tende a ser mais agressiva; quando há evolução rápida, o uso de imunossupressores é mais frequente.
- A falta de ME foi enfatizada pela Dra. Gianna como limitação importante no caso apresentado — reforça a necessidade de exame complementar nas biópsias complexas. Ela pode orientar conduta.
- Importância crescente da onco-nefrologia como área de colaboração (Sociedade Americana de onco-nefrologia e workshops internacionais).
Recursos / evento
Ao final, para os que gostam da área, haverá workshop internacional em onco-nefrologia (organizadores locais) — inscrição/maiores informações: https://www.sympla.com.br/evento/onconefrologia-workshop-internacional-a-c-camargo/3003968
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