A Doença Renal Crônica (DRC) chega a afetar cerca de 16% da população mundial e é associada a altas taxas de morbidade e mortalidade, incluindo por causas cardiovasculares. A prevenção desses desfechos deve ser especialmente considerada em pacientes com DRC. As estatinas são uma classe de medicamentos comumente utilizada para esse fim em pacientes com diversos fatores de risco, ao reduzir as concentrações plasmáticas de colesterol. Mas será que sua prescrição traz benefício em pacientes renais crônicos?
Classicamente, todos os pacientes com DRC são considerados de alto risco cardiovascular. Assim, as principais referências da literatura médica, independente dos valores do perfil lipídico sérico do paciente, indicam o uso de estatinas como prevenção secundária. Demonstrou-se que a terapia com estatinas tem função cardioprotetora nesses pacientes. É papel estratégico da Atenção Primária à Saúde (APS) atuar nesse sentido, principalmente em pessoas que ainda se encontram nos estágios iniciais da doença.
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Apesar de muitas meta-análises já terem apontado que as estatinas apresentam efeito de diminuição de mortalidade geral em pacientes que vivem com DRC, estudos mais recentes, prospectivos, têm apresentado resultados conflitantes, que desafiam esse suposto benefício em pacientes renais crônicos.
Para reavaliar essa questão, um estudo de 2021, realizou uma nova revisão “guarda-chuva” de meta-análises de ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais sobre o assunto, reavaliando os dados de maneira abrangente, pesquisando sobre a associação entre o uso de estatinas e mortalidade geral e por causas cardiovasculares em pacientes em diferentes estágios da DRC.
O que os resultados nos mostram?
Avaliando separadamente pacientes em estágios iniciais da DRC, em diálise e transplantados, o estudo apontou uma associação significativa entre o uso de estatinas e a redução de mortalidade por todas as causas em pacientes com DRC inicial (risco relativo 0,77, IC 95% 0,69 – 0,87). Para pacientes em diálise, não foi observada associação (risco relativo 0,93, IC 95% 0,86 – 1,01, para causas cardiovasculares; risco relativo 0,98, IC 95% 0,89 – 1,08, para causas gerais); e para pacientes transplantados, a estatina foi associada a diminuição de mortalidade por causas cardiovasculares (risco relativo 0,67, IC 95% 0,50 – 0,90), mas não por todas as causas.
Assim, o estudo demonstra e confirma que o uso de estatinas parece, de fato, gerar benefício para pacientes com Doença Renal Crônica. Essa conclusão é ainda mais evidente para aqueles que ainda não se encontram no estágio da doença em que a diálise passa a ser necessária, que são justamente os pacientes com DRC mais comuns na APS. Ou seja, é exatamente nas fases iniciais da progressão da doença que a prescrição de estatina traz mais benefícios, devendo os médicos, portanto, estarem atentos para agir preventiva e oportunamente nesse sentido.
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