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Medicina de Família6 agosto 2025

Qual a quantidade ideal de passos diários para melhores resultados em saúde?

Estudo avaliou a relação entre o número de passos diários e desfechos como mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares, câncer, diabetes tipo 2, entre outros
Por Renato Bergallo

A relação entre atividade física e saúde é muito conhecida e foco de muitos estudos atualmente, sendo tema de crescente interesse global. Visando a busca por um estilo de vida mais ativo, diretrizes sobre atividade física frequentemente sugerem metas específicas, como a conhecida recomendação de 10.000 passos diários. Contudo, essa recomendação não possui uma base científica totalmente estabelecida em relação à magnitude de seus benefícios. Para compreender melhor essa questão, um recente estudo publicado no periódico The Lancet Public Health realizou uma ampla revisão sistemática com meta-análise investigando a associação entre a contagem diária de passos e diversos desfechos de saúde em adultos. 

Metodologia

O estudo avaliou de maneira prospectiva a relação entre o número de passos diários e os seguintes desfechos: mortalidade por todas as causas, doenças cardiovasculares, câncer, diabetes tipo 2, resultados cognitivos, saúde mental, função física e quedas. Foram analisadas 57 pesquisas prospectivas, provenientes de 35 coortes diferentes, abrangendo uma população significativa e diversa de adultos. 

Resultados

Resultados chave da meta-análise indicaram que, comparado a indivíduos que caminhavam 2.000 passos por dia, aqueles que alcançavam 7.000 passos apresentavam uma redução de 47% no risco de mortalidade geral (HR 0,53; IC95% 0,46-0,60). Além disso, foi observada uma diminuição significativa do risco de incidência de doenças cardiovasculares em 25% (HR 0,75; IC95% 0,67-0,85), mortalidade cardiovascular em 47% (HR 0,53; IC95% 0,37-0,77), mortalidade por câncer em 37% (HR 0,63; IC95% 0,55-0,72), incidência de diabetes tipo 2 em 14% (HR 0,86; IC95% 0,74-0,99), demência em 38% (HR 0,62; IC95% 0,53-0,73), sintomas depressivos em 22% (HR 0,78; IC95% 0,73-0,83) e quedas em 28% (HR 0,72; IC95% 0,65-0,81). 

A análise demonstrou relações não-lineares entre a contagem diária de passos e vários desses desfechos, com os chamados “pontos de inflexão” (quando o benefício incremental por cada passo começa a diminuir) entre 5.000 e 7.000 passos diários para a mortalidade geral e doenças cardiovasculares. Para demência e quedas, o ponto de inflexão ocorreu próximo a 8.800 passos. Já para câncer e diabetes tipo 2, as relações foram predominantemente lineares. 

Leia mais: Dieta saudável e atividade física para prevenção cardiovascular

Esses resultados sugerem que a recomendação clássica de 10.000 passos diários, embora benéfica, não necessariamente precisa ser a meta ideal ou única. O estudo indica que uma recomendação de um alvo intermediário de aproximadamente 7.000 passos possa fornecer benefícios clínicos substanciais e ser mais realista para uma parcela significativa da população, especialmente adultos mais velhos ou aqueles com limitações físicas. 

Por outro lado, análises de subgrupos indicaram diferenças potenciais no ponto ideal de contagem diária de passos dependendo da faixa etária e do dispositivo utilizado para a contagem. Adultos mais jovens demonstraram um benefício contínuo até contagens mais altas, enquanto adultos mais velhos tiveram benefícios claros já em níveis mais baixos de atividade. Essas informações são particularmente relevantes para personalizar recomendações de atividade física na prática diária.
Além dos dados quantitativos, o estudo também destacou questões práticas, como a facilidade de mensuração e comunicação associada à contagem de passos, em contraste às tradicionais recomendações baseadas em tempo de atividade moderada a vigorosa. Medidas “simples”, mais facilmente monitoráveis provavelmente possuem maior potencial de aderência na população geral. 

Conclusão

Como conclusão prática, o estudo traz o reforço de que aumentar a atividade física diária por meio da contagem de passos, mesmo em quantidades moderadas, está associado a benefícios expressivos para diversas situações de saúde. Médicos devem incentivar seus pacientes a adotarem níveis de atividade que sejam realistas e sustentáveis, entendendo que benefícios importantes parecem já ser alcançados com metas intermediárias, como 7.000 passos diários, sem necessariamente alcançar o alvo mais tradicionalmente recomendado dos 10.000 passos. Uma maior adesão às recomendações certamente irá contribuir para o atingimento de melhores resultados na saúde da população. 

 

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Referências bibliográficas

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