Exercício físico em meio à pandemia do coronavírus
A manutenção do exercício físico no contexto atual da pandemia do coronavírus juntamente à restrição de mobilidade e isolamento social é fundamental.
O exercício é conhecido por ter grande impacto no funcionamento do sistema imunológico. Exercícios moderados a intensos, feitos regularmente, tem mostrado melhora da resposta imunológica a vacinação, diminuição do estado inflamatório crônico e melhora dos diversos marcadores imunológicos de doenças como câncer, HIV, doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade.
Exercício físico durante coronavírus
A manutenção do exercício físico no contexto atual da pandemia do coronavírus juntamente à restrição de mobilidade e isolamento social é fundamental. Glicocorticoides, como o cortisol, são elevados durante os períodos de isolamento e confinamento e podem inibir muitas funções críticas do nosso sistema imune. A capacidade das células T de se multiplicarem em resposta a agentes infecciosos é reduzida, assim como a capacidade de certos linfócitos efetores de reconhecer e agir contra células defeituosas – cancerosas ou infectadas por vírus por exemplo.
Recentemente, em um trabalho desenvolvido por Richard J. Simpson e colaboradores, mostrou-se que os astronautas que tinham maior aptidão cardiorrespiratória antes do voo e resistência aos músculos esqueléticos antes de uma missão de seis meses na Estação Espacial Internacional eram menos propensos a reativar o EBV e o VZV durante a missão. Como conclusão do estudo, os autores descrevem o exercício, além de eficaz para melhora do papel do sistema imune, uma contramedida aos efeitos negativos do estresse do confinamento e isolamento.
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Cada sessão de exercício mobiliza células imunes, principalmente as efetoras, para reservatórios sanguíneos, como baço e medula óssea, para posteriormente migrar para órgãos e tecidos linfoides secundários como pulmões e intestino onde pode ser necessária maior defesa imunológica. Além disso, libera várias citocinas como IL-6, IL-7 e IL-15 que possuem como função o direcionamento do tráfego de células imunes para áreas de infecção, promovem a produção de novas células T do timo e estimula a produção de células T periféricas e NK.
Dessa forma, o exercício regular, trazendo uma recirculação frequente de células e estimulando sua produção através de citocinas pró-inflamatórias, em teoria, nos torna mais resistentes a infecções.
Recomendações para atletas
Com o surgimento da pandemia da Covid-19, a maneira de viver mudou. O trabalho de uma grande parte das pessoas passou a ser home office, o distanciamento social foi necessário e locais como parques e academias foram fechados em muitos lugares. No entanto, manter-se ativo é fundamental para manter-se saudável e controlar sintomas como ansiedade.
Abaixo, uma lista feita por especialistas na área de medicina esportiva para atletas, visando o bem-estar físico e mental, além da manutenção da boa regulação do sistema imunológico. Em seus atendimentos, oriente conforme as seguintes recomendações:
- Manter o sono regular, idealmente 8 horas por noite;
- Manter o treinamento, adaptando para as condições atuais, já que o exercício pode controlar sintomas de estresse e ansiedade. Há muitos aplicativos parta atividade física em casa que podem auxiliar no programa de treinamento;
- Manter uma dieta equilibrada e evitar a baixa disponibilidade crônica de energia, o que pode prejudicar o sistema imunológico;
- Manter-se bem hidratado e evitar cafeína a noite, para não interferir na qualidade do sono;
- Apontar para uma alta ingestão de frutas e vegetais (7-8 porções por dia). Estes contêm polifenóis e flavonoides, que têm um papel essencial na função imune respiratória e demonstraram reduzir a incidência de infecções do trato respiratório superior;
- Atentar aos níveis de vitamina D, já que sua suplementação pode ser particularmente importante nessa época do ano para reduzir o risco de infecção do trato respiratório;
- Os probióticos podem ser úteis na redução da incidência, gravidade e duração das infecções do trato respiratório superior;
- A suplementação de vitamina C demonstrou ser benéfica na prevenção e tratamento da pneumonia. Também demonstrou reduzir o risco de resfriado comum em estresse físico extremo (esquiadores e corredores de maratona) e reduzir a duração do resfriado comum na população em geral. Recomendamos tomar vitamina C 500 mg diariamente e aumentar para 1000 mg diariamente se você desenvolver sintomas (tosse persistente, febre, problemas respiratórios). Pastilhas de zinco também podem diminuir a duração dos resfriados;
- Os óleos de peixe contêm ácidos graxos essenciais e são importantes para manter um sistema imunológico saudável. Se você não tem peixe oleoso em sua dieta, então 1 g de Ômega 3 (DHA e EPA) diariamente também pode ser útil;
- Finalmente, e um dos pontos mais cruciais também é o mais simples – lave as mãos adequadamente por 20 segundos regularmente e lembre-se de evitar tocar seu rosto.
Referências bibliográficas:
- https://www.athleticsweekly.com/performance/expert-advice-coronavirus-guide-for-athletes-1039929061/
- https://www.acsm.org/blog-detail/acsm-blog/2020/03/30/exercise-immunity-covid-19-pandemic
- https://blogs.bmj.com/bjsm/2020/03/30/stay-calm-be-active-simple-ways-to-boost-your-physical-activity-during-covid-19/
- https://blogs.bmj.com/bjsm/2020/03/17/exercise-and-infectious-diseases-covid-19/
- Simpson, RJ. Exercise as a Countermeasure for Latent Viral Reactivation During Long Duration Space Flight. FASEB J. 2020
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