Cuidados paliativos na atenção primária à saúde
Cuidados paliativos fazem parte do escopo de atuação da atenção primária à saúde. Ambos, por definição, têm o trabalho em equipe como base.
Os cuidados paliativos fazem parte do escopo de atuação da atenção primária à saúde (APS). Tanto o cuidado paliativo quanto a APS têm por definição o trabalho em equipe como base do cuidado. E por que isso é tão importante?
Vamos falar sobre o controle sintomático em pacientes em cuidados paliativos (exclusivos ou não). Independente do sintoma, devemos entendê-los de forma integral, fazendo uma abordagem das esferas físicas, sociais, psicológicas e espirituais (figura abaixo).
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Esferas de abordagem
- Esfera física: engloba a busca pela etiologia dos sintomas, a avaliação minuciosa das patologias de base, possíveis danos das intervenções diagnósticas e terapêuticas. Anamnese e exame físico minuciosos são fundamentais, e os exames complementares podem ser úteis também;
- Esfera psicológica: medo do sofrimento, experiências traumáticas prévias, ansiedade e antecipação da dor e do desconforto que está por vir. Sentimentos de desesperança e desamparo agravam os sintomas. O desconhecimento da sua condição de saúde pode perpetuar o sofrimento psicológico;
- Esfera espiritual: questionamentos de sua fé. Negação ou barganha com Deus (ou com sua crença superior). Sentimento de culpa e busca do porquê estar acontecendo justamente com essa pessoa. Solidão e incertezas;
- Esfera social: entender e acolher a mudança do papel na família e na sociedade. Adaptação das novas condições de vida. Dependência de terceiros para seus cuidados e atividades básicas da vida diária. Relação com o trabalho. Dignidade. Preocupações financeiras, com pendências e planos futuros. Medo do julgamento do outro.
É improvável que apenas um profissional consiga abordar todas essas esferas do sofrimento humano. Sendo preciso cuidado, compaixão, conhecimento e diversos olhares para conseguir entender e manejar os sintomas de forma ampla e integral. É por isso que o trabalho em equipe, tanto na APS quanto nos cuidados paliativos, é indispensável. Não se faz isso sozinho. Negligenciar uma dessas esferas do sofrimento pode comprometer todo o controle sintomático.
A definição de cuidados paliativos da Organização Mundial da Saúde (OMS) contempla de forma clara a avaliação impecável dos sintomas: “Assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença ou agravo que ameace a continuidade da vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais“.
E quais são os sintomas mais comuns a serem manejados?
- Dor;
- Dispneia;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia e obstipação;
- Soluço, sialorreia;
- Alterações do apetite;
- Alterações do sono;
- Fadiga;
- Confusão mental;
- Sintomas depressivos ou ansiosos;
- Sintomas da pele.
Pensar que cada sintoma desse deve ser avaliado de forma global só reafirma a necessidade do trabalho em equipe e a importância do protagonismo e autonomia do paciente nas decisões sobre seus cuidados. O método clínico centrado na pessoa é uma ferramenta essencial, seguir seus quatro passos permite definir as prioridades de cuidado daquela pessoa, respeitando sua autonomia. São eles:
- Explorando a saúde, a doença e a experiência da doença.
- Entendendo a pessoa como um todo.
- Elaborando um plano comum de manejo.
- Intensificando a relação entre a pessoa e o profissional.
Sempre há o que fazer para melhorar as condições de vida das pessoas. E os atributos da APS reforçam essa ideia.
Mensagem final
Para conseguir avaliar e tratar de forma impecável os sintomas dos pacientes (e seus familiares) em cuidados paliativos na APS, é preciso um trabalho em equipe e colaborativo, pois cada questão tem, no mínimo, quatro esferas a serem consideradas: física, psicológica, espiritual e social. Levar em consideração os recursos disponíveis: profissionais, vínculo, redes de apoio, conhecimento da família, da comunidade e do território, insumos (medicamentos, materiais, etc.), e sempre lutar e advogar em prol da qualidade de vida da população que está sob os cuidados da equipe na atenção primária à saúde.
E você, tem dificuldade na abordagem sintomática dos pacientes em cuidados paliativos na atenção primária à saúde? Já atendeu algum caso de difícil manejo? Ficou com alguma dúvida?
Conte para nós nos comentários!
Referências bibliográficas:
- Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Manual de Cuidados Paliativos, 2ª edição. São Paulo: ANCP, 2012.
- Gusso G, Lopes JMC, Dias LC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática, 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2018.
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