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Medicina de Família3 setembro 2019

Como podemos nos comunicar de forma efetiva com pessoas em situação de rua?

Como as pessoas em situação de rua devem ser cuidadas? Como deve ser a comunicação com as mesmas nessa questão tão complexa e particular?

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

A situação de rua é definida como um grupo heterogêneo de pessoas que vivem em pobreza extrema, possuem vínculos familiares fragilizados/interrompidos e que não possuem moradia convencional regular (de forma temporária ou permanente). Infelizmente, esse contexto ainda é muito prevalente em nosso país. Como as pessoas nesta situação tão complexa e particular devem ser cuidadas? Como deve ser a comunicação com as mesmas?

O nosso modelo de ensino médico atual coloca, muitas vezes, o profissional no centro do cuidado e não o próprio indivíduo. Ele também nos ensina a sermos eficientes, rápidos e prontos para o mercado de trabalho. Por isso, as relações humanas médico-pessoa são cada vez mais desencorajadas, e tornam-se cada vez mais escassas e rasas.

No cuidado de pessoas em situação de rua, é perceptível que o mais importante não é seguir grandes “guidelines”, saber fazer a melhor prescrição, realizar um diagnóstico preciso. Mas, muitas vezes, é o toque, o olho no olho, comunicação não-verbal coerente, uma relação de iguais e não hierarquizada que fazem a diferença. Porque é isso que eles esperam de nós, profissionais de saúde. Desta forma, além das abordagens contendo Método Clínico Centrado na Pessoa e Entrevista Motivacional, alguns passos devem ser seguidos sempre, para que se conquiste a confiança da pessoa que está sob nosso cuidado:

  1. Dirija-se a ele(a) por seu nome;
  2. Respeite o tempo deles (nós profissionais é que estamos no ambiente deles, e devemos perguntar se eles querem ser ajudados);
  3. Escute as suas histórias de vida e se mostre interessado pelas mesmas;
  4. Respeite a dignidade de cada indivíduo;
  5. Seja persistente – essas pessoas vivem em um ambiente completamente hostil e aprendem, como mecanismo de proteção, a não confiar em outras pessoas, devendo essa barreira ser quebrada aos poucos;
  6. Oferte esperança, afeto, cuidado, e não só condutas médicas propriamente ditas;
  7. Não os julgue pelos seus hábitos e vícios – a Redução de Danos é o termo para este cenário;
  8. Tenha competência cultural – aprenda a linguagem da rua, conheça as suas maiores dificuldades, conheça as drogas, suas apresentações e formas de uso, isso faz com que eles se sintam representados.

Além das atitudes citadas acima, muitas outras podem e devem ser tomadas de acordo com as particularidades de cada situação (por exemplo, utilizando recursos locais, como amigos, líderes das comunidades etc.), buscando sempre o aumento do vínculo médico-pessoa, o que torna o cuidado mais satisfatório. Cabe citar que, geralmente, após a edificação de um vínculo forte, o profissional será sempre a referência daquele paciente, e este o procurará sempre que precisar de algo.

Por fim, merece uma reflexão o acesso restrito que essa população tem aos serviços de saúde. Por exemplo, a necessidade de acompanhantes para internações, endereço e telefone para cadastramento nos sistemas informatizados e para cadastro nas unidades de saúde de atenção primária, pouco ou nenhum treinamento dos profissionais nas particularidades da situação de rua, dificuldade de longitudinalidade do cuidado devido a constantes mudanças de local de moradia e horários de atendimento incompatíveis com os horários para “sobrevivência na rua”, entre outros.

Referências:

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