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O suicídio é um problema complexo de saúde pública que envolve gestores, famílias, escolas, universidades e igrejas. Ao imaginarmos o comportamento suicida, tendemos a estereotipar pessoas com humor deprimido, no entanto, apesar da importância da depressão nesse contexto, o risco de suicídio deve ser avaliado de forma ampla e não limitada a ciclos de vida, classe econômica ou grupos.
Não há dúvidas que a existência de transtornos mentais diagnosticados se constitui como um dos principais fatores relacionados. Dessa forma, o diagnóstico de depressão, transtornos de personalidade, esquizofrenia e alcoolismo por si só são situações-problema que associados a fatores sociais elevam o risco de comportamento suicida.
A Atenção Primária à Saúde, por acompanhar a população em seus vários ciclos de vida, em rearranjos de constituição familiar e situações de vulnerabilidade, torna-se o principal vínculo e acesso do paciente com comportamento suicida ao sistema de saúde. Todavia, na prática a maioria das equipes da Estratégia Saúde da Família e da Atenção Básica delegam a abordagem aos serviços de pronto-atendimento e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), provavelmente são resultados da ausência de políticas regionais de capacitação e suporte técnico e científico.
Estado mental suicida
Apesar dos modelos biomédicos de atenção à saúde estigmatizarem pacientes em estado mental suicida apenas como “pacientes suicidas”, novos modelos de atenção concordam que o mais correto seria a ideia de algo momentâneo e limitado temporalmente, uma vez que nem todos os pacientes possuem pensamentos suicidas constantemente. Na verdade, uma abordagem eficaz do estado mental suicida objetiva a prevenção do risco à vida, mas também redução dos estigmas que o próprio paciente adquire em relação a si mesmo.
Dessa maneira, o estado mental suicida pode ser caracterizado pela ambivalência que diz respeito à confusão de sentimentos, o desejo de viver e morrer se contrapõe, isto é, o indivíduo visualiza a morte como único método terapêutico da dor, entretanto, ainda mantém o desejo de viver. Para isso, o apoio emocional e o tratamento adequado do problema-base reduz o risco de suicídio.
Outra característica é a impulsividade, uma vez que o desejo de cometer suicídio é um impulso transitório desencadeado por eventos negativos relacionados à vida. Todavia, a recorrência do impulso se constitui como risco iminente, para isso auxiliar numa perspectiva otimista da vida ajuda ao profissional de saúde a ganhar tempo e controlar os fatores. Por fim, a rigidez dos pensamentos é outra peculiaridade desse estado mental, pois não conseguem visualizar algo além do sofrimento.
Como avaliar o risco?
A equipe de saúde deve ter alta sensibilidade na suspeição de um comportamento suicida, baseados nos principais fatores de risco, sendo necessário, portanto, avaliar os seguintes aspectos:
- Estado mental atual
- Diagnósticos prévios
- Uso de medicamentos
- Uso de álcool e outras drogas
- Pensamentos sobre morte e suicídio
- Plano suicida atual (como se chegou a esse plano, como se planeja realizar e quando o ato será realizado)
- Apoio social (família, amigos, escola, instituições religiosas, grupos comunitários)
É conveniente lembrar que perguntar sobre pensamentos de suicídio não estimula ninguém ao ato, e é obrigação de todo profissional de saúde para que o sujeito possa falar abertamente sobre o assunto.
Questões úteis
• Como perguntar? (Você se sente triste? Você sente que ninguém se preocupa com você? Você sente que a vida não vale mais a pena?)
• Quando perguntar? Quando a pessoa sente-se compreendida e confortável para falar sobre seus sentimentos.
• O que perguntar?
- Investigar se existe um plano definido para cometer suicídio.
- Investigar se a pessoa tem os meios para o ato.
- Descobrir se a pessoa fixou uma data.
Como abordar?
Baixo risco
Se o indivíduo teve alguns pensamentos suicidas de forma não recorrente, mas não fez nenhum plano. O que fazer? Oferecer apoio emocional, trabalhar sobre os sentimentos suicidas, focalizar nos aspectos positivos da pessoa, oferecer atendimento especializado, manter contato em intervalos regulares.
Médio risco
Se o indivíduo tem pensamentos e planos, mas não tem planos de cometer suicídio imediatamente. O que fazer? Oferecer apoio emocional, trabalhar sobre os sentimentos suicidas, focalizar nos aspectos positivos da pessoa e valorização da vida, explorar alternativas ao suicídio, realizar um contrato para que o indivíduo não cometa suicídio até uma data de retorno, oferecer atendimento em saúde mental e entrar em contato com a família, amigos e colegas, além de reforçar seu apoio.
Alto risco
Se o indivíduo tem um plano, possui os meios para concretizar, e planeja fazê-lo imediatamente. O que fazer? Permanecer próximo a pessoa, comunicar-se de forma empática com a pessoa e remover as pílulas, faca, arma, inseticida, etc.; estabelecer um contrato; realizar atendimento em saúde mental e hospitalização; informar a família e reafirmar seu apoio.
Sendo assim, não há justificativa de abstermos de abordar em nossa prática diária esse importante problema de saúde pública. Torna-se, assim, fundamental a criação de protocolos loco-regionais afim de facilitar o acolhimento, atendimento e fluxo desses pacientes na rede de saúde e reduzir os estigmas ainda prevalentes na equipe e comunidade.
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Referências;
- STELLITA-LINS, Carlos ; FORTES, S. L. C. L. ; MACHADO, H. S. V. ; PAIVA, M. B. P. ; ROCHA, H. A. ; MINOZZO, F. ; TEIXEIRA, D. S. ; CARAN, L. G. ; LIMA, L. . Avaliação do Risco de Suicídio e sua Prevenção Coleção Guia de Referência Rápida, Versão profissional. Série F. Comunicação e Educação em Saúde. 2016.
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